Quase inúteis
«Não, pelo contrário. O papo-seco desapareceu com ele. Era um pão muito bonito, barrigudo, com um vinco ao meio e as pontas aguçadas. Por isso lhe chamavam “pão com maminhas”. Era um pão pequeno, leve, com uns 50 gramas, porque o Salazar decidira baixar o peso do pão nos anos 50, com a falta de cereais, para não mexer no preço. Mais tarde, para poupar dinheiro com a mão de obra, o engenheiro Vítor Moreira acabou com as maminhas do papo-seco. O que Vítor Moreira inventou foi a carcaça, que é um papo-seco sem maminhas» [diz Mouette Barboff, que é «a pessoa que mais estudou o pão tradicional em Portugal, apesar de ser de nacionalidade francesa e de ter ascendência grega [...] doutorou-se em Etnologia-Antropologia Social, em Paris, mas tem passado os últimos anos em Portugal, onde estudou a cultura e as técnicas de padeiros tradicionais, do Algarve a Trás-os-Montes»] («“Gostava que voltassem a fazer o verdadeiro papo-seco”», Ricardo Dias Felner, «Revista E»/Expresso, 2.10.2019, p. 124).
Recorrendo apenas aos dicionários é que não se vai longe no conhecimentos dos nossos pães. Para o dicionário da Porto Editora (mas todos, como por milagre, dizem mais ou menos o mesmo), papo-seco é o termo popular para o «pão pequeno de farinha de trigo fina», e carcaça é o «tipo de pão de tamanho médio, oval, e com extremidades arredondadas». Bah...
[Texto 12 115]