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Linguagista

Léxico: «protoplanetário»

Pois se têm «protoplaneta»...

 

      «E no que consiste? A partir do disco protoplanetário — isto é, de um disco de poeiras e gases onde surgirão planetas e que envolve a estrela — começa por formar-se um núcleo relativamente maciço de metais. Quando já tem uma certa massa, esse núcleo consegue atrair gases de forma muito rápida. Surgem assim planetas gasosos e maciços» («Descoberto exoplaneta gigante em torno de uma pequena estrela», Teresa Sofia Serafim, Público, 30.09.2019, p. 31).

 

[Texto 12 093]

Léxico: «dorsometacarpiano | dorsometacárpico»

Aproximações

 

      «Alguns dos músculos que se perderam são os chamados “dorso-metacarpais” (entre o carpo e os dígitos) na mão, que desapareceram dos nossos antepassados adultos há mais de 250 milhões de anos durante a transição dos répteis para os mamíferos» («Músculos perdidos há 250 milhões de anos ainda se formam nos embriões humanos», Teresa Sofia Serafim, Público, 1.10.2019, 12h41). «Segundo os resultados da investigação, alguns dos músculos das mãos e pés que já não existem quando nasce a criança, mas que são visíveis nos fetos, como os ‘dorsometacarpales’ (entre o carpo e os dígitos), foram perdidos na evolução dos ancestrais adultos há mais de 250 milhões de anos, nas transições que levaram ao aparecimento dos mamíferos» («Cientistas descobrem músculos nos embriões que desaparecem após o nascimento», TSF, 1.10.2019, 11h57).

      Num caso, tentaram dizê-lo (com péssimo resultado) em português; no outro, nem isso. É muito simples: não falamos, por exemplo, em ossos metacarpianos ou metacárpicos? Então, será dorsometacarpiano ou dorsometacárpico. Bom seria que os lexicógrafos atentassem nestas lacunas e dificuldades dos próprios jornalistas.

 

[Texto 12 092]

Léxico: «arméria-das-berlengas»

Mais sobre as Berlengas

 

      «Refere-se aos pequenos tufos verdes conhecidos como arméria-das-berlengas, à amarela pulicária ou à herniária, “muito difícil de encontrar”» («Nas Berlengas, longe de tudo», Rute Barbedo, «Fugas»/Público, 13.07.2019, p. 7).

      Difícil de encontrar, mas a única que não está no dicionário da Porto Editora é a arméria-das-berlengas (Armeria berlengensis).

 

[Texto 12 091]

Léxico: «perplexizante»

Sempre ao contrário

 

      «À TSF, o socialista Pedro Delgado Alvea diz que a “dualidade de critérios” de Rio é “surpreendente e perplexizante [sic]”» («PS diz ser “perplexizante” que Rio não tire consequências de assinaturas fantasma», Dora Pires e Gonçalo Teles, TSF, 1.10.2019, 18h00).

      O sic é dos jornalistas, não meu. Quando deviam corrigir ou assinalar erros, não o fazem; neste caso, já o usam. Deve ser para seguir a errada lição do Ciberdúvidas, que há quatro anos afirmou tratar-se de neologismo. Na realidade, perplexizante não apenas está bem formado, como é empregado, sobretudo em estudos literários, ensaios, há décadas. Enfim.

 

[Texto 12 089]

Léxico: «marchador»

Assim não marcha

 

      «A madrugada de ontem foi histórica para João Vieira e para Portugal. A primeira (e única até à data) medalha nacional nos Mundiais de atletismo que decorrem em Doha foi alcançada na duríssima prova dos 50 km marcha. Único representante português no sector masculino, o experiente marchador do Sporting fez uma corrida de trás para a frente e arrecadou a medalha de prata, o melhor resultado da carreira aos 43 anos» (N. S., Público, 30.09.2019, p. 12).

      Para o dicionário da Porto Editora, marchador é «que ou aquele que marcha», e mais não diz.

 

[Texto 12 088]

Léxico: «capucho | tomate-capucho | rebuçado»

Misteriosíssima

 

      «“Alquequenje.” A palavra foi um travalínguas [sic] que fez a eslovaca Miroslava Petrovská passar noites em claro numa desafiante busca. Encontrou-a numa obra de Saramago, autor que traduzia para eslovaco. “Pelo contexto, eu percebi que se tratava de um produto ou de uma substância curativa, mas não encontrei a palavra correspondente ou o que era exatamente”, recorda a tradutora à TSF. Anos mais tarde, o dia de confrontar o escritor português com aquela escolha chegou. Quando lhe perguntou pela “misteriosa substância”, o autor riu e disse ter descoberto o produto numa enciclopédia brasileira muito antiga. “Gostei tanto desta palavra que a utilizei”, justificou» («Das obras de Saramago ao Parlamento Europeu. Traduzir é profissão invisível», Catarina Maldonado Vasconcelos e Sara de Melo Rocha, TSF, 30.09.2019, 9h33).

      A misteriosa substância (cuja grafia é, em Portugal, alquequenge) é o fisális... Nos Açores, o fisális é conhecido por rebuçado — mas tal informação nunca chegou aos dicionários do continente. No continente, é conhecido por capucho ou tomate-capucho, mas, até hoje, também não chegou ao conhecimento dos lexicógrafos.

 

[Texto 12 087]