Tanta gente enganada?
Coisas estranhas: o dicionário da Porto Editora regista bicameral e unicameral, mas não (porque não?) cameral. Mais: unicamaral aparece demasiadas vezes para não estar correcto: «Em Maio, invocando o programa de 1891, a facção mais radical do Partido exigiu um sistema unicamaral, sem Presidente e sem Senado, ao passo que a maioria dos dirigentes “respeitáveis” eram pelo clássico modelo da III República francesa» (O Poder e o Povo: a revolução de 1910, Vasco Pulido Valente. Lisboa: Moraes, 1982, p. 188). E a Porto Editora não pode ignorar esta questão, pois num texto de apoio da Infopédia («Mustafa Kemal Ataturk») usa o termo «unicamaral». Aliás, mais facilmente esperaríamos, de «câmara», «camaral» do que «cameral», ou não? Seja como for, escritores muito mais cuidadosos do que Vasco Pulido Valente usam esta grafia.
«O programa do CHEGA não assume se seria favorável a uma solução bicamaral. O facto de querer reduzir o número de deputados para apenas 100 leva a deduzir que não. Se mais dúvidas e questões não houvessem [sic] sobre a adequação desta solução à realidade portuguesa, penso que um sistema simultaneamente presidencialista e unicamaral, seria sempre uma solução desequilibrada, que condicionaria a soberania do poder legislativo, bem como o pluralismo e a democracia» («CHEGA de quê?», Lourenço Pereira Coutinho, Expresso, 31.10.2019, 10h15). O «houvessem» (num historiador!) não o recomenda nem um bocadinho, mas vale pelo resto.
[Texto 12 259]