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Linguagista

A pontuação já era

Muito curto

 

      No Expresso Curto de ontem, assinado por João Silvestre, editor de Economia, o mais curto é mesmo o conhecimento da sintaxe e, logo, da pontuação. Algumas frases que o demonstram: «Rui Rio foi o mais votado nas eleições de sábado mas ficou a escassas décimas de ganhar à primeira volta.» «Dentro de cinco dias, no próximo sábado, vai defrontar Luís Montenegro que sonha com um resultado à Soares, a lembrar a segunda volta das presidenciais de 1986 quando Mário Soares derrotou Freitas do Amaral numa reviravolta histórica.» «Já Luís Montenegro, que conseguiu sobreviver depois de ter estado quase fora da segunda volta, recusa a ideia de Rio estar mais forte. Entretanto, já recebeu o apoio do líder da distrital de Setúbal que estava com Pinto Luz.» «Está marcada para hoje, às 14 horas, a decisão do debate instrutório de Rui Pinto que está acusado de 147 crimes ligados ao Football Leaks.»

 

[Texto 12 632]

Léxico: «supercrosse»

Outra indocumentada

 

      «Paulo Gonçalves conta no seu currículo com 23 títulos em motocross, supercross e enduro. Foi campeão do mundo de ralis em 2013 e vice-campeão no ano seguinte» («Paulo Gonçalves, o campeão que não deixava ninguém para trás», Ricardo Vieira, Rádio Renascença, 12.01.2020, 13h01).

      Mais uma palavra clandestina, entre tantas, na língua portuguesa, isto é uma alegria. Usa-se no dia-a-dia, mas os dicionários ignoram-na.

 

[Texto 12 631]

Léxico: «canelador»

A Porto Editora não bebe

 

  «Canelador, o cortador de zest. Os citrinos são um dos acompanhamentos mais recorrentes no bem servir de um gin. Este instrumento permite cortar fatias estreitas e longas, habitualmente chamadas de zest, que libertam os óleos essenciais necessários para a bebida» («Preparação ao alcance de todos», «Especial Gin», Sábado, 27.07.2019, p. VIII).

      Hum, vamos pôr isto em português? «Canelador, o cortador de zesto. Os citrinos são um dos acompanhamentos mais recorrentes no bem servir de um gim. Este utensílio de cozinha permite cortar tiras estreitas e longas do vidrado, também chamado zesto, que libertam os óleos essenciais necessários para a bebida.» Agora é contigo, Porto Editora: canelador.

 

[Texto 12 629]

Léxico: «febre»

Para uma definição correcta

 

      «Um novo estudo da Universidade de Stanford afirma que os humanos podem ter arrefecido desde a segunda metade do século XIX e que a temperatura corporal já não é, em média, 37ºC. Após analisar cerca de 667 mil medições de temperatura em mais de 189 mil pessoas, todas norte-americanas, os investigadores concluíram que a temperatura corporal baixou desde os tempos da revolução industrial para, em média, 36,6ºC. Mas mais nos homens do que nas mulheres» («Temperatura corporal média já não é 37ºC. Humanos arrefeceram 0,4ºC nos últimos 160 anos», Marta Leite Ferreira, Observador, 10.01.2020, 13h05).

      Deve dizer-se que, independentemente deste estudo, com resultados, ainda que extrapoláveis, válidos apenas para a população norte-americana, quase todos os nossos dicionários erram na definição de febre — e, assim, erram também os falantes. A definição do dicionário da Porto Editora não cai nesse erro de indicar os 37 ºC, mas não está perfeita: «MEDICINA estado patológico de um organismo animal, que se manifesta especialmente pela elevação da sua temperatura acima do normal». Acima — mas quanto? Normal — mas de quem, dessa pessoa ou da população em geral? A definição que encontro no portal do SNS 24 é a que devia constar em todos os dicionários: «A febre consiste na subida da temperatura de, pelo menos, 1 ºC acima da média da temperatura habitual da pessoa.»

 

[Texto 12 628]

Léxico: «runa»

Não só os caracteres, a própria escrita

 

      «Os vikings já estavam preocupados com alterações climáticas, revela um novo estudo, com base na interpretação daquele que é o texto rúnico mais longo do mundo. [...] A famosa pedra de Rök, erguida no século IX perto do Lago Vättern, no sul da Suécia, possui mais de 700 runas perfeitamente legíveis nos seus cinco lados. Acredita-se que terá sido erguida como memorial de homenagem a um filho morto, mas o significado concreto do texto permanece um mistério» («Runas sugerem que vikings já estavam preocupados com alterações climáticas», Carolina Rico, TSF, 10.01.2020, 12h28).

      Sim, aqui será, como o define o dicionário da Porto Editora, os «caracteres dos mais antigos alfabetos germânicos e escandinavos», mas aquele dicionário não acolhe outro sentido de runa: à própria escrita rúnica também se dá o nome de runa. Mas a definição podia e devia ser mais precisa: «any of the characters of any of several alphabets used by the Germanic peoples from about the 3rd to the 13th centuries» (in Merriam Webster).

 

[Texto 12 627]

Léxico: «brâmane»

Também adjectivo, Porto Editora

 

      «Os anos foram passando, Orlando da Costa foi lembrando que o texto [Sem Flores nem Coroas, de 1967] continuava à espera e a encenadora, que entretanto criou a companhia Escola de Mulheres, achava que ainda não tinha ao seu dispor os meios para dar vida de palco àquela história de uma família brâmane no momento da queda dos territórios indianos que, durante mais de quatro séculos, permaneceram sob alçada portuguesa» («Fernanda Lapa cumpre a promessa e encena Orlando da Costa», Gonçalo Frota, Público, 10.01.2020, p. 37).

 

[Texto 12 626]

Léxico: «omissíssimo»

Interessantíssimo

 

      «Na ilha de Batudaka detectou-se ainda uma nova subespécie, a Cyornis omissus omississimus. Com várias tonalidades de azul, é ainda alaranjada na garganta. O seu nome omississimus quer dizer “o mais esquecido” e é uma referência aos investigadores que nunca repararam nela. E agora, de uma assentada, descobriram dez aves novas para a ciência» («Descobertas dez novas aves canoras em ilhas pouco exploradas da Indonésia», Teresa Sofia Serafim, Público, 10.01.2020, p. 38).

      Sim, significa, é o superlativo absoluto sintético de «omisso». Parece que em português a maior palavra palindrómica é precisamente «omissíssimo». Isto é fácil comprovar; já quanto à frase palindrómica mais extensa, ainda não foi escrita.

 

[Texto 12 625]