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Linguagista

Léxico: «muxiluanda»

Para terminar

 

      Ah, então reparaste, Porto Editora: citei, a propósito de «quilápi», a obra A Muxiluanda, de Maria Celestina Fernandes (n. 1945). Ora, muxiluanda é o nome que tem o natural ou morador da Ilha de Luanda, o que não encontro nos nossos dicionários, vá-se lá saber porquê. «O caso dos muxiluandas, sujeitos a trabalhos forçados desde a reconquista de Angola, mereceu-lhe atenção especial» (Os Capitães-Mores em Angola no Século XVIII, Carlos Couto. Luanda: Instituto de Investigação Científica de Angola, 1972, p. 248).

 

[Texto 13 585]

Léxico: «escalabriniano»

Estamos na fronteira

 

      Estamos em Paracaima, na fronteira entre o Brasil e a Venezuela. Viemos pela BR-174. À nossa frente temos o Centro Pastoral dos Imigrantes, da diocese de Roraima, que tem o apoio do I. M. D. H. e das Irmãs Scalabrinianas. É o que se lê na fachada do prédio. (Não, idiotas, invejosos, não estou mesmo lá, estou a fingir, percebem?) Embora tenhamos — emprestada, porque alienígena — a sequência inicial sc, vê-se por aí, e muito bem, o termo escalabriniano. Então por que raio não aparece em todos os dicionários?

 

 

[Texto 13 584]

Léxico: «biamputado»

É triste

 

      «“Em qualquer doente amputado há todo um treino pré-protético que é necessário efetuar, desde a preparação dos cotos aos ganhos de amplitudes articulares e de força muscular e ao condicionamento ao esforço”, revelou o Exército ao JN, adiantando que “estas condições ainda não estão todas garantidas”. O período de adaptação às próteses é “muito variável” e torna-se ainda mais prolongado num doente biamputado» («Um ano depois, Aliu ainda não usa próteses», João Vasconcelos e Sousa, Jornal de Notícias, 13.06.2020, p. 7).

 

[Texto 13 583]

Léxico: «temor reverencial»

É para isso que servem

 

      «Nenhum ‘hábito cultural’ explica que tenham deixado fechados num quarto, sozinhos, dois gémeos, de 2 anos, e a menina, de 3, sem contacto visual nenhum, a centenas de metros, enquanto estavam na jantarada e nos copos. Só uma espécie de temor reverencial explica que os pais não tenham sido inquiridos por isso”, afirma o professor [Rui Pereira]» («Houve “temor reverencial”», Correio da Manhã, 15.06.2020, p. 11).

      É empregada em acções e processos disciplinares, convinha que os leitores menos preparados — lá está, os mais proclives a experimentarem temor reverencial — pudessem ter a certeza absoluta do seu significado. Isto costuma acontecer quando se consultam dicionários.

 

[Texto 13 582]

Léxico: «charge | chargista»

Obriga a ter «charge»

 

      «Dezenas de chargistas e cartunistas brasileiros se uniram em defesa do colega Renato Aroeira em um ato online durante a tarde desta terça-feira (16)» («Chargistas se unem em apoio a Aroeira, alvo de pedido de investigação do governo», Camila Mattoso e Guilherme Seto, Folha de S. Paulo, 17.06.2020, p. B12).

 

[Texto 13 581]

Léxico: «sitar»

Entre muitos

 

      Faltam-te muitos, muitos vocábulos, Porto Editora. Só para citar um: sitar. «Foi numa das sessões de gravação deste último que, pelas 11 da noite, depois de 12 horas contínuas em estúdio, quando se preparavam para uma cerveja comunitária final, apareceu Stephen McCarthy, dos Long Ryders, de sitar na mão» («Sem regras», João Lisboa, «Revista E»/Expresso, 16.05.2020, p. 70).

      O Ocidente conheceu o sitar graças a Ravi Shankar (1920–2012). O termo vem do hindi, mas a raiz de tudo está no persa, língua em que significa «três cordas». Actualmente, porém, o sitar tem cinco ou sete cordas. Ou seja, o nome não é destino.

 

[Texto 13 580]

Léxico: «quilápi»

Mais português

 

      «A venda a “kilapi”, acordo na qual o cliente pode receber a quantidade de peixe seco que lhe interessa e pagar no final de cada mês, faz parte dos métodos de venda definidos pelo vendedor de peixe seco» («Venda a “kilapi” consta entre os métodos definidos por Rodrigues da Rocha», António Eugénio, Jornal de Angola, 18.06.2020, p. 28).

      Este está no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, mas, como deve ser, com a ortografia aportuguesada, quilápi: «Angola venda a crédito; fiado». «A partir dali correu tudo melhor, no final dos acertos o papá mandou buscar cerveja e vinho de quilápi na taberna e não houve mais makas, o Simão já podia passar em casa, mas o papá ainda não lhe olhava como antigamente, a mim também não, e assim eu evitava dar encontro com ele» (A Muxiluanda, Maria Celestina Fernandes. Lisboa: Prefácio, 2009, p. 31).

 

[Texto 13 579]

Léxico: «varandim»

Tem razão

 

      «Um jovem suspeito de estar infetado com Covid-19 foi esta quarta-feira amarrado a um varandim no Bairro Padre Cruz, em Carnide, Lisboa. De acordo com uma testemunha, o jovem já terá testado várias vezes positivo para a doença, porém sai à rua diariamente» («População amarra na rua jovem suspeito de Covid-19 que circulava em bairro de Lisboa», Correio da Manhã, 17.06.2020, 20h05).

      À partida, chamar-lhe-ia gradeamento (vejam aqui o vídeo). Acabo, contudo, por reconhecer que falta a quase todos os dicionários uma acepção em varandim: plataforma ou terraço delimitado por grade.

 

[Texto 13 578]

Léxico: «estoquista»

Às vezes é mentira

 

      «O estoquista desempregado Gabriel dos Santos Silva, 22 anos, solto no último domingo, garante que estava em casa no dia do crime pelo qual é acusado e que tem imagens que podem comprovar» («‘Eu quero as imagens’, diz acusado de roubo», Gil Santos, Correio da Bahia, 17.06.2020, p. 20).

 

[Texto 13 577]

Léxico: «pradense»

Como é óbvio, existe, faz falta

 

      «Pré-escolar anexa à Escola Básica de Francelos, na Vila de Prado, está no terreno da família Nogueira. Após requerimento à câmara, os proprietários ergueram uma vedação, arrancada logo a seguir pela autarquia. O material foi levado para parte incerta. [...] Entretanto Cristina foi apresentar queixa do furto ao Posto Territorial da GNR da Vila de Prado. No posto, foi aconselhada a voltar no dia seguinte (hoje) pois o militar que estava mais habituado a tomar conta das denúncias só hoje estaria ao serviço. A pradense lamenta a atitude do conterrâneo, que acusa de abuso de poder» («Vila Verde. Família pradense acusa Patrício Araújo de “abuso de poder”», Paulo Moreira Mesquita, Semanário V, 17.06.2020, 14h59).

 

[Texto 13 576]