Muito mal definido
«E quase sempre o faziam por intermédio dos auxiliares da administração (sipaios) e das autoridades tradicionais, carecidas do bom senso e da noção exacta dos direitos do “indígena”» (O Trabalho Assalariado em Angola, Afonso Mendes. Lisboa: Instituto superior de Ciências Sociais e Política Ultramarina, 1966, p. 91).
Sim, estão ambas as variantes no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, mas nem tudo está bem. Para começar, se em sipai se remete para sipaio, neste não se remete para aquele. Isto é tanto mais grave que é precisamente na forma mais conhecida que não há remissão. Qual a lógica disto? Mais: se atribuirmos algum significado à ordem em que surgem as acepções, diria que estão trocadas, pois, apesar da nossa ligação a Angola, quando deparo com a palavra não penso logo no «soldado angolano», definição equívoca e controversa, mas antes e sempre no «soldado natural da Índia, ao serviço dos Ingleses». De qualquer maneira, a definição é, a todos os títulos, equívoca. Tem de se explicar quem e onde, e isto tudo em meia dúzia de palavras. De contrário, ainda o falante incauto (centenas, milhares) vai pensar que João Lourenço tem ao seu serviço um exército de sipaios. Última nota: não escrevam «cipaio», não é a grafia correcta. Infelizmente, já esta semana o corrigi num artigo.
[Texto 12 345]