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Linguagista

Léxico: «repassa»

Como se estivéssemos na Sibéria

 

    «Os dois responsáveis acrescentam que para lá dos custos inesperados do transporte do bagaço [o que resta da azeitona depois de moída] são obrigados a deixarem ir o caroço (que os lagares retiravam para comercializar para aquecimento) e não lhes deixam fazer a repassa (segundo processo de prensagem da pasta que resta donde se pode extrair azeite refinado)» («Bagaço da azeitona põe setor do azeite ‘a ferver’ em Trás-os-Montes», Afonso de Sousa, TSF, 23.12.2019, 8h24).

      Num país com a olivicultura mais pujante que nunca e os nossos dicionários ignoram estas palavras. Muito estranho...

 

[Texto 12 519]

Eduardo dos Santos

Família Santos

 

      «Uma “caça às bruxas” contra a família Santos» («“Não sei se sou a mulher mais rica de Angola.” Isabel dos Santos diz que nunca foi favorecida pelo pai», Carolina Rico, TSF, 20.12.2019, 14h55). Muito bem, a jornalista acertou — acertou como não acertam revisores, tradutores, autores e outros jornalistas. Logo depois, porém, a própria Isabel dos Santos abre a boca e estraga a pintura: «Se me pergunta se há uma perseguição à família do antigo Presidente dos Santos, sim, há, isso é claro.»

 

[Texto 12 518]

Léxico: «culaque»

Explicando melhor...

 

      Porto Editora, defines culaque/cúlaque como o «fazendeiro ou camponês proprietário de terras exploradas com recurso a trabalhadores assalariados», e dizes que isto se passou na «Rússia do final do século XIX e do início do século XX». É natural: tendo-se tornado proprietários, recorreram a mão-de-obra assalariada, pois, dada a dimensão das suas explorações, não conseguiam fazer todo o trabalho sozinhos. Omites, porém, o principal: o czar Alexandre II (1818–1881) viera no século XIX libertar os servos, camponeses legados ao seu senhor por um contrato que não lhes permitia sequer casar sem a sua autorização. A sua emancipação, em 1861, criou uma classe relativamente próspera de camponeses — os culaques. Após a Revolução de Outubro, os culaques opuseram-se, pudera, à colectivização da terra, lutaram por uma Ucrânia independente, mas em 1929 Estaline pôs em marcha a sua liquidação, que culminou no Holodomor.

      Aproveitemos para lembrar outros russismos ou empréstimos da língua russa: apparatchik, astracã, balaclava, balalaica, barine, boiardo, bolchevique, colcoz (ou kolkhoz), copeque, cossaco, czar, czaréviche, czarevna, czarina, dacha, duma, escorbuto, estepe, glasnost, gulag, lapcha, matrioshka, mazute, menchevique, mujique, nomenclatura, parca, perestróica, pogrom, rileque, rublo, sajene, samoiedo, samovar, soviete, sucare, taiga, tarantasse, telega, terém, tróica, ucasse, verstá (ou verste), vodca, entre outros. Nem todos acolhidos pelo dicionário da Porto Editora.

 

 [Texto 12 517]