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Linguagista

Léxico: «nicho ecológico»

Claro que não é

 

      «Mas não tem dúvidas que a vespa asiática está a ocupar o nicho ecológico (local onde vive uma espécie) das vespas europeias. “Para que a vespa asiática se esteja a expandir há outras espécies de vespas que estão a diminuir na mesma proporção, ou numa proporção superior”» («“Problema real.” Pragas agrícolas podem descontrolar-se com a vespa asiática», TSF, 5.10.2019, 11h28).

      Não, o conceito de nicho ecológico não é o referido no artigo. Pena é que os dicionários só tenham espaço para definir «nicho de mercado».

 

[Texto 12 118]

Léxico: «rating | notação»

Grande defeito

 

      «A agência de rating DBRS reviu esta sexta-feira em alta o rating de Portugal para “BBB Alto”, com perspetiva estável. Em plena véspera de eleições legislativas, trata-se do nível mais elevado dos últimos oito anos, recolocando assim a agência canadiana como a que avalia o país numa classificação mais alta. [...] O rating é uma classificação atribuída pelas agências de notação financeira que avalia o risco de crédito (capacidade de pagar a dívida) de um emissor, que pode ser um país ou uma empresa» («DBRS sobe rating de Portugal», Rádio Renascença, 4.10.2019, 21h24).

      A definição de rating no dicionário da Porto Editora só tem um defeito: não se usa nela a palavra «notação»: «avaliação da credibilidade e da capacidade de cumprimento das responsabilidades financeiras de uma entidade ou de um país feita por uma empresa especializada ou por um grupo de especialistas».

 

[Texto 12 117]

Léxico: «camuflado | multiterreno»

Novos uniformes

 

      «Os militares das várias armas do Exército vão passar a ter uma farda de serviço cinzenta e boina preta com as cores da bandeira nacional nas fitas, substituindo o tradicional fardamento verde usado desde a guerra colonial (1961-1974). Também as botas vão mudar, com a substituição das atuais pretas de cabedal por outras de cor castanha. [...] Outra alteração significativa diz respeito aos camuflados, também conhecido como uniforme n.º 3 ou de campanha. Os dois em serviço – um mais bege para áreas desérticas e outro mais verde para a selva – são substituídos por um único de tecido mais confortável e em tons esverdeados e acastanhados que funciona como “uma espécie de camaleão” por se adaptar a diferentes tipos de ambiente operacional, explicou um oficial» («Exército vai ter novo look. É o fim das fardas verdes e boinas castanhas», Manuel Carlos Freire, Diário de Notícias, 2.10.2019, 21h35).

      O mais inacreditável é o dicionário da Porto Editora não registar camuflado como substantivo. Para aquele uniforme de campanha a portaria fala em «padrão camuflado «multiterreno», «com duas tonalidades de verde, duas de castanho e bege».

 

[Texto 12 116]

Léxico: «papo-seco | carcaça»

Quase inúteis

 

      «Não, pelo contrário. O papo-seco desapareceu com ele. Era um pão muito bonito, barrigudo, com um vinco ao meio e as pontas aguçadas. Por isso lhe chamavam “pão com maminhas”. Era um pão pequeno, leve, com uns 50 gramas, porque o Salazar decidira baixar o peso do pão nos anos 50, com a falta de cereais, para não mexer no preço. Mais tarde, para poupar dinheiro com a mão de obra, o engenheiro Vítor Moreira acabou com as maminhas do papo-seco. O que Vítor Moreira inventou foi a carcaça, que é um papo-seco sem maminhas» [diz Mouette Barboff, que é «a pessoa que mais estudou o pão tradicional em Portugal, apesar de ser de nacionalidade francesa e de ter ascendência grega [...] doutorou-se em Etnologia-­Antropologia Social, em Paris, mas tem passado os últimos anos em Portugal, onde estudou a cultura e as técnicas de padeiros tradicionais, do Algarve a Trás-os­-Montes»] («“Gostava que voltassem a fazer o verdadeiro papo-seco”», Ricardo Dias Felner, «Revista E»/Expresso, 2.10.2019, p. 124).

      Recorrendo apenas aos dicionários é que não se vai longe no conhecimentos dos nossos pães. Para o dicionário da Porto Editora (mas todos, como por milagre, dizem mais ou menos o mesmo), papo-seco é o termo popular para o «pão pequeno de farinha de trigo fina», e carcaça é o «tipo de pão de tamanho médio, oval, e com extremidades arredondadas». Bah...

 

[Texto 12 115]

Léxico: «ndebele | soto | venda | banto»

Deve ter centenas de casos destes

 

      «Mas, se lhe perguntarem qual a língua oficial de Espanha, o que responde? Espanhol. Está certo, mas incompleto. O espanhol ou castelhano é a língua oficial em termos nacionais, mas há mais línguas oficiais, de cariz regional: galego, basco, catalão e occitano ou aranês» («Sabe qual é o país com mais línguas oficiais?», Marta Grosso, Rádio Renascença, 3.10.2019). A Porto Editora ignora aranês. Mais um excerto do artigo: «Mas o país recordista de línguas oficiais é a África do Sul. Tem 11: africâner, inglês, ndebele, xhosa, zulu, soto setentrional, soto meridional, tsuana, suázi, venda e tsonga.» Neste caso, não regista ndebele, soto e venda. Pior: de tsonga, diz-se que é a «língua banta falada pelos Tsongas»; de xhosa (e não se percebe o itálico), que é a «língua tonal da família banto, falada pelos Xhosa [sic], caracterizada pelos sons consonantais que se assemelham a estalidos».

 

[Texto 12 114]

Léxico: «graciano | Gracianos»

E outra

 

      Outra que me ocorreu agora: «Por isso creio que os Gracianos foram os primeiros mestres dos Calipolenses em ler e escrever e mais tarde noutros ramos da instrução secundária» (Memórias de Vila Viçosa, Joaquim José da Rocha Espanca. Vila Viçosa: Câmara Municipal de Vila Viçosa, Vol. 28, p. 14). São os Frades Eremitas Calçados da Ordem de Santo Agostinho, chamados Gracianos por a sua ordem ter a sede no Convento da Graça, em Lisboa.

 

[Texto 12 113]

Léxico: «neo-sacerdote»

Mais uma ignorada

 

      Há palavras que se usam e conheço há décadas e que nenhum dicionário acolhe. Por exemplo, neo-sacerdote. Qual foi a última vez? Há dias: «No dia 17 de Outubro, Festa de Nossa Senhora do Rosário, querendo Deus, o já neo-sacerdote Paulo Fonseca celebrará, a nível interno, no Mosteiro Scala Coeli, em Évora, a Missa de Acção de Graças, com a Comunidade Cartusiana» («Partida de Évora dos Monges Cartuxos», A Defesa, 2.10.2019, p. 6). Como se percebe, neo-sacerdote é aquele que acaba de ser ordenado.

 

[Texto 12 112]