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Linguagista

Léxico: «bonzaria»

Entre muitas outras

 

      A palavra do dia, na Infopédia, é bonzo. Está muito bem, mas não regista, por exemplo, bonzaria, a comunidade de bonzos. «As bonzarias mais famosas de Macau, hoje desaparecidas, eram as de Lin Fâ Ch’u e de Kung Tak Lâm» (A Fénix e o Dragão: Realidade e Mito do Casamento Chinês, Cecília Jorge e ‎Beltrão Coelho. Macau: Instituto Cultural de Macau, 1988, p. 48). ‎

 

[Texto 12 240]

Léxico: «nabice»

Tölpelei

 

      «“Merda, merda, merda”, murmurou Geoffrey, inconformado com a sua própria nabice» (A Tentação do Dinheiro, Miguel Ávila. Lisboa: Editorial Presença, 2004, p. 171). Nabices há muitas: por exemplo, nabice não está no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, e, contudo, no Dicionário de Alemão-Português encontramo-lo. Tölpelei. Merda, merda, merda.

 

[Texto 12 239]

Léxico: «tecarterapia»

As falsas e as ausentes

 

      Algumas pseudoterapias, como já aqui temos comprovado, vêem-se, de alguma maneira, coonestadas, legitimadas pelas definições nos dicionários. Vale o que o vale, mas devia ter-se mais cuidado. Entretanto, o que vemos é que certas terapias não constam de nenhum dicionário — como a tecarterapia. Vá, vão lá ver o que é a transferência eléctrica capacitiva e resistiva.

 

[Texto 12 238]

Léxico: «turcomano | turcomeno | turquemeno»

Um pequeno imbróglio

 

      «O Parlamento Europeu (PE) distinguiu este ano Ilham Tohti. O Prémio Sakharov é um economista chinês de etnia uigur que luta pelos direitos daquela minoria na China. [...] Os uigures são um povo turcomano e na maioria muçulmanos que vive na região de Xinjiang, na China, e que faz fronteira com a Mongólia e com uma série de ex-repúblicas soviéticas, incluindo o Cazaquistão e o Quirgistão. Há vários anos que os uigures se queixam de discriminação por parte do Governo chinês, nomeadamente a nível religioso» («Prémio Sakharov 2019 entregue a opositor ao regime chinês», Rádio Renascença, 24.10.2019, 10h54).

      Os Uigures são um povo turcomeno ou turcomano — o dicionário da Porto Editora prefere defini-los como «povo de origem turcomena que habita no noroeste da China» (queriam escrever «Noroeste», mas está bem). Não são sinónimos, turcomeno e turcomano? Certo, certo é que turcomeno e turquemeno são sinónimos, e o dicionário da Porto Editora não regista o último. De turcomeno diz que é o «natural ou habitante do Turquemenistão; turquemenistanês», e de turcomano diz que é o «indivíduo pertencente aos Turcomanos (povo oriundo da Ásia central que a partir do século X se disseminou pelo continente asiático em sucessivas vagas migratórias, no sentido ocidental)».

      «Os turcomenos estão espalhados por diferentes países da Ásia Central, Irão, Iraque, Paquistão, Cáucaso e Turquia, além de serem maioritários na república do Turcomenistão, cuja capital é Ashgabat e que integrou a URSS até 1991. Povo turcófono, a sua cultura e linguagem está ligada à cultura e linguagem turca, sendo também, por vezes, designados como turcomanos» («Turcomenos: uma etnia milenar e hospitaleira», Abel Coelho de Morais, Diário de Notícias, 26.11.2015, 00h06).

 

[Texto 12 237]

Léxico: «capão | homeotrópico»

Não são galináceos

 

    «O assunto da viciação de resultados por causa das apostas desportivas volta a dar que falar em Portugal. Esta quarta-feira o Freamunde da II Liga vê-se envolvido numa história que já obrigou o clube dos Capões a emitir um comunicado, como confirmou o presidente Miguel Pacheco» («Miguel Pacheco afasta Freamunde de apostas fantasmas», Mário Aleixo, RTP, 6.08.2014, 12h52).

      Capões são a equipa de futebol do Sport Clube de Freamunde, mas o dicionário da Porto Editora no capão só vê o «galo ou cavalo castrado». Pouco e mal, pois não é um galo qualquer: é o galo que foi castrado entre o terceiro e o quarto mês de vida e que passou os restantes meses do ano ao ar livre a comer só produtos naturais. (Capão, galo castrado, e capão, mato no Brasil, são nomes homeotrópicos — adjectivo que a Porto Editora também não acolhe —, isto é, provêm de dois étimos diferentes em correspondência com as suas significações também diferentes.)

 

[Texto 12 235]