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Linguagista

Sobre «anticovid-19»

E a lógica e a coerência, como ficam?

 

      «Centeno é o anti-Costa, no sentido em que é a antítese do animal político. E isso é um trunfo, tanto para o ministro das Finanças, como para o primeiro-ministro» («Centeno, o anti-Costa», André Veríssimo, Jornal de Negócios, 13.04.2017, 00h01). É, salvo num caso, sempre assim: Costa, mas anti-Costa; Cavaco, mas anti-Cavaco. A (aparente) excepção é Cristo — pois temos Anticristo. Adivinharam bem: se a Porto Editora (e todos quantos façam o mesmo) optou por grafar «COVID-19», evidentemente não pode escrever «anticovid-19». Ainda há lógica e coerência.

 

[Texto 14 230]

Sobre «covid-19»

E, a meu ver, muito bem

 

      Há, evidentemente, exemplos em contrário, mas na maioria dos casos creio que se opta pela grafia covid-19: «Haverá um dia de luto nacional para cada morte que se segue? Percebe-se a homenagem que o Governo quer prestar aos mortos, em cemitérios vazios no Dia de Finados e, em particular, às mais de 2200 vítimas mortais da doença de covid-19» («Erro no agendamento do luto nacional», Manuel Molinos, Jornal de Notícias, 23.10.2020, p. 2). «Sabe-se há muitos meses que este outono e inverno seriam muito mais exigentes do que os outros, desde logo porque teríamos uma nova vaga da covid-19 a coincidir com o vírus sazonal da gripe» («Nem a vacina da gripe», André Veríssimo, Jornal de Negócios, 23.10.2020, p. 3). «Entretanto, entre este mês e março de 2021, a Direção-Geral da Saúde vai adquirir mais 100 mil frascos do antiviral Remdesivir para o tratamento de doentes com a covid-19» («Governo aprova novas medidas», Destak, 23.10.2020, p. 4). «Os resultados dos testes realizados na quarta-feira indicaram ontem que Cristiano Ronaldo continua positivo à covid-19, mas a Juventus ainda está esperançada em poder utilizá-lo tanto na Serie A como na Liga dos Campeões» («Ronaldo tem teste decisivo», P. R., O Jogo, 23.10.2020, p. 23). «O número de infecções diárias pelo vírus que provoca a covid-19 continua a somar recordes em vários países europeus: da Áustria à República Checa — países com uma gestão inicial boa da pandemia, mas que ontem registaram 2435 e 14.968 novas infecções, respectivamente —, passando pela Bélgica, onde a notícia do internamento da ministra dos Negócios Estrangeiros, Sophie Wilmès, pareceu sublinhar os avisos que virologistas vêm a fazer desde há duas semanas: que a situação é grave» («Países europeus registam recordes e tentam a todo o custo evitar confinamentos», Maria João Guimarães, Público, 23.10.2020. p. 5). «Foi também oficializada a deliberação que especifica que os profissionais de saúde, educação, ensino superior, social e proteção civil, bem como estudantes do ensino superior e dos programas Erasmus, devem efetuar o segundo teste PCR de despiste à covid-19 entre o quinto e o sétimo dia após o desembarque no aeroporto da Madeira» («Situação de calamidade até 30 de novembro», I. C., Jornal da Madeira, 23.10.2020, p. 3).

 

[Texto 14 229]

Léxico: «lampantana | batata fardada»

Sempre vestida

 

      Numa das emissões do Olhá Festa, a rubrica do Jornal da Noite da SIC, foram a Mortágua, onde mostraram a lampantana, que afirmaram ser um prato típico de Mortágua e que, segundo disseram, terá surgido durante as Invasões Francesas. Ao contrário da chanfana, na lampantana usa-se carne de ovelha ou carneiro. O acompanhamento era batata fardada, o que não encontramos nos dicionários. E mesmo quanto a lampantana, a definição que vemos no dicionário da Porto Editora difere minimamente: «prato típico da região da Beira Alta, preparado com de [sic] carne de ovelha assada em vinho tinto numa caçoila de barro e servido geralmente em dias de festa».

 

[Texto 14 228]

Léxico: «gafanhoto-pigmeu»

Pigmeu

 

      «No primeiro desses artigos, de 2018[,] no Boletim do Museu de História Natural do Funchal, deu a conhecer o primeiro registo da presença do gafanhoto-pigmeu (Paratettix meridionalis) para o arquipélago da Madeira — um trabalho que Miguel Andrade assinou também com António Aguiar. Esta espécie de gafanhoto tinha sido descrita pela primeira vez em 1838, após a descoberta na Andaluzia, em Espanha» («Aos 17 anos Miguel Andrade ajudou a descobrir uma nova espécie na Madeira. Escaravelho», Ana Rita Maciel, Público, 8.08.2020, p. 29).

 

[Texto 14 227]

Léxico: «rachador»

Racha tudo

 

      «David Barbosa, 36 anos, é rachador na Empresa das Lousas de Valongo. Dedica-se a separar a pedra pelas suas diferentes camadas, com uma técnica milimétrica, de palmeta e maço nas mãos, que aprendeu “vendo os mais antigos a fazer”. No trabalho de extração da lousa, este é dos raros setores onde as máquinas ainda não entraram. Uma realidade que durará pouco tempo» («Pedra negra de Valongo continua a “alimentar” gerações», Marta Neves, Jornal de Notícias, 25.10.2020, p. 19). Os rachadores que a Porto Editora conhece só racham lenha, os coitados. É dar-lhes para as mãos palmeta e maço, em vez de machado e cunhas.

 

[Texto 14 226]

Léxico: «salineira»

Nem eu a conhecia

 

      «A produção do sal e peixe na Baía Farta, Benguela, tende a crescer na dimensão requerida pelos planos institucionais, declarou a secretária de Estado para as Pescas durante uma visita realizada, sexta-feira, a três unidades daquele município, duas das quais representam milhares de toneladas de pescado por ano. [...] Ontem, a secretária de Estado concluiu deslocações a salineiras iniciadas no dia anterior, numa região em que são produzidas cerca de 140 mil toneladas de sal por ano, com perspectivas de crescimento para 200 mil toneladas» («Produção de peixe alinhada aos objectivos institucionais», Maximiano Filipe, Jornal de Angola, 25.10.2020, p. 18).

 

[Texto 14 225]

Léxico: «acaio | aqueu»

Essa é a menos usada

 

      «Enquanto isto se passava na Ásia Menor, na Grécia os Romanos e seus aliados venciam e impunham duras condições à Liga Etólia, privando-a da autonomia na condução da política externa; ao passo que a Liga Aqueia passava a ocupar um papel preponderante» (História de Roma Antiga: vol. I: das origens à morte de César, Francisco Oliveira e ‎José Luís Brandão (coord.). Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2015, p. 215). Estranhamente, o dicionário da Porto Editora apenas regista a forma menos usada, acaico. Não se esqueçam de indicar o feminino de aqueu, que é aqueia.

 

[Texto 14 224]

Léxico: «custódio-geral»

Não se chega lá

 

      «Mauro Gambetti, custódio-geral do Sagrado Convento de Assis», segundo a Rádio Renascença, é um dos novos cardeais. Ora, pela consulta do verbete «custódio» nos nossos dicionários, não se chega, nem de perto nem de longe, à conclusão de que custódio-geral é a designação dada ao superior-geral em algumas ordens religiosas.

 

[Texto 14 223]

Léxico: «asmoneu | asmoniano»

Como se não existissem

 

      «Eram sete netos, dos quais cinco rapazes, todos evidentemente de sangue asmoniano» (Gaspar, Belchior & Baltasar, Michel Tournier. Tradução de Virgílio Martinho. Alfragide: Publicações Dom Quixote, 2012, p. 98).

      Por qualquer estranha razão, os nossos dicionários não registam nem asmoneu nem asmoniano. Temos de consultar, por exemplo, o VOLP da Academia Brasileira de Letras para nos certificarmos da sua ortografia. Pobres em tudo.

 

[Texto 14 222]