Fique só pelo árabe
«Em parte, essa suposta autenticidade de Trump ajudou-o a seduzir gente suficiente para negar a presidência a Hillary Clinton: ao passo que Trump era visto como um fanfarrão mentiroso mas ao menos autêntico, Clinton era vista por muito eleitorado (alerta para a misoginia indisfarçada) como uma sabichona pespinenta, evidentemente bem preparada para ser presidente, mas insincera. Essa imagem, e o sexismo inerente a ela, permitiu construir com o episódio uma espécie de caricatura: Clinton era a “marrona”, a melhor aluna da turma que sempre se preparou para passar naquele exame; Trump o gândulo da turma que gosta de armar bulha e humilhar os outros (no outro dia disse-vos que não se podia falar uns minutos em português sem usar árabe e não vos enganei: “gândulo” vem do árabe clássico gandur ou gundur, “jovem mimado e mulherengo que vive sem trabalhar”)» («Trump é uma pessoa horrível (e isso importa)», Rui Tavares, Público, 2.10.2020, p. 44).
A juntar à «nova» ortografia, é já fazer demasiados estragos, não, Rui Tavares? Diz-se pespineta (ou pispirreta) e gandulo, não como deixou aí escrito. Aliás, é inacreditável como foi saber como se escreve em árabe e não o fez para o português.
[Texto 14 086]