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Linguagista

Léxico: «curumbi»

Mais um sinal de incúria

 

    É isso mesmo: não temos também uma rica literatura indo-portuguesa? Então, como é que não se registam nos dicionários os termos que nela podemos encontrar? Por exemplo, lido ontem mesmo por mim, curumbi (com as variantes curumbim, curumi, curumim), que designa o membro, na Índia, da casta sudra de agricultores na costa ocidental, ou, enfim, e mais genericamente, o agricultor. (E no Brasil é o menino ou jovem rapaz). Em livros de Orlando da Costa (1929-2006), pai do actual primeiro-ministro, vamos encontrar a palavra. Não a dicionarizamos?

 

[Texto 12 205]

Léxico: «carga policial»

Carga de trabalhos

 

      «Nova carga policial na Via Laietana, um jovem detido. Vários manifestantes atiram ovos e farinha aos polícias no terreno» («Greve geral na Catalunha em direto. Carga policial na Via Laietana, um jovem detido», Joana Gonçalves, Rádio Renascença, 18.10.2019, 16h08).

      Por que carga de água carga não está registado no dicionário da Porto Editora nesta acepção? O tal coreano não vai perceber. O sentido mais próximo é o «MILITAR ataque final a uma posição inimiga». Não chega.

 

[Texto 12 202]

Léxico: «libidinal»

Nos bilingues está...

 

      «A exaltação corpórea, física, sensual, libidinal, integra a estratégia textual de construir uma imagem poderosa do negro ou mestiço, em contraposição ao linfatismo do branco» (A Negritude Africana de Língua Portuguesa, Pires Laranjeira. Lisboa: Edições Afrontamento, 1995, p. 481).

 

[Texto 12 201]

Léxico: «plaqueta»

Francês à força

 

      Tenho aqui à minha frente a bela plaqueta Eros de Passagem (1968) de Eugénio de Andrade, que me foi oferecida neste fim-de-semana. Pois bem, Porto Editora, onde encafuaste este sentido de plaqueta? Ou temos de escrever em francês, plaquette, «ouvrage comportant un nombre limité de pages»?

 

[Texto 12 200]

Léxico: «euro-americano»

Um pouco mais

 

      «Resultados semelhantes foram obtidos por Judd e colaboradores (1995) numa investigação sobre a percepção de variabilidade grupal e etnocentrismo com afro-americanos e euro-americanos: o etnocentrismo foi significativo nos participantes afro-americanos, enquanto os participantes euro-americanos se mostraram ligeiramente mais favoráveis face ao exogrupo do que face ao endogrupo» (Preto e Branco: a Naturalização da Discriminação Racial, Rosa Cabecinhas. Porto: Campo das Letras, 2007, p. 215).

      Tem de estar em todos os dicionários, pois claro. Se aqui um autor (catedrático...) o não soube escrever correctamente, é certo que sim. No dicionário da Porto Editora (veja o leitor noutros, faça qualquer coisa, porra), só euro-africano e euro-asiático. Isso mesmo: exogrupo e endogrupo também são clandestinas.

 

[Texto 12 199]

Léxico: «isolado bacteriano»

Da microbiologia

 

      «O estudo engloba isolados bacterianos obtidos desde fevereiro de 2009 em mais de 120 doentes, no âmbito de um protocolo estabelecido com o Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro e aprovado pela comissão de ética da unidade hospitalar» («Engaço de uva. Uma ajuda na cura de feridas do pé diabético», Olímpia Mairos, Rádio Renascença, 18.10.2019, 12h30).

      Com maior frequência do que a desejável, são empregados na imprensa vocábulos e expressões que os dicionários não acolhem e os jornalistas não explicam. Estão bem uns para os outros.

 

[Texto 12 198]

Léxico: «etnocracia | etnocrático»

Nem esta?!

 

      «A liberalização promovida pelo governante africano mais jovem está a pôr a nu tensões na etnocracia etíope que estavam reprimidas pelas forças de segurança» («Abiy da paz», P.e José Vieira, Além-Mar, Novembro de 2019, p. 11).

      Estão ambos, etnocracia e etnocrático, no VOLP da Academia Brasileira de Letras, mas não no dicionário da Porto Editora. Todavia, já se sabe, mais vale tarde que nunca. A Porto Editora anda lá perto, anda: etocracia (forma de governo baseada na moral), mas, estranhamente, esquece-se do adjectivo, etocrático.

 

[Texto 12 197]