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Linguagista

Ortografia: «de mão-cheia»

Volto a lembrar

 

      «Era, além disso, uma cozinheira maravilhosa, uma jardineira de mão cheia, uma mulher que adorava beber o seu copo e se deliciava com uma partida de cartas. A casa de Pinner Hill Road cheirava a assados e a carvão e tinha sempre gente a entrar e a sair: a tia Win, irmã da mãe de Elton, o tio Reg, os seus primos, o homem que cobrava a renda, o senhor da lavandaria, o homem que vinha entregar o carvão» («Sir Elton John e o problema da mobilidade social», António Araújo, Diário de Notícias, 14.12.2019, p. 54).

      Já aqui vimos que se escreve com hífen, de mão-cheia. Na Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, é assim que está grafado. E no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, claro.

 

[Texto 12 481]

Tradução: «detonatore»

Pavio...

 

      «Cerca de 54 mil pessoas foram obrigadas a evacuar as suas casas, este domingo de manhã, enquanto especialistas desarmavam uma bomba datada da Segunda Guerra Mundial. A operação decorreu em Brindisi, uma cidade no sul da Itália, com cerca de 87.800 residentes. [...] Especialistas das forças militares e dos bombeiros extraíram o pavio da bomba histórica em 40 minutos. Segundo os jornais locais, a bomba foi desativada com sucesso e será levada para uma pedreira local, na segunda-feira» («Cidade italiana evacua 54 mil pessoas para desativar bomba da Segunda Guerra Mundial», Sofia Freitas Moreira e redacção, Rádio Renascença, 15.12.2019, 13h16).

      Será que uma bomba tem mesmo pavio, Sofia Freitas Moreira? E a redacção concordou... Na imprensa italiana o que se lê é que se trata do detonatore, pois claro. Em rigor, não é um problema de tradução, mas de mera cultura geral mínima. Mas não vale a pena gastar mais pavio com isto.

 

[Texto 12 480]

Léxico: «peixe-pénis | equiúrido»

Falta quase tudo

 

      «Peixe-pénis. É assim que são vulgarmente chamados, mas na verdade não são peixes nem são pénis. A espécie em causa, um verme gordo, rosado, que mede cerca de 20 centímetros, e que faz lembrar o sexo masculino, tem dado que falar nas notícias e nas redes sociais. Porquê? Porque milhares deles apareceram numa praia da Califórnia e as imagens chegaram ao Instagram e ao Twitter. [...] Já a revista brasileira Super Interessante explica que o nome científico desta espécie é Urechis caupo, um verme marinho invertebrado da classe dos Echiura. É um anelídeo, como as minhocas, e não um cordado, categoria em que se encontram os peixes» («Praia da Califórnia é invadida por milhares de “peixes-pénis», Observador, 14.12.2019, 13h54).

      Sim, é o peixe-pénis (Urechis caupo), assim vulgarmente designados porque a semelhança com um pénis é assombrosa. Pénis incircunciso. Os nossos dicionários já registam peixe-pau... O que também falta nos nossos dicionários é equiúrido/Equiúridos.

 

[Texto 12 478]

«Melhor | mais bem»

Para esquecer (em parte)

 

      «Peço aos meus colegas do jornalismo escrito e falado, mas sobretudo falado, que não se esqueçam sistematicamente de que “melhor” não é igual a “mais bem”» («Diário», Vasco Pulido Valente, Público, 14.12.2019, p. 9).

      Em princípio, Vasco Pulido Valente tem razão, mas, como não diz mais nada, é para esquecer. Esquecer, mas não tudo: melhor é comparativo de bom e mais bem é comparativo de bem. Como, porém, até os grandes escritores vacilaram ou entenderam subverter as coisas, talvez o simples mortal também o possa fazer. Já mais grave é confundir o simples bom com bem, e muitos o fazem.

 

[Texto 12 477]

Policiamento da linguagem

Para esquecer (totalmente)

 

      «Tudo isto vem a propósito, como se imagina, da admoestação de Ferro Rodrigues a André Ventura sobre a excessiva utilização da palavra “vergonha” e “vergonhoso” nas suas intervenções parlamentares. Fez mal, não porque Ventura se sinta muito incomodado pela “vergonha” do seu país, personicada nos seus colegas políticos e parlamentares, mas porque o policiamento da linguagem é um caminho perigoso e sem retorno. Deixem lá o homem falar para a sua clientela de indignados prossionais nas redes sociais e, se querem tirar-lhe o terreno à “vergonha”, denunciem antes as “vergonhas” que ele oculta e que o fazem ser o que é, até porque não vão faltar razões, se estiverem atentos e tiverem paciência para falarem com razão» («O policiamento da linguagem», José Pacheco Pereira, Público, 14.12.2019, p. 10).

      Sim, deixem-no lá falar. Eu nem sei como aquelas falsas indignações embrulhadas na sua arenga populista convencem quem quer que seja. Está destinado a ser, como o Livre, um mero epifenómeno.

 

[Texto 12 476]

Léxico: «pito | gancha»

Outras, diferentes

 

      «A tradição do pito, que se cumpre esta sexta-feira em Vila Real, representa um negócio extra para as mulheres que vendem o doce típico de massa e abóbora e atrai muitos populares ao recinto da capela de Santa Luzia. [...] Lá em cima, algumas mulheres ocupam stands com bancadas recheadas deste doce típico que protagoniza uma tradição popular que se repete todos os anos: a rapariga oferece hoje o pito ao rapaz que, em Fevereiro [a 3, no dia de S. Brás], retribui com a gancha. [...] Com recheio de doce de abóbora e cobertura de massa de farinha, o pito tem o formato de uma espécie de penso antigo que se colocava na vista. Santa Luzia é a padroeira dos doentes com problemas de olhos. Esta tradição começou por ser religiosa e acabou, com o passar do tempo, por ter um cariz popular e são mulheres e homens de todas as idades que aderem à brincadeira» («Vila Real cumpre tradição de dar o pito, o doce que atrai novos e velhos», Paula Lima e Lusa, Público, 13.12.2019, 13h43).

      O quê, pito, gancha? Não, no dicionário da Porto Editora há muitos pitos, de vulgarismos a brasileirismos, mas não este doce de aspecto tão atraente. Pois, também tem ganchas, mas não esta.

 

[Texto 12 475]

Léxico: «lapinha»

Desconhecidas no Porto

 

      «Remontam ao século XVII os primeiros presépios “lapinhas” da ilha de S. Miguel, nos Açores. Estas pequenas representações do Natal eram adornadas com conchas e flores confeccionadas pelas religiosas. Mais tarde, as “lapinhas” passaram a produzir-se no espaço doméstico, configurando uma forma de arte popular» («Arte bonecreira dos Açores, no Algarve», Agenda Mais, Dez. 2019/Jan. 2020, p. 15).

 

[Texto 12 474]