Aqui há trapalhada
Podemos ter este excerto como ponto de partida: «Belén Rubido de la Torre atraviesa las calles fantasmales de Pontevedra y accede al antiguo edificio judicial de A Parda. Es la juez decana y titular del juzgado de lo Penal 4, especializado en violencia machista. Antes de acceder al inmueble, se enfunda los guantes. “Estamos razonablemente protegidos, con desinfecciones constantes, especialmente en las zonas más transitadas. La Xunta y el Estado nos han enviado una partida con guantes, geles y mascarillas. Yo uso los guantes, me preocupan el ascensor, los picaportes de las puertas...”, explica» («Jueces sin toga para evitar contagios», Cristina Huete, El País, 5.05.2020, p. 41). Conheço o termo picaporte desde sempre e sei há muito que veio do castelhano. Não é um conhecimento livresco, mas sim um saber do dia-a-dia: refiro-me ao picaporte de resbalón. Pois bem, o dicionário da Porto Editora não o regista, mas aproxima-se ao acolher pica-porta: «Açores peça colocada na parte exterior da porta e que serve para bater ou para a puxar; aldraba». De facto, o castelhano picaporte tem todos esses sentidos, mas, ao que parece, o picaporte dos Açores não é isso que a Porto Editora diz: «— “Picaporte”, — ferragem de abrir e fechar a porta sem ligação com a fechadura. Cândido de Figueiredo chama-lhe “pica-porta” e, por inexacta informação, atribui-lhe nos Açores o significado de “aldraba”» (A Fala das Nossas Gentes, José Machado de Serpa. Ponta Delgada: Signo, 1987, p. 31). Tal como também o picaporte de uma parte do Alentejo não é isso, mas exactamente o mesmo mecanismo dos Açores. Pois é. Mais: de onde vem a fantasiosa etimologia («pica+porta») do dicionário da Porto Editora? Se vem do castelhano, o étimo do termo português é picaporte — que terá uma origem também, no caso, vem do catalão. A acepção portuguesa é só uma e a mesma que encontramos no Dicionário da Real Academia Galega: «Barra móbil que xira arredor dun punto fixo e serve para fechar ou abrir unha porta apertando un resorte.»
[Texto 13 280]