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Linguagista

Léxico: «meiinho | rabia»

Estabelecido isso

 

     A propósito do vocábulo meiinho, escreveu o leitor Nuno de Mendonça Raimundo: «Bem podia a Porto Editora aproveitar o ensejo e melhorar também a definição da parente rabia. “Espécie de jogo popular” pouco ou nada diz.» De facto, podia. Mas será parente ou é o mesmo jogo? «— Agora podemos jogar à rabia — disse Aggie, a rir-se. — E tu ficas à rabia, está bem, papá?» (Um Anjo da Guarda, James Patterson e Gabrielle Charbonnet. Tradução de Rita Figueiredo. Amadora: Topseller, 2014, p. 247). No original? Monkey in the middle — precisamente o que, no Dicionário de Inglês-Português da Porto Editora, é traduzido por «meiinho».

 

[Texto 12 270]

Gramática: «se não | senão»

Agora já sabem

 

      «O que podemos nós fazer perante tanta justificação grosseira e tão grande lata se não gozar com a sua cara, enquanto ele continua a gozar com a nossa? Percebo e comungo desse sentimento» («Sócrates transformou-se em anedota — e isso é mau», João Miguel Tavares, Público, 7.11.2019, p. 48). Preferimos Régio, claro: «Não chovendo, porém, que remédio teria Lèlito senão gozar quase uma hora de recreio?» (Uma Gota de Sangue, José Régio. Lisboa: Portugália, 1961, p. 12).

 

[Texto 12 269]

Léxico: «transferrina | apotransferrina»

Muito a propósito

 

      Recentemente, a palavra do dia na Infopédia foi transferrina: «BIOQUÍMICA proteína globular existente no plasma sanguíneo, capaz de fixar o ferro e de o transportar até à medula óssea». Sim, é isso, uma glicoproteína que transporta ferro (Fe3+) e é sintetizada e metabolizada sobretudo nos hepatócitos. A transferrina transporta e cede o ferro aos eritroblastos da medula óssea ou a outros tecidos, onde ficará armazenado. Mais útil seria ter uma remissão para ferritina. Mais: à porção proteica da transferrina sem ferro dá-se o nome de apotransferrina, e este termo falta na Infopédia, não o encontramos em nenhum dicionário.

 

[Texto 12 268]

Léxico: «cordão»

Nas bicicletas, por exemplo

 

      «Não sei como é que estes homens têm usado as mãos, que não sabem servir-se delas. Pegam no alicate como se pesasse toneladas, atiram o eléctrodo contra a chapa como se estivessem a picar bois. O cordão da soldadura que deixam é irregular, cheio aqui, comido logo a seguir» (Docas Secas, Fernando Miguel Bernardes. Lisboa: Editorial Escritor, p. 107).

      É termo usado pelos soldadores — porque é isso que faz lembrar, um cordão. Onde podemos ver bem estes cordões de soldadura é nas bicicletas, nas várias partes do quadro. O dicionário da Porto Editora não o regista. Talvez até — rai’s parta! — nenhum dicionário o registe.

 

[Texto 12 267]

Léxico: «pediografia | pediográfico»

É o nosso fado

 

      «Poeta, ficcionista, dramaturgo, autor de obras de pedagogia e de investigação pediográfica, é por excelência um contador de histórias, estando muitos dos seus livros e contos traduzidos em várias línguas» (Da nota biográfica na obra 100 Histórias à Janela, António Torrado. Alfragide: Edições ASA II, 2010). Pediografia e pediográfico estão no VOLP da Academia Brasileira de Letras, mas o dicionário da Porto Editora, deste lado do charco, desconhece-os.

 

[Texto 12 265]

Léxico: «desintreflar»

Como desprezamos a História

 

      Um objecto que se pode ver no Museu Judaico de Belmonte (um dos 50 melhores pequenos museus da Europa, segundo o Sunday Telegraph) é um cântaro de barro que os criptojudeus usavam no ritual de desintreflar (de treph, «impuro») a casa, isto é, purificar a casa após a morte de alguém, para evitar que o veneno do anjo da morte pudesse ser bebido pelos da casa. Nos nossos dicionários, nada de nada — desprezamos a nossa História. Lamentável.

 

[Texto 12 261]