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Linguagista

Léxico: «esquerdizante»

Não avançamos

 

      «Mas, naquela época em que se jogava o futuro da liberdade e da democracia representativa em Portugal, a pressão esquerdizante era tão violenta; a aparente invencibilidade do radicalismo tão inelutável; a presumida força do PCP tão irresistível, que quase ninguém queria ou se atrevia a correr o risco de ficar do lado errado» (António Barreto – Política e Pensamento, Maria de Fátima Bonifácio. Alfragide: Publicações Dom Quixote, 2016, p. 94).

      Já em 1994 José Pedro Machado dava conta dele, mas, entretanto, mantém-se afastado dos dicionários.

 

[Texto 12 307]

Extra par, extra-par, extrapar...

Fácil — na oralidade

 

      «Uma equipa de investigadores rastreou os últimos 500 anos na Europa ocidental, cruzando dados genéticos e genealógicos, para tentar detectar sinais da chamada “paternidade extra par”, PEP, ou seja, quando o pai biológico não é o homem que faz parte do casal que “baptizou” ou perfilhou o filho» («Genética desvenda um brando e desigual passado de infidelidades», Andrea Cunha Freitas, Público, 15.11.2019, p. 34).

      Estas questões, quase sempre na zona não iluminada da vida em sociedade (excepto quando a cara chapada trai os prevaricadores), atraem sempre a nossa atenção. Só por isto, já vale a pena nascer numa zona rural. Mas adiante. A já esperada diversidade de grafias — extra par, extra-par, extrapar — só pode ser consequência também de estarmos perante uma zona não iluminada pelos nossos dicionários.

 

[Texto 12 306]

Léxico: «electrocromático»

Já é conhecido

 

      Entre os opcionais do novo Opel Corsa, que está bem bonito, diga-se, podemos encontrar o «Pack Visibilidade» (pela pechincha de 150 euros), que reúne sensor de chuva, comutação automática de faróis e espelho retrovisor interior electrocromático. Também o vejo, a este espelho electrocromático, como extra no novíssimo DS7 Crossback. Electrocromático, Porto Editora.

 

[Texto 12 305]

Etimologia: «sabal»

Ah, a etimologia

 

      Foi o botânico francês Michel Adanson (1727-1806) que, em 1763, chamou sabal (do termo francês sable ou do crioulo sab, «areia»?) a certa palmeira, mas no dicionário da Porto Editora diz-se que é «latim científico». O latim também tem costas largas.

 

[Texto 12 304]

Todas as cores

E mais 279

 

      «Imagine uma ave esguia, cor cinzento-rato, do tamanho de um estorninho, que passa a maior parte da sua vida em mar aberto» (O Fim do Fim da Terra, Jonathan Franzen. Tradução de Francisco Agarez. Alfragide: Publicações Dom Quixote, 2018, p. 151). ‎

      Na semana passada, fui comprar barras de pastel seco a uma loja de materiais para belas-artes. Só da marca que comprei, havia 280 cores diferentes. Pus-me a ler (sabendo bem que há milhares de cores diferentes) o nome de cerca de trinta. Uma delas era cinzento-rato, gris arratonado.

 

[Texto 12 303]

Léxico: «epicédico»

Escapou este

 

      «Esse jornalista, e escritor também, identifica-se no artigo epicédico que escreveu para a Saturday Review, por morte de Faulkner, no número de 28 de Julho de 1962: Hamilton Basso» (Palmeiras Bravas / Rio Velho, William Faulkner. Tradução de Jorge de Sena e Ana Maria Chaves. Alfragide: Publicações Dom Quixote, 2019, p. 29).

      Se está num bilingue, tem de estar no dicionário geral da língua. Non ci piove. O Treccani sabe: «Di epicedio, che ha carattere di epicedio: componimento epicedico

 

[Texto 12 302]

Léxico: «ligustro»

Muito estranho

 

      No parque de Serralves (e por toda a Europa e Ásia, assim como na América, para onde o levaram), o ligusto (Ligustrum vulgare L.), da família das oliveiras, está presente, sobretudo para formar sebes, porque suporta bem a poda. Aliás, tão bem, na verdade, que é com este arbusto que se fazem as mais artísticas tópias. O mais estranho é encontrar esta definição de ligustro no dicionário da Porto Editora: «termo usado por alguns autores (por aportuguesamento do nome do género Ligustrum) para designar a alfena (planta)».

 

[Texto 12 301]

Léxico: «portaleira»

Não é comigo

 

      «— Este muro é um senhor muro de se lhe tirar o barrete — murmurou Cipriano, levado sape que sape, como um gato, na sua sombra. — Parece construído de cascalho e em solidez nenhuma fortaleza lhe ganha. Com um biombo destes como é que as monjas se podiam distrair do Céu? Mas onde diabo está a portaleira?» (O Homem Que Matou o Diabo, Aquilino Ribeiro. Lisboa: Livraria Bertrand, 1978, p. 135).

      A personagem está a interpelar-me a mim ou à Porto Editora? Deve ser à Porto Editora, que não regista portaleira.

 

[Texto 12 300]

Léxico: «quimiocina»

Ainda não chegaram cá

 

      «Quando começou a interessar-se pela investigação do cancro e das quimiocinas (subclasse de proteínas com papel nas doenças inflamatórias e infeções virais)?», pergunta a jornalista Clara Soares, da Visão, a Manuela Martins-Green, cientista e docente da Universidade da Califórnia Riverside. («“Sofri muita discriminação no meio científico, por ser uma mulher pequena, com sotaque, que assumia as suas características femininas”», Clara Soares, Visão, 7.07.2019, 19h20).

 

[Texto 12 299]