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Linguagista

Léxico: «trílito»

Eu diria que está mal

 

       A palavra do dia da Infopédia ontem era trílito: «ARQUEOLOGIA estrutura megalítica composta por duas grandes pedras erguidas na vertical que suportam uma terceira disposta horizontalmente». Nem é necessário ler a definição para sabermos do que se trata. É, dizemos logo, o mesmo que «dólmen». É verdade, são sinónimos, mas como sinónimo, no dicionário, aparece-nos «orca», um regionalismo para «dólmen». Isto faz sentido? Até podem indicar um regionalismo como sinónimo, mas primeiro tem de figurar um termo conhecido de todos os falantes.

 

[Texto 12 389]

Ortografia: «nariz-de-cera»

Eu diria que está bem

 

      «Mas o que tem irritado mesmo Jeremias nos últimos tempos é o início das resposta [sic] a uma qualquer pergunta: “Eu diria que...” A epidemia alastra. Abundam por aí oradores e comentadores que iniciam suas doutas dissertações com um pomposo “eu diria que...”» («A epidemia dos ‘narizes de cera’», Victor Bandarra, «Domingo»/Correio da Manhã, 10.11.2019, p. 24).

      Conheço vários jeremias, e, como o desta crónica, «do tempo da 4.ª classe bem tirada». Como todas as generalizações, também esta é má: para quê desprezar o «eu diria que» e os falantes que o usam? É tipicamente o texto de encher chouriços. E, já agora, saiba Victor Bandarra — pena foi que o Jeremias da 4.ª classe bem tirada não lho dissesse — que se escreve nariz-de-cera, com hífenes e sem aspas. Sobretudo sem aspas, diacho!

 

[Texto 12 388]

Léxico: «anóxia»

Também existe

 

      «Depois da temporada na antiga residência dos reis de Portugal, o landau “teve de ficar de quarentena”, recebendo um tratamento de desinfestação por inóxia e de conservação preventiva. O veículo, que chegou a Lisboa a 15 de julho deste ano, regressou à exposição permanente do Museu Nacional dos Coches no final de outubro, disse ao Observador a diretora do organismo, Silvana Bessone» («O Landau do Regicídio voltou para o Museu dos Coches», Rita Cipriano, Observador, 29.11.2019, 18h02).

      Os jornalistas são muitos bons a investigar — mas não em dicionários e gramáticas. É anóxia, Rita Cipriano. Anóxia/anoxia, Porto editora, não é somente, como registas, o «estado em que se verifica uma deficiente oxigenação dos tecidos»; também é, genericamente, e fora do âmbito da medicina, a mera ausência de oxigénio.

 

[Texto 12 387]

Léxico: «talha»

De vários tamanhos

 

      «O sabor único, algo rude, vem da resina de pinheiro (essencial para combater a evaporação dos néctares, num material poroso como é o barro) de que se reveste o interior das talhas, de diferentes tamanhos, as maiores chegando aos mil litros de capacidade, e que não são, como alguns pensam o mesmo que ânforas — também em barro e herança dos romanos, mas menores, a comportar apenas 20 litros, usadas para transporte e não para estágios vinhateiro» («No São Martinho prova o vinho...», Rita Bertrand, Sábado, 7.11.2019, p. 100).

      Dada a ignorância, na definição de talha devia dizer mais do que «vaso bojudo de cerâmica», etc. (O «estágio vinhateiro» é que me parece escusada invencionice.)

 

[Texto 12 386]

Léxico: «nacional-porreirismo»

Tal como a outra

 

      «E espera-se que ousem ser diferentes, se possível exactamente burguesas no mais completo sentido da palavra e com uma densidade humana que não seja a do nacional-porreirismo do costume» (Partida de Sofonisba às Seis e Doze da Manhã, Vasco Graça Moura. Lisboa: Quetzal, 1993, p. 248).

 

[Texto 12 385]