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Linguagista

Léxico: «electrolisador»

Comecemos pela palavra

 

      «A EDP está a preparar um projeto-piloto, que deverá arrancar no início de 2020, de produção e armazenamento de hidrogénio na Central Termoelétrica do Ribatejo, revelou o presidente executivo da empresa, António Mexia, à agência Lusa. [...] Com um eletrolisador (produzir hidrogénio e oxigénio a partir da água) com capacidade instalada de um MW (megawatt) e 12 MWh (megawatts por hora) de capacidade de armazenamento, este projeto piloto será “uma referência e um dos maiores projetos” desta natureza em Portugal» («EDP vai produzir hidrogénio na Central Termoelétrica do Ribatejo», TSF, 11.12.2019, 14h49).

      Calma, calma, primeiro temos de pôr electrolisador no dicionário da Porto Editora. E depois é só esperar uma década para adquirirmos um Hyundai Nexo. Passa depressa.

 

[Texto 12 460]

Um nicho não é um alçapão

Confusões sem fim

 

      «Um quadro do célebre pintor austríaco Gustav Klimt foi encontrado atrás de uma parede na galeria Ricci Oddi, na cidade italiana de Piacenza, de onde teria sido roubado, em fevereiro de 1997. [...] Os trabalhadores da galeria de arte estavam a limpar uma parede da galeria, quando encontraram um alçapão — do outro lado estava um saco de plástico. Lá dentro? Estava o famoso “Retrato de uma Senhora”, pintado por Klimt em 1917, que se julgava ter sido roubado» («Quadro desapareceu há 20 anos de uma galeria de arte. Agora foi encontrado... no mesmo sítio», Rita Carvalho Pereira, TSF, 11.12.2019, 12h12).

      A habitual falta de cuidado dos jornalistas... A imprensa italiana fala (e as imagens mostram) numa portinhola de um nicho — lo sportello di una nicchia. Assim, Rita Carvalho Pereira devia conferir urgentemente a definição de alçapão nos dicionários. Foram trabalhadores que estavam a fazer a manutenção do jardim da galeria que, ao removerem a hera de uma parede (rimuovendo l’edera da una parete), descobriram a portinhola do nicho e depararam com o quadro.

 

[Texto 12 459]

Partido Os Verdes

O desejo para 2020

 

      «Partido Ecologista Os Verdes (PEV) vai apresentar um projecto de lei para a despenalização da morte medicamente assistida, ou eutanásia, devendo entregar o diploma em breve. O projecto terá por base o texto apresentado na anterior legislatura, e que foi chumbado» («PEV vai apresentar projecto de lei sobre eutanásia», Público, 11.12.2019, p. 13).

      O jornalista fingiu — e bem, porque é uma idiotice, como já aqui denunciei — que o nome do partido não tem aspas. Quem nos dera que, conhecedores da língua, seu instrumento de trabalho, ignorassem todas as idiotices e todos os modismos que a descaracterizam.

 

[Texto 12 458]

Ortografia: «estertor»

Sempre ao contrário

 

      «O repórter do Expresso já desceu da Escócia para o norte de Inglaterra e escreve: “Não vai haver maioria” Escócia, território “entalado entre o Brexit e a independência”. O último “Mind the vote #21” analisa os extertores finais da campanha que hoje termina com a frase mais repetida por BJ e mais ouvida pelos eleitores nos últimos meses: “Get Brexit done”» («Outras notícias», Cristina Peres, Expresso Curto, 11.12.2019).

      Há coisas que nunca mudarão. Se fosse com x, escreviam-no com s. Sempre ao contrário. E agora, com o Acordo Ortográfico de 1990, a ortografia está a estortorar há anos e assim continuará por cega obstinação dos donos disto tudo. (Os dicionários, para serem mesmo úteis, em estertor deviam indicar que aquele o se lê /ô/, isso sim.)

 

[Texto 12 457]

Léxico: «facanito»

Se é nosso, despreza-se

 

      «Luís Filipe Costa, de 34 anos, é de uma geração que cresceu com os caretos. Foi facanito e atualmente é careto e artesão de máscaras e trajes. É também um estudioso e os caretos de Podence, porque lhe estão no sangue, foram o tema da sua tese de mestrado em Arte» («Caretos de Podence a um passo de subir a Património Imaterial da Humanidade», Olímpia Mairos, Rádio Renascença, 11.12.2019, 6h17).

  Tradição milenar reconhecida como Património Imaterial de Humanidade pela UNESCO — e facanito, termo relacionado com aquela tradição que designa a criança que se mascara de careto, longe dos nossos dicionários. Eu não compreendo esta negligência.

 

[Texto 12 456]

Léxico: «nanoporoso»

Anda por aí

 

      «“São sólidos, esponjas, materiais nanoporosos, que têm poros à escala nano, e conseguem ser transformados de forma a captarem seletivamente o dióxido de carbono e uma complexa mistura de gases”, explicou à TSF Luís Mafra [investigador da Universidade de Aveiro]» («Quatro investigadores portugueses recebem 8 milhões em bolsas europeias», TSF, 10.12.2019, 17h41).

 

[Texto 12 455]

Léxico: «broncoespasmo»

Não sejas bronco

 

      Para tratar o broncoespasmo foi prescrita uma nebulização. Ah, sim, salbutamol (usado, clandestinamente, pelos ciclistas pelos seus efeitos anabolizantes) e brometo de ipatrópio não podem faltar. O diagnóstico secundário é de asma extrínseca. (Parece, porém, que é denominação que já não se usa... Digo à médica, não digo?) Quanto a ti, Porto Editora, regista broncoespasmo, se faz favor. Não, não chega, como fazes, a variante broncospasmo. Essa mentalidade tem vindo a empobrecer-nos paulatinamente.

 

[Texto 12 454]

Léxico: «dragado»

Não apenas, como se vê

 

   «A APSS [Administração dos Portos de Setúbal e Sesimbra] enfrenta, também, a contestação das associações de pesca de Setúbal, que não se conformam com a deposição de dragados na zona da Restinga, perto de Troia. Precisamente uma das zonas indicadas para esse efeito na Declaração de Impacte Ambiental (DIA) emitida pela APA» («Tribunal suspende dragagens no Sado. Administração do Porto de Setúbal vai contestar», Rádio Renascença, 10.12.2019, 20h51).

      Isso mesmo: dragado não é somente adjectivo ou particípio, como quase todos os dicionários registam, mas também substantivo.

 

[Texto 12 453]