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Linguagista

Léxico: «borrachão»

Muito mais do que isso

 

      Borrachão, lê-se no dicionário da Porto Editora, é o «indivíduo que bebe muito; beberrão». Também é, mas não apenas: e o típico bolo seco da Beira Baixa, com o mesmo nome? E a filhó que leva vinho e aguardente? E o odre grande? E o corno de vaca com aplicação de fundo e rolha para transporte de líquidos? Já são muitos esquecimentos. Na verdade, são mais os esquecimentos que os lembramentos.

 

[Texto 12 036]

Léxico: «juiz relator»

Serve a presente

 

      «O “juiz relator” é o titular do processo, aquele a quem o processo foi distribuído, por sorteio, e que está encarregado de decidir as questões jurídicas colocadas pelo autor da ação ou pelo recorrente. As decisões judiciais podem ser singulares, quando tomadas por um só juiz, ou colegiais, no caso de estarmos perante um coletivo de juízes, que deve decidir em conjunto, por votação, cabendo ao relator, em diálogo com os membros do coletivo, elaborar a fundamentação do acórdão» («Quem guarda o guardador?», Maria Clara Sottomayor [jurista], Público, 23.09.2019, p. 20).

      Serve a presente para dizer que a definição de juiz relator no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora está errada: «juiz que redige os acórdãos das Relações ou do Supremo Tribunal de Justiça».

 

[Texto 12 035]

Léxico: «caga-milhões»

Aquilino sabia

 

      «A curiosidade moderna é polifágica. Brito Camacho apresenta-se com dois ou três livros na balança do juízo final e o justo crítico podia perguntar-lhe como o caga-milhões da parábola: — Em que empregaste os talentos que te dei?» (De Meca a Freixo de Espada à Cinta: ensaios ocasionais, Aquilino Ribeiro. Lisboa: Livraria Bertrand, 1960, p. 321).

      É usado, até como alcunha, de norte a sul do País, mas não o vejo dicionarizado. A Porto Editora apenas acolhe caga-na-saquinha, caga-sebo e caga-tacos, além, claro, de caga-lume. Comum também, e fora dos dicionários, é caga-notas.

 

[Texto 12 034]

Léxico: «intradiário»

Comum na negociação bolsista

 

      «É a perspetiva de que o custo de financiamento em euros vai ficar mais barato que pressionou a divisa nas últimas sessões em antecipação da reunião do BCE. Contudo, ontem registou uma ligeira subida. Hoje volta a cair com uma desvalorização de 0,11% para os 1,1135 dólares, atingindo um mínimo de maio, considerando apenas as cotações de fecho. Ontem na negociação intradiária o euro atingiu um mínimo superior a dois anos face ao dólar» («Abertura dos mercados: Águas paradas nos mercados. Bolsas europeias sobem e euro tropeça», Tiago Varzim, Jornal de Negócios, 26.07.2019, 09h35).

 

[Texto 12 033]

As aves esquecidas

Só o papa-amoras

 

      «São muitas as espécies de aves que migram nesta época do ano. Em Setembro e início de Outubro são, principalmente, as aves pequenas que se alimentam de insectos, como o papa-moscas-preto, o papa-moscas-cinzento, o chasco-cinzento, o cartaxo-nortenho e o papa-amoras» («As aves que estão a passar agora por Portugal», Helena Geraldes e Inês Sequeira, «P2»/Público, 22.09.2019, p. 22).

      Cinco aves — e só a última está no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora. É muito pouco.

 

[Texto 12 032]

Inventar, mas mal

Não seja complicado

 

      «As instruções que o acompanham, embora lógicas, sofrem de “complicatismo” – uma síndrome lexical própria da administração pública. A primeira frase, por exemplo, diz que o que temos em mãos é um “invólucro resposta/folha explicativa”. Será que é a resposta que explica ou a explicação que responde?» («Origami eleitoral», Ricardo Garcia, Público, 22.09.2019, p. 10).

      Pois, mas não: onde foi Ricardo Garcia buscar o t, saberá dizer-nos? Se deriva de «complicado», só pode ser «complicadismo». Assim, vê-se que o jornalista sofre da doença que descreve.

 

[Texto 12 031]

Léxico: «plangaio»

Se até há um festival...

 

      «O Festival do Plangaio e do Maranho tem como objetivo promover os dois produtos típicos da região de Sobreira Formosa, em Proença-a-Nova. Decorre nos dias 28 e 29 deste mês» («Sobreira Formosa», «Sexta»/Correio da Manhã, 20-26.09.2019, p. 45).

      O mais próximo que o dicionário da Porto Editora regista é «pangaio»; não chega nem serve. O plangaio é semelhante ao maranho. Característico é ter entre os seus ingredientes farinha de centeio e ossos da suã cortados em pedacinhos. Às tantas, também o legislador desconhece que temos este enchido, ou provavelmente proibi-lo-ia — com receio de que os seus caros concidadãos se engasguem e deixem de pagar impostos.

 

[Texto 12 030]

Léxico: «denisovano»

Não se conforma

 

      «Desaparecidos há cerca de 30 mil anos, os denisovanos viveram no Norte, Leste e Sudeste da Ásia. [...] Em 2010, as análises ao ADN desses ossos reconheceram oficialmente os denisovanos como uma espécie humana. Já em Maio deste ano foi anunciada a descoberta da parte direita da mandíbula na gruta Baishiya Karst [no Tibete]. Esta foi a primeira vez que se encontrou um fóssil de um denisovano fora da Sibéria» («Assim seriam os denisovanos, uma espécie de humanos já extinta», Teresa Sofia Serafim, Público, 20.09.2019, p. 52).

      Parece, porém, que o laboratório científico da Porto Editora chegou a outras conclusões: «ANTROPOLOGIA designativo de uma possível espécie de hominídeo, que terá vivido em zonas onde também viveram o homem moderno e o neandertal e cujos fósseis foram descobertos em Denisova, na Sibéria».

 

[Texto 12 029]

Léxico: «desabastecimento»

É o contrário

 

     «A indústria alimentar britânica advertiu na semana passada que uma rutura sem acordo com a UE poderia provocar o desabastecimento [shortages] no país durante “semanas ou meses”» («Um em cada cinco britânicos armazena alimentos e medicamentos pela incerteza do Brexit», Rádio Renascença, 12.08.2019, 22h45).

 

[Texto 12 028]