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Linguagista

Tradução: «to retract»

Os mesmos e outros

 

      «Em resposta à agência Lusa, o gabinete de comunicação da Universidade do Porto (U. Porto) avançou esta quarta-feira que, apesar do [sic] assunto “não cair sobre a alçada disciplinar” da instituição, pode ser conduzido a “uma apreciação” por parte da Comissão de Ética. [...] Numa publicação, o blogue Retraction Watch (que expõe retratações de artigos científicos) afirma que a professora da FLUP especialista em Ciência Política e Relações Internacionais Teresa Cierco Gomes teve, “pelo menos, cinco artigos retraídos por plágio”» («Professor norte-americano alerta para plágio de professora na Universidade do Porto», Jornal de Notícias, 27.11.2019, 17h08).

      A vantagem, dirão alguns, é serem sempre os mesmos erros. Também estão enganados, mesmos nos erros deve haver variedade, é mais estimulante. É «cair sob a alçada», senhor jornalista — e assim devia escrever, ainda que o erro viesse da Universidade do Porto. Se calhar quis corrigi-los... E agora to retract, no sentido do contexto, traduz-se por «retrair»? Isso não é mais para as garras dos felinos e para os tentáculos dos caracóis?

 

[Texto 12 366]

Léxico: «operacional»

Ah, não é assim

 

      «“O Irlandês” segue a história de Frank Sheeran (Robert de Niro), um veterano da II Guerra Mundial convertido em motorista e, depois, em operacional de topo da máfia dos EUA, nomeadamente ao serviço de Jimmy Hoffa (Al Pacino), durante 14 anos o presidente da International Brotherhood of Teamsters, sindicato de camionistas norte-americano. A longa-metragem segue a versão descrita em “I Heard You Paint Houses”, relato da vida de Sheeran escrito por Charles Brandt, com a colaboração do próprio “irlandês”, assim chamado devido às raízes paternas» («Vimos “O Irlandês”, de Scorsese, no grande ecrã. E saímos da sala com um murro no estômago», João Pedro Barros, Rádio Renascença, 26.11.2019, 13h42).

      Ou seja, ao contrário do que se lê no dicionário da Porto Editora (e noutros, talvez em todos), operacional não é somente o «militar que integra ou que pode integrar uma operação». Não, não é: tem de haver uma definição mais genérica ou uma extensão de sentido. Quantas vezes não ouvimos falar dos operacionais das Forças Populares 25 de Abril (FP-25) ou (ainda mais, no meu caso) nos operacionais da ETA?

 

[Texto 12 365]

Léxico: «Natalinho | Chanucá»

Algumas falhas

 

      «Não festejam o Natal, por saberem que é uma festa cristã, mas nas suas proximidades jejuam no dia que chamam o Santo Natalinho» (Os Marranos em Portugal: Reminiscências Judio-Portuguesas, Amílcar Paulo. S/l., Escola Tipográfica, 1971, p. 11).

      Em várias obras se fala nesta festa dos criptojudeus portugueses, e especialmente dos de Belmonte, como pude comprovar no Museu Judaico de Belmonte. Esta festa era celebrada a 11 da lua nova de Dezembro. Neste dia, em que não comiam carne, rezavam algumas vezes. Pelo nome, Natalinho, pode ser imitação do Natal cristão, mas alguns estudiosos apontam também como provável uma reminescência da festa judaica Chanucá, ou Festa das Luzes. Registar Natalinho só contribuiria para termos melhores dicionários. Mas há mais para fazer: a Porto Editora, por exemplo, em Chanucá não indica que se comemora a 25 dias da lua de Quisleu (coincidente, portanto, com a data em que se celebrava o Natalinho). Também não regista os nomes dos meses do calendário judaico, e podia fazê-lo.

 

[Texto 12 364]

Léxico: «montanhês | termidoriano»

Abaixo do mínimo

 

      «Os montanheses terão compreendido aquilo que os girondinos não foram capazes de ver: que, para salvar as conquistas de 1789, era necessário “ultrapassar os limites liberais e burgueses”» (De Rousseau ao Imaginário da Revolução de 1820, Ana Maria Ferreira Pina. Lisboa: Instituto Nacional de Investigação Científica, 1988, p. 22). Pois, girondinos, montanheses, termidorianos, etc., mas os nossos dicionários só registam (!) girondino. Meu Deus, que aconteceu aos nossos dicionários?! Também não percebo porque grafa a Porto Editora, em girondino, Revolução Francesa com minúsculas: «HISTÓRIA, POLÍTICA relativo ou pertencente ao partido da Gironda, criado em 1791, durante a revolução francesa, de carácter burguês e moderado».

 

[Texto 12 363]

Léxico: «Essuatíni | essuatiniano»

Deixemos de assobiar para o lado

 

      Já sabem o que penso da mudança de nome de países e cidades, mas começo a receber textos em que se usa o topónimo Essuatíni e o gentílico e adjectivo essuatiniano. Aliás, já podemos vê-los reconhecidos no Código de Redacção Interinstitucional. Perante isto, Porto Editora, também não podes fechar os olhos, ou estarás a prestar um mau serviço.

 

[Texto 12 362]

Flora e fauna

Longe dos dicionários

 

      Só num livro que está neste momento no prelo: beija-flor-tesoura-verde (Thalurania furcata), bromélia-zebra (Aechmea chantinii), formiga-cabo-verde (Paraponera clavata), formiga-cortadeira (géneros Atta e Acromyrmex), formiga-correição, coruja-de-crista (Lophostrix cristata), corujinha-orelhuda (Megascops watsoni), abeto-balsâmico (Abies balsamea), pintassilgo-pinheiro (Spinus pinus), chapim-de-cabeça-negra (Poecile atricapillus), mariquita-azul (Setophaga americana), tetraz-de-colar (Bonasa umbellus), abutre-fouveiro (Gyps fulvus), bétula-do-papel (Betula papyrifera), tartaruga-comum (Caretta caretta), lince-pardo (Lynx rufus), verme-crina-de-cavalo (Nematomorpha), ácer-açucareiro (Acer saccharum), olmo-vermelho (Ulmus rubra), formiga-carpinteira (Camponotus spp.), veado-de-cauda-branca (Odocoileus virginianus), besouro-verde (Agrilus planipennis), cogumelo-cauda-de-peru (Trametes Versicolor), cedro-japonês (Cryptomeria japonica), aveleira-europeia (Corylus avellana), pinheiro-amarelo (Pinus ponderosa), colêmbolo, tentilhão-roxo (Haemorhous purpureus), aranha-caranguejo (Thomisidae), escorpião-de-água (Nepidae), andorinha-de-dorso-acanelado (Petrochelidon pyrrhonota), melro-d’água-mexicano (Cinclus mexicanus), veado-mula (Odocoileus hemionus), merganso-capuchinho (Lophodytes cucullatus), pinheiro-branco-japonês (Pinus parviflora), pinheiro-guarda-sol-japonês (Sciadopitys verticillata).

 

[Texto 12 361]

Léxico: «apalachiano»

Para adivinhar

 

      «Segue-se em extensão, mas com maior diversidade, Castela-a-Nova, em grande parte um largo corredor sedimentar sempre com serranias no horizonte, enquadrado como está entre os maciços graníticos da Cordilheira Central e as ondulações apalachianas dos Montes de Toledo» (Opúsculos Geográficos: Estudos Regionais, Orlando Ribeiro. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1995, p. 55).

      Não temos a sorte de o encontrar nos nossos dicionários ­— sabe-se lá porquê. E precisamos dele nos dois sentidos: relativo aos montes Apalaches e designativo do tipo de relevo resultante do reinício da erosão, numa área anteriormente aplanada pela erosão.

 

[Texto 12 360]

Léxico: «cananita | ugarítico»

Para começar

 

      «Será para ponderar muito seriamente o legado fenício, cananita e ugarítico, e até o propriamente judaico na cultura portuguesa, bem como o muçulmano» (Lusofilias: Identidade Portuguesa e Relações Internacionais, Paulo Ferreira da Cunha. Porto: Edições Caixotim, 2005, p. 38).

      Convinha talvez começar por termos cananita e ugarítico em todos os nossos dicionários. No da Porto Editora não os encontramos. (Pois, caganita não serve.)

 

[Texto 12 359]

Léxico: «ovelheiro | galinheiro»

Outro mistério

 

      «Inácio Esperança reconhece que “houve uma mudança radical na exploração dos mármores”. Há mais sinalética nas estradas, alertando para a proximidade de zonas de exploração industrial. Foi colocada rede ovelheira à volta das pedreiras» («Um ano depois, a estrada ainda é uma ferida aberta», Cristiana Faria Moreira, Público, 16.11.2019, p. 2). Há rede ovelheira, como também há rede galinheira — só não percebo é como os termos estão ausentes dos nossos dicionários. Mistérios.

 

[Texto 12 358]