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Linguagista

Léxico: «esnoga | fazer esnoga»

Com que então, sinónimos...

 

      É um pouco surpreendente que o dicionário da Porto Editora de esnoga apenas diga que é o «templo hebraico ou assembleia de fiéis israelitas; sinagoga». Isto pode levar criancinhas — ou o coreano das minhas relações — a optar por usarem «esnoga» em vez de «sinagoga». Conformam-se com as consequências? A grafia «esnoga» está intimamente relacionada com a dificuldade de alguns judeus forasteiros em pronunciarem a palavra portuguesa «sinagoga». Isto, por um lado; por outro, útil mesmo seria os nossos dicionários acolherem a expressão fazer esnoga, que significava reunir-se para praticar clandestinamente os ritos da religião judaica.

 

[Texto 12 085]

Léxico: «benefício da excussão»

Quase juridiquês

 

      «O fiador é aquele que responde como devedor quando este não consegue mais pagar a dívida. Ou seja, assume-se como garantia perante o banco, assegurando, com o seu património pessoal, o pagamento daquela dívida. Mas, já ouviu falar do benefício da excussão prévia? É o que pode salvar o fiador de ficar com um enorme encargo adicional e, em alguns casos, com menos património... Ou nenhum. [...] De acordo com este benefício, o credor deve, antes de tudo, esgotar todo o património do devedor principal. Só depois deverá bater à porta do fiador. Contudo, o devedor principal pode renunciar a este benefício. E a verdade é que a maioria o faz, mesmo sem saber» («É fiador? Conheça o benefício da excussão prévia», Marta Grosso, Rádio Renascença, 30.09.2019).

      Isto é importante, e não está muito bem explicado nos dicionários. Lê-se no dicionário da Porto Editora: «DIREITO acto de excutir; execução judicial dos bens dados em garantia pelo principal devedor». Chama-se benefício da ordem ou da excussão (é este o nome no nosso Código Civil), e é uma das excepções dilatórias oponíveis pelo fiador ao credor. Consiste, como o artigo explica bem, em o fiador não ser obrigado, desde que o invoque, a pagar a dívida afiançada sem que primeiro sejam vendidos os bens do devedor, se este os tiver, claro. E é assim, como bem se compreende, porque a fiança tem natureza subsidiária. Ao contrário do que pode dar a entender o artigo acima, o nome não é benefício da excussão prévia, mas simplesmente benefício da excussão. Imagino que aquela designação venha da interpretação do artigo 830.º do Código Civil de 1867, o chamado Código de Seabra: «O fiador não pode ser compelido a pagar ao credor, sem prévia excussão de todos os bens do devedor.» Os lexicógrafos têm aqui elementos suficientes para redigir uma definição capaz, correcta e útil. Tal como está, não anda longe de juridiquês puro.

 

[Texto 12 084] 

Léxico: «volume morto»

Interessa saber

 

      «A Barragem de Odeleite encontra-se a 43, 3% da capacidade de armazenamento, mas a partir da cota 22 já é considerado “volume morto” (não-utilizável). A Barragem do Beliche fica-se pelos 36%» («No final do século, o Algarve terá menos 83% de água», Idálio Revez, Público, 16.09.2019, p. 22).

 

[Texto 12 082]

Léxico: «congruente»

Foi por pouco

 

      «Em geometria chamam-se congruentes a duas figuras que têm a mesma forma e o mesmo tamanho, ou quando uma delas é a imagem da outra ao espelho» («Equidistância», Luís M. Faria, «Revista E»/Expresso, 11.08.2019, p. 12).

      No dicionário da Porto Editora, estamos perto de saber isto. No verbete congruência, lemos esta acepção: «MATEMÁTICA relação binária que se traduz pela sobreponibilidade de duas figuras geométricas». Pois, e isto. Em congruente, porém, só encontramos a acepção matemática relativa aos números congruentes. Incongruente.

 

[Texto 12 081]

Léxico: «carrega»

Do Brasil...

 

      A Porto Editora tem de saber: no Porto, há o Jardim do Carregal. Aliás, por todo o País há dezenas de lugares com este nome. Ora, carregal, como nome comum, designa o terreno ou sítio encharcado ou à beira de ribeiro, onde abunda uma planta ciperácea chamada cárrega ou carrega. Para o dicionário da Porto Editora, contudo, carrega é somente a «planta poácea do Brasil». Para o investigador e divulgador Horácio Marçal (1906-1988), o topónimo Carregal derivaria de carrega, «planta gramínea dos terrenos alagadiços». Hum, e estamos de novo perante a antiga paixoneta da Porto Editora pelo Brasil...

 

[Texto 12 079]

Léxico: «arrábido»

Bom para confundir

 

      O botânico Avelar Brotero (1744-1828) estudou em Mafra com os religiosos arrábidos e, mais tarde, frequentou a Universidade de Coimbra. Ora bem, uma pessoa menos informada que consulte o verbete arrábido no dicionário da Porto Editora (e noutros, como poderão comprovar) vai ficar com informação insuficiente: «relativo ao convento que se ergue na encosta sul da serra da Arrábida». Perante isto, ou procura noutra fonte ou encolhe os ombros.

 

[Texto 12 078]