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Linguagista

Léxico: «lombi»

Uma versão pobre

 

      Pedro Neto, director da Amnistia Internacional de Portugal, à frente de uma delegação, esteve recentemente de visita ao Sul de Angola, com a população afectada pela usurpação de terras por fazendeiros e por seca extrema. A fome é tanta, disse Pedro Neto, que a população se virou apenas para o lombi, uma mistura de folhas, que, por ser ácida, ataca o estômago, mas, acrescentou, as pessoas ficam doentes se a comerem e ficam doentes se a não comerem. Há-de ser uma versão pobre do lombi. Também a Porto Editora regista o termo: «CULINÁRIA esparregado de folhas de abóbora ou de feijão». Na verdade, o lombi, que é ou era muitas vezes o principal conduto destas populações, é feito de uma mistura de folhas verdes (macaca), frutas e cogumelos nativos cultivados.

 

[Texto 12 315]

Léxico: «cavalo-marinho-comum»

Falta o comum

 

       «A maior parte da informação sobre os cavalos-marinhos existentes em Portugal — o cavalo-marinho-de-focinho-comprido (Hippocampus guttulatus) e o cavalo-marinho-comum (Hippocampus hippocampus) — provêm de estudos na ria Formosa. “Não há grande informação quer sobre a sua distribuição, quer sobre a sua abundância noutros sítios”, diz ao Público Miguel Correia [investigador do CCMar]» («Escolas de mergulho vão procurar cavalos-marinhos desconhecidos», André M. Nóbrega, Público, 29.10.2019, p. 31).

 

[Texto 12 313]

Léxico: «mitogenoma»

Desconhecido dos nossos dicionários

 

      «Esta versão tem dados mais precisos do que qualquer outra contada até agora, apontado para um lugar específico e sugerindo datas e rotas das primeiras migrações dos humanos modernos. Tudo a partir da análise daquela que é considerada como a mais antiga linhagem materna, pertencente ao haplogrupo de ADN mitocondrial L0. Os investigadores usaram dados de várias disciplinas, cruzando a distribuição geográfica de mais de mil mitogenomas (genomas mitocondriais, ou seja, o ADN de origem materna) de africanos vivos do Sul de África» («“Pátria” dos humanos modernos fica no Norte do Botswana», Andrea Cunha Freitas, Público, 29.10.2019, p. 30).

 

[Texto 12 312]

Léxico: «motorroçadora»

Tem solução

 

      «“Estamos a fazer faixas de contenção para salvaguardar um povo, uma aldeia ou um parque de campismo”, descreve o agente florestal de Melgaço, segurando nas mãos uma moto-roçadora. O perito chileno quer pôr os portugueses a tirar melhor proveito desta e de outras ferramentas na hora de atacar os fogos. O segredo, revela Filipe, outro formando, é “usar mais a cabeça e menos o músculo”» («Portugal aprende a combater fogos com o Chile», Isabel Pacheco, Rádio Renascença, 25.10.2019, 7h33).

      Acontece com vários termos, e todos, tanto quanto me lembro, designações de utensílios e ferramentas: o dicionário da Porto Editora regista a forma masculina do nome, mas comummente é usado na forma feminina. Está-se mesmo a ver qual é a solução.

 

[Texto 12 311]

Léxico: «hipermotilidade»

Usado e desprezado

 

      Kate Middleton e a rainha Isabel II sofrem do mesmo mal, soube-se recentemente: cinetose, ou enjoo de movimento (motion sickness). Ora, o quadro sintomático da cinetose é caracterizado por palidez, suores frios, salivação, hipermotilidade e hipersecreção gástricas, náuseas e vómitos. Cinetose está no dicionário da Porto Editora: «MEDICINA designação genérica, extensiva às perturbações causadas por movimentos inabituais que provocam um desfasamento entre a percepção visual e a percepção do movimento (comum, por exemplo, durante deslocações em automóvel, barco, etc.)». Sim, é verdade que podia especificar algumas dessas perturbações, e nos exemplos até podia referir ver filmes 3D, mas não é por isso que aqui venho, mas sim porque não acolhe o termo hipermotilidade, isto quando o usa num verbete (propantelina) do Dicionário de Termos Médicos.

 

[Texto 12 310]

Definição de «cidade»

Estão trocadas

 

      «O Presidente da República foi o 19.º chefe de Estado convidado a participar na ilustre Academia Francesa nos 374 anos da sua história — e o segundo português, depois de Mário Soares —, e o seu contributo foi ajudar a reflectir sobre a definição da palavra “ville” (cidade). Foram várias as propostas que fez e foram aceites. [...] “Era uma definição muito material: um conjunto de edifícios, nomeadamente de habitação, cujos residentes não têm como função principal a agricultura, separados por ruas, aos quais correspondem uma unidade administrativa, geográfica, económica, etc.”, explicou o chefe de Estado aos jornalistas no final da sessão. Marcelo questionou as palavras “etc.”, “vasto” e “residente”, sugeriu que se introduzisse o conceito de metrópole e questionou a referência às actividades exercidas» («Marcelo ajudou a definir “ville” no dicionário de l’Académie», Leonete Botelho, Público, 15.11.2019, p. 10).

      A meu ver, a definição de cidade no dicionário da Porto Editora começa logo mal, pois a primeira acepção remete para uma classificação mais legal do que real: «localidade de importância superior à vila, com determinadas infra-estruturas necessárias a essa condição». Isto tem muito que se lhe diga: basta ver que algumas localidades lutam por não serem cidades, como é o caso de Cascais ou de Sintra. Sintra, vila, por exemplo, engloba duas cidades, Agualva-Cacém e Queluz. O que faz sentido é pôr como primeira acepção aquela que figura agora como segunda: «meio geográfico e social caracterizado por uma forte concentração populacional que cria uma rede orgânica de troca de serviços (administrativos, comerciais, profissionais, educacionais e culturais); metrópole».

 

[Texto 12 309]

Léxico: «toma de água»

Só se for em inglês

 

   «Merecem referência, além do edifício da estação, alguns equipamentos antigos, como uma toma de água para locomotivas a vapor» (Portugal Património: Beja, Faro, 9.º vol., Álvaro Duarte de Almeida, Duarte Belo. Lisboa: Círculo de Leitores, 2007, p. 78).

      Pois, também não está em nenhum dicionário, e, já se sabe, mais facilmente a um português do século XXI ocorre o nome em inglês — water stop ou water station — do que em português.

 

[Texto 12 308]