Tudo é melhorável
Anteontem, numa reportagem da TVI, mostraram uma zaragatoa e, é claro, não pude deixar de me lembrar da definição que encontramos no dicionário da Porto Editora: «instrumento clínico semelhante a um pincel, geralmente constituído por uma vareta com fios de linho ou algodão hidrófilo numa das extremidades, usado para efectuar colheitas de exsudados, aplicar colutórios, etc.». Nem instrumento nem pincel, como já alertei. «Ele mede-lhe a temperatura, deu 36,8, ela tinha tomado paracetamol, desembainha a zaragatoa do tubo transparente – uma zaragatoa parece uma cotonete, mas maior – enfia-a no nariz da mulher, roda-a, devolve-a ao tubo, etiqueta a amostra e está feito o teste da Covid-19, a doença respiratória causada pelo coronavírus, que seguirá para o laboratório dali, que avia 300 testes por dia» («A luta de um hospital contra o tsunami viral», José Miguel Gaspar, Jornal de Notícias, 5.04.2020, p. 14).
Ontem, foi a vez de o Governo divulgar as orientações para a colocação no mercado de dispositivos médicos e equipamentos de protecção individual. Entre eles estão, naturalmente, as zaragatoas, e a imagem exemplificativa mostra bem que a semelhança com um pincel é nenhuma. A descrição traz outras questões linguísticas interessantes. Assim, diz-se que a zaragatoa deve ser «floculada», o que pretenderá traduzir o inglês flocked. Não seria mais correcto «tufada»? Mais: a ponta deverá ser de material sintético, do «tipo dracon ou rayon, não algodão». Neste ponto, está errado: é dacron, ou, aportuguesado, dácron. No Dicionário de Termos Médicos da Porto Editora aparece num verbete («bolsa de Parsonnet») com a grafia dacron. Quanto a rayon, vemo-lo num texto da Infopédia («síntese de uma fibra - Rayon»), mas no dicionário geral só aparece aportuguesado, raiona, embora num verbete («chenile») usem a variante raiom. Enfim, Porto Editora, há muito por onde corrigir, melhorar e aumentar.
[Texto 13 093]