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Linguagista

Léxico: «subsidiação»

Não chega já?

 

      «Por um lado, o país é elogiado pelos objetivos estabelecidos para 2050, pela aposta nas energias renováveis e pelo fim antecipado da produção de energia a partir do carvão, mas também criticado pela ausência de medidas em termos de eficiência energética e pela continuação da subsidiação de combustíveis fósseis. [...] Por um lado, o país é elogiado pelos objetivos estabelecidos para 2050, pela aposta nas energias renováveis e pelo fim antecipado da produção de energia a partir do carvão, mas também criticado pela ausência de medidas em termos de eficiência energética e pela continuação da subsidiação de combustíveis fósseis» («Relatório. Portugal tem de melhorar eficiência energética e calafetar janelas pode ajudar muito», João Pedro Barros, Rádio Renascença, 27.11.2019, 23h00). Quantas mais décadas terão de transcorrer até deixarmos de dizer que é um neologismo? Somos muito idiotas.

 

[Texto 12 374]

Léxico: «monga»

Em que se fala de Ken

 

      «Tira a mão, monga (Action Man) Ai que parva, tens um cabelo tão lindo todo aos caracóis, tão amarelinho, é mesmo amarelinho da cor do sol, parece um ovo estrelado (dão beijinhos, entra o Ken)» (Vanessa Vai à Luta, Luísa Costa Gomes. Porto: Porto Editora, 2014, p. 8).

      Para mim, é redução de songamonga. Mas vejam o que se lê no Dicionário Brasileiro de Insultos, de Altair J. Aranha (Cotia/SP: Ateliê Editorial, 2002, p. 238): «Monga Retardado mental. É uma redução de mongolóide, termo usado para designar a pessoa que sofre de mongolismo.» O dicionário da Porto Editora não o regista.

 

[Texto 12 373]

Léxico: «rinotraqueíte»

Coisa de eleitos

 

      «Nos gatos, a maior complicação são as rinotraqueítes, responsáveis por cerca de 45 por cento das infeções respiratórias felinas que, no primeiro ano de vida, podem resultar em complicações mais graves» («Os animais também se protegem dos rigores do inverno», Vanessa Fidalgo, «Sexta»/Correio da Manhã, 8-14.11.2019, p. 48).

      Ainda deve ser um segredo dos eleitos, pois os nossos dicionários desconhecem a palavra. Lá está no VOLP da Academia Brasileira de Letras. (Em compensação, também têm Bolsonaro.)

 

[Texto 12 372]

Léxico: «vitriolizar»

É preciso voltar atrás

 

      O autor fala das «raparigas abandonadas pelos amantes, que, para se vingarem, os vitriolizam», mas temos de consultar dicionários centenários para ficar a saber que vitriolizar, neste sentido, significa atacar alguém arremessando-lhe vitríolo.

 

[Texto 12 371]

Tradução: «chief rabbi»

Não para nós

 

      «A duas semanas das eleições legislativas no Reino Unido e a uma distância pontual considerável dos conservadores, favoritos, o Partido Trabalhista foi ontem confrontado com um ataque sem precedentes do rabino-chefe britânico, que promete agitar o que resta da campanha eleitoral: Ephraim Mirvis acusou a direcção de Jeremy Corbyn de aprovar o anti-semitismo que se enraizou no partido e apelou à “consciência” dos eleitores na hora de votarem» («Rabino critica “veneno” anti-semita no Labour e agita campanha eleitoral britânica», António Saraiva Lima, Público, 27.11.2019, p. 27).

      António Saraiva Lima traduziu mal: está a confundir com designações como «engenheiro-chefe» e outras semelhantes. Em inglês é chief rabbi, sim, mas em português de lei diz-se grão-rabino.

 

[Texto 12 370]

A ironia e o asterisco

Agora querem acabar com a ironia

 

      «O que me surpreendeu verdadeiramente foi ter muitas pessoas a perguntarem-me se faltava um asterisco nas minhas mensagens do Twitter. Um asterisco? Que raio! Depois explicaram-me. Pelos vistos, no Twitter, há um código de conduta que nos manda começar mensagens irónicas com um asterisco. Assim sinalizamos que estamos a ser irónicos e deixa de haver mal-entendidos. Fiquei parvo com tamanha estupidez: se alguém sinaliza que está a ser irónico, então, automaticamente, deixa de haver ironia. Até porque, se se sinaliza a ironia com um asterisco, o resultado será que as pessoas, para serem irónicas, marcarão o texto com um asterisco, quando na verdade querem dizer exactamente o que lá está escrito. O asterisco passa a ser irónico» («A ironia é livre», Luís Aguiar-Conraria, Público, 27.11.2019, p. 6).

      De facto, se temos de assinalar que estamos a ser irónicos, deixa de haver ironia, o que é estúpido. Na oralidade, devem querer que pisquemos um olho para se assegurarem de que estamos a usar de ironia. É uma regra de idiotas para idiotas.

 

[Texto 12 369]

Léxico: «tardo-barroco»

Só para outras

 

      «Não é preciso ir mais longe do que a Avenida Central, em Braga: a Basílica dos Congregados, de fachada tardo-barroca (construída entre 1760 e 1766), uma marca incontornável na paisagem da cidade, abriga a pequena Capela de Nossa Senhora Aparecida, conhecida também como Capela dos Monges» («O barroco de André Soares ainda fascina, 250 anos depois», Tiago Mendes Dias, Público, 26.11.2019, p. 30).

      No dicionário da Porto Editora, temos tardo-gótico, tardo-medieval e tardo-renascentista. Noutros dicionários, ainda menos do que estas.

 

[Texto 12 368]

Léxico: «isoponto»

Na genética

 

      «A razão pela qual falo de Carlos Magno no livro é porque há um conceito em genética, na genealogia, que é o “isoponto” [o ponto a partir do qual toda a gente tem antepassados comuns]: em primeiro lugar, é bastante complicado e, em segundo, é muito contra-intuitivo. Quando falamos da Europa, esse ponto acontece no século X, há cerca de mil anos. Portanto, toda a gente na Europa há mil anos é o antepassado de toda a gente na Europa hoje, desde que tenham deixado descendentes vivos. E usamos o exemplo de Carlos Magno porque sabemos que ele tem descendentes vivos hoje. Se Carlos Magno é o antepassado de quem quer que seja, ele é também o antepassado de toda a gente. Ou seja, toda a gente na Europa é igualmente descendente directo de Carlos Magno [diz o geneticista Adam Rutherford]» («“Todos descendemos de Carlos Magno e temos ADN neandertal”», Claudia Carvalho Silva, Público, 27.11.2019, p. 30).

 

[Texto 12 367]