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Linguagista

Léxico: «tumbleweed»

Nuvens do deserto

 

      Já aqui falei dos saguaros, esses cactos colunares gigantescos, em forma de candelabro, dos filmes de cowboys, que se encontram no deserto de Sonora. Também do Arizona, e muito visto naqueles filmes, são o que em inglês se designa tumbleweed, que são ervas daninhas que andam por ali aos saltos enroladas em bola. Trata-se de um arbusto, de várias espécies, que se solta sozinho quando as sementes estão maduras, o que lhe permite — mais uma estratégia da sábia Natureza — espalhar sementes por quilómetros. Ah, sim, em português não tem nome, pelo menos tanto quanto sei. Em castelhano tem vários, e um deles, porventura o mais sugestivo, é rodadora. Belo achado. Que inveja!

 

[Texto 12 018]

Léxico: «taxódio»

Inteligência (natural ou artificial)

 

      Ora bem, no Jardim da Estrela, aonde não vou há anos, há um taxódio, uma conífera — mas no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora não há nenhum. Anda lá na promiscuidade (espero que não seja demasiado xenófobo) dos dicionários bilingues. Ainda não acharam o algoritmo que resolve esta grave falha.

 

[Texto 12 017]

Léxico: «ginkgo»

Assim a homenageiam

 

      É a mais antiga e venerada de todas as árvores, autêntico fóssil vivo, mas não está no dicionário da Porto Editora: «O vinho tinha um sabor amargo mas cheirava bem, recordando-me que, em minha casa, a Mãe, o Pai, a Irmã Grande e eu costumávamos sentar-nos sob um ginkgo e tomar uma bebida de cereais fermentados durante o Festival da Lua» (A Imperatriz da Lua Brilhante, Weina Dai Randel. Tradução de Manuela Madureira, Queluz de Baixo: Editorial Presença, 2017, p. 282).

 

[Texto 12 016]

Léxico: «calço»

Não faz parte dos travões

 

      «Aprendeu a cozer pão muito cedo, mas só depois da criação do Geoparque ganhou fama internacional como a “padeira de Lagoa” que recebe e põe visitantes a amassar para o forno a lenha, que cheira também a calços, roscas ou bolas sovadas» («Há um mar de pedras em Macedo de Cavaleiros que é um fenómeno mundial», Rádio Renascença, 11.08.2019, 13h10).

      Pão doce em forma de ferradura de Macedo de Cavaleiros — fora dos dicionários. Boa parte do País está esquecido, como já temos visto, resultado do urbanocentrismo bicéfalo.

 

[Texto 12 015]

Léxico: «relveiro»

Já o encontrei por aí

 

      «Bons, bons relveiros eram os jardineiros árabes que tinham de colocar sobre a areia do deserto a gramínea delicada» (Combateremos a Sombra, Lídia Jorge. Alfragide: Publicações Dom Quixote, 2013, p. 325).

 

[Texto 12 014]

Léxico: «salamandra-gigante-da-china»

As maiores

 

      «Até agora, a salamandra-gigante-da-china, a Andrias davidianus, era conhecida por ser o maior anfíbio do mundo. Contudo, num artigo publicado hoje na revista Ecology and Evolution, uma equipa de cientistas identificou duas novas espécies de salamandras-gigantes-da-china e sugere que uma delas pode ser o maior anfíbio do mundo, destronando a Andrias davidianus. [...] A salamandra-gigante é um anfíbio da família Cryptobranchidae, que divergiu de outros anfíbios durante o período Jurássico, entre há 200 milhões e 145 milhões de anos. Além das espécies de salamandra-gigante-da-china agora conhecidas, existem duas espécies reconhecidas de salamandras-gigantes – uma no Japão e outra nos Estados Unidos. Estes animais vivem nos rios e cursos de água e podem pôr 500 ovos de cada vez» («Nova salamandra-gigante pode ser o maior anfíbio do mundo», André M. Nóbrega, Público, 17.09.2019, p. 36).

 

[Texto 12 013]

Léxico: «magnetoterapia»

Cheira a intrujice

 

      «Andrey Rublev tinha atingido o seu ponto mais alto no ranking mundial, (31.o), em Fevereiro de 2018, quando uma lesão nas costas o atirou, literalmente, para o sofá. O russo fazia tratamentos de magnetoterapia de manhã e passava as tardes na sala de estar, sem fazer nada» («Rublev é o outro russo que também derruba gigantes», Pedro Keul, Público, 28.08.2019, p. 38).

   Ora, para o Dicionário de Termos Médicos da Porto Editora, magnetoterapia é o «método de tratamento por hipnotismo ou utilizando ímanes». Creio que é o único dicionário em que se lê semelhante definição. Sr. Rublev, hoje é o hipnotista ou o íman? Я не понимаю. Nem eu. До свидания! Sim, adeusinho.

 

[Texto 12 012]

Léxico: «bioanalítico | biodeteriogénico»

Ciência ignota

 

      Recentemente, ouvi no programa 90 Segundos de Ciência, na Antena 1, Teresa Caldeira, professora no Departamento de Química da Universidade de Évora, que está envolvida no estudo da biodegradação e da biodeterioração de obras de arte, assim como no desenvolvimento de metodologias e de ferramentas bioanalíticas. O objectivo final é que não especialistas possam reconhecer os grupos de organismos biodeteriogénicos que podem estar presentes nas obras. Das quatro palavras assinaladas, o dicionário da Porto Editora não regista duas, bioanalítico e biodeteriogénico.

 

[Texto 12 011]

Léxico: «triplo-duplo»

Agora com piruetas

 

      «Aos 22 anos, a ginasta norte-americana tornou-se a primeira pessoa a cumprir um duplo mortal com dupla pirueta na saída da trave e a primeira mulher na história a conseguir executar na perfeição um triplo-duplo mortal» («Simone Biles, a jovem ginasta que fez história com proeza nunca antes vista», Rádio Renascença, 12.08.2019, 22h08).

      Desde Novembro de 2018 que, por minha sugestão, triplo-duplo está no dicionário da Porto Editora — mas referente ao basquetebol. Aqui trata-se de outra coisa, cuja explicação li na revista Elle: «triple double, meaning a double back flip with three twists, on floor during a competition». Horas depois deste feito da ginasta norte-americana, até na imprensa portuguesa se lia o termo, que afinal pode induzir em erro, triplo-duplo. No Jornal de Notícias, vinha explicado o movimento, mas não foi usado o termo: «Até ontem, nunca uma mulher conseguiu fazer uma tripla pirueta com duplo mortal» («Simone Biles e quando ganhar já não é suficiente», Vasco Samouco, Jornal de Notícias, 13.08.2019, p. 47).

 

[Texto 12 010]

Léxico: «cucha»

Mais um regionalismo

 

      «Portugal vazio. O som de uma chave a dar a derradeira volta na fechadura de uma escola que morreu por falta de quem ali se emboldregasse. Uma cucha. Chamava-se Boneca. E Daniela, que nos reencontrou porque a recordámos. Uma história em flashback. Uma história com 13 anos. Uma história simples» («Uma história simples», Ivete Carneiro, Notícias Magazine, 11.08.2019, p. 27). Eu não conhecia — e tu também não, Porto Editora.

 

[Texto 12 009]