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Linguagista

Léxico: «A Internacional»

Não é bem assim

 

      «A Internacional é um hino cuja letra original foi escrita em francês, em 1871, por Eugène Pottier, que foi um dos membros da Comuna de Paris, o primeiro governo operário da história. [...] Mas A Internacional não é cantada apenas por comunistas. Também socialistas, sociais-democratas e anarquistas em todo o mundo adotaram a Internacional como hino» («O Hino que dois partidos dizem que é seu», Pedro Tadeu, TSF, 24.09.2019, 20h14).

       Assim é, mas a Porto Editora adoptou certa perspectiva contrariada por outros dicionários: «[com maiúscula] hino revolucionário dos trabalhadores socialistas». Salvo melhor opinião, do título faz parte o artigo definido — A Internacional. Ora, nem nos estatutos do PS está correcto. Já nos estatutos do PCP está certo: «O hino do Partido é A Internacional» (Art. 73.º). Assim se vê a força do PC.

 

[Texto 12 067]

Léxico: «xarabaneco | trolé»

O que andamos a desprezar

 

      Vi recentemente, na RTP2, o episódio 14 do programa Madeira Prima. O convidado era o marionetista Manuel Costa Dias, que, a certo ponto, disse que nome têm as marionetas. No Norte, disse, dá-se-lhes o nome de xarabanecos; no Sul, são os bonecos da cachaporra; no Centro, são os trolés. Que dicionário nosso acolhe estes nomes? Nenhum. E depois gostamos de falar do incomparável léxico do inglês. Pois, pois...

 

[Texto 12 066]

Léxico: «barquete»

Mais navios

 

      Desfiado de frango cozido em barquete da Avibom, embalagem de 350 gramas. Barquete, «pequeno barco», mas aqui é uma embalagem para produtos alimentares em forma de pequeno barco. Hum, a Porto Editora apenas regista «barqueta»... Mas, vamos lá ver, já Filinto Elísio, na tradução da obra Da Vida e Feitos de el-rei D. Manuel, de Jerónimo Osório, usou o termo como sinónimo de «barqueta», e já andou pelos dicionários.

 

[Texto 12 065]

Léxico: «averomarense»

A ver navios

 

      «O casal é de Famalicão e, todos os anos, aluga casa ali em Aver-o-Mar por 15 dias, já lá vão 15 anos» («Concessionário burlou os clientes e desapareceu», Ana Trocado Marques, Jornal de Notícias, 17.08.2019, p. 19).

      Há variantes, e uma delas é Averomar, que legitima ainda mais o vocábulo averomarense, que os dicionários ignoram, mas que qualquer averomarense usa, pois claro. Ficamos a ver navios.

 

[Texto 12 064]

Léxico: «melosa | amarguinha»

Temos a receita

 

      «No Tasco há bolos caseiros, como o pão-de-ló ou o bolo de canela e mel, assim como licor de medronho, melosa (de medronho e mel) e de laranja (produzido pelo próprio director, um holandês que já viajou e trabalhou pelos quatro cantos do mundo)» («As águas de Monchique pedem calma e apelam ao bem-estar», Bárbara Wong, «Fugas»/Público, 6.07.2019, p. 21).

      Sim, a melosa é um licor típico e secular do Algarve, ainda que nos nossos dicionários não passe de adjectivo delico-doce. Tão típico e secular como a amarguinha, que os dicionários também ignoram. «A sweet bitter-almond liqueur from the Algarve, ideal as an apéritif or digestive», lê-se no Top 10 Algarve, um dos guias da DK. Os estrangeiros é que conhecem as nossas tradições e a nossa língua.

 

[Texto 12 062]

Léxico: «confessionário», adjectivo

Comprovo que sim

 

      «Apesar da “declaração parcialmente confessionária” da ré, o coletivo de juízes “não apurou o motivo pelo qual a arguida agiu”, tendo Carolina Girão referido que a sentença era de “19 anos de prisão” num quadro de moldura penal que ia de 12 a 25 anos de cadeia» («​Professora condenada a 19 anos de prisão por matar marido», Rádio Renascença, 16.08.2019, 13h39).

      Em Direito, usa-se lá de quando em quando — e depois vem para a imprensa —, mas nenhum dicionário a regista. Ainda assim, há dicionários que registam quatro acepções de confessionário, quando a generalidade só acolhe uma.

 

[Texto 12 061]

Léxico: «citrícola»

Outra vez: o VOLP da ABL tem

 

      «O Algarve continua a ser a principal região produtora de citrinos. Segundo a Direcção Regional de Agricultura e Pescas do Algarve, representa 76,4% da área citrícola nacional. No ano passado atingiu as 5148 toneladas. Porém, os pomares de abacateiros têm vindo a aumentar de forma exponencial» («“Fala-se muito, faz-se pouco”», Idálio Revez, Público, 16.09.2019, p. 23).

 

[Texto 12 060]