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Linguagista

Plural de «campus»

Apanhados

 

      «Os autores do estudo recomendam “medidas de segurança mais adequadas às reais necessidades dos estudantes, procurando ampliar a vigilância, iluminação e controlo dos estabelecimentos de ensino, nos campi, nas paragens de transportes públicos e, em particular destaque, nos parques de estacionamento das instituições do ensino superior”» («Violência sexual: universitários de Lisboa têm medo de ser abordados no estacionamento», Ana Cristina Pereira, Público, 10.12.2019, p. 15).

      Aqui é claramente ao contrário do caso de homo sapiens: é habitual ver-se, na imprensa, o plural campi. Contudo, no dicionário da Porto Editora lemos que campus é um «nome masculino de 2 números». Não me digam... E conseguem manter a afirmação sem se rirem? Quando pesquisamos por campi, obtemos o seguinte resultado: «nome masculino plural de campus».

 

[Texto 12 452]

Léxico: «hiperintensidade»

Como esta

 

      «O tabaco, a hipertensão e a idade avançada estão entre os factores de risco que podem causar lesões no cérebro designadas “hiperintensidades da substância branca”, conhecidas como cicatrizes brancas. A substância branca faz parte do sistema nervoso central e localiza-se por baixo do córtex. “A enxaqueca também está associada às hiperintensidades da substância branca”, assinala Asta Håberg, investigadora da Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia e a coordenadora do trabalho publicado na revista científica NeuroImage» («Como o tabaco pode deixar “cicatrizes brancas” no cérebro», Teresa Sofia Serafim, Público, 10.12.2019, p. 35).

     Há palavras que estão destinadas a não aparecer em nenhum dicionário e, contudo, são empregadas diariamente.

 

[Texto 12 451]

Léxico: «subespera»

Teremos de ser nós

 

      Desta vez, foi presencial: ontem estive num hospital da CUF e lá estava numa parede: «Sub-Espera Adultos | Standby Adults». Sim, uma sala de subespera. Nos dicionários, nada. Ora, eu já aqui tinha falado disto em 2013. A diferença é, naquela altura, tinha visto na televisão e desta vez vi ao vivo. Se não ajudarmos esta gente a escrever — gente claramente incapaz, pelo menos incapaz de pensar —, quem o fará?

 

[Texto 12 450]

Léxico: «árboreo-arbustivo»

Talvez prefiram «shrubby-arboreal»

 

      «No Estudo de Impacte Ambiental do prolongamento da CRIL entre a Buraca e a Pontinha — um projecto altamente polémico, que se arrastou durante anos — ficou definido que as encostas da estrada deviam ter “vegetação densa e barreiras arbóreo-arbustivas”. Mas elas não estão lá. O mesmo se definiu para as zonas circundantes à IC16 no Plano Estratégico de Arborização, aprovado pela Câmara da Amadora em 2013 com o horizonte temporal de 2020. Mas também ali não há árvores» («Alfornelos, uma “ilha de poluição” à espera de árvores», João Pedro Pincha, Público, 9.12.2019, p. 22).

 

[Texto 12 449]

Léxico: «clorófito | hera-do-diabo»

Deixem-nas trabalhar

 

      Já que 2020 é Ano Internacional da Fitossanidade, Porto Editora, ofereço-te duas plantas para purificares o ar aí do escritório: clorófito (Chlorophytum comosum) e hera-do-diabo (Epipremnum aureum). A primeira, que vemos em muitas casas portuguesas, devemos usá-la para combater toxinas como o xileno, um solvente usado nas indústrias da borracha, assim como o monóxido de carbono. A segunda também ajuda na redução de xileno, monóxido de carbono, tolueno e benzeno.

 

[Texto 12 448]

Isso mesmo: há juízes e juízas

Uma juíza inteligente

 

      «Para justificar esta “asfixia” da relatora, não colhe a invocação de que o nosso sistema é semelhante ao do Tribunal de Justiça da UE, e que o Relator no TC é o próprio plenário e não a juíza a quem o processo foi distribuído. Não é isso o que diz a lei. E regras não escritas não vinculam. A legitimidade de uma decisão judicial nunca pode vir da força, mas da justiça que se procura. É a minha honra de juíza!» («“É a minha honra de juíza!”», Maria Clara Sottomayor, Público, 9.12.2019, p. 9).

     Não deixa de ser espantoso — e louvável — que uma juíza diga que é juíza e não, como se vê tantas vezes, «juiz». Só pode ser uma pessoa inteligente, ou, pelo menos, que recebeu a sua quota-parte de bom senso. Uma juíza com juízo.

 

[Texto 12 447]

Léxico: «zoroástrico»

Acho muito mal

 

      Também acho mal que em zoroástrico (e zoroastriano) a Porto Editora diga que é «relativo a Zoroastres (ou Zaratustra), profeta da antiga Pérsia (século VII a. C.), ou à sua doutrina; zoroastriano». Mais valia dizer que é relativo a Zoroastro (na verdade, a variante mais comum) ou ao zoroastrismo, porque falar em doutrina quando foi a religião dominante da Grécia à Índia ao longo de mil anos não me parece muito adequado.

 

[Texto 12 446]

Greta Thunberg

Há bem pior

 

      «É quase impossível não saber quem é Greta Thunberg, a jovem ativista climática sueca que tem andado nas bocas do mundo. Apesar de todos sabermos de quem se trata, são poucos os que realmente sabem pronunciar corretamente o nome da adolescente de 16 anos. [...] A forma acertada é “Grieta Tunbéri”. O som final com que o apelido termina, “rg”, é o mesmo presente no nome da cidade sueca de Göteborg, que em português chamamos de Gotemburgo. Em sueco, a pronunciação certa é Gotebory» («Andamos a pronunciar mal o nome de Greta Thunberg», Rádio Renascença, Sofia Freitas Moreira e redacção, 9.12.2019, 18h41).

      Grande coisa. Ainda antontem recebi uma chamada de alguém, e não era sueco (nem alemão, apesar de ser da Audi), que tinha o meu nome à frente do nariz e meteu os pés pelas mãos. Amaldiçoei-o três vezes. Mentira: sou católico, não quero mal a ninguém, não odeio ninguém — só detesto a ignorância.

 

[Texto 12 445]