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Linguagista

Léxico: «debotado»

Boca ou dentes

 

      «O rosto cinza, pregueado de vermelho debotado, os lábios gretados cobertos de viscoso, sorriem sem rir, num esgar de dor mal contida» (Silêncio em Chamas, José de Freitas. Lisboa: Edições 70, 1979, p. 129).

      O problema não está aqui, mas no dicionário da Porto Editora, para o qual o adjectivo debotado significa tão-só «que se tornou áspero (boca ou dentes)». Vou perguntar a Yeo, o coreano meu conhecido, o que acha disto. (Da ausência de «tesourinho» nos dicionários já ele desistiu de inquirir. Para mim já era embaraçoso.)

 

[Texto 14 382]

Um exercício perigoso

Venha o Diabo

 

      O exercício habitual: substituir as expressões em destaque por pronomes. «Tu tens dito mentiras sem querer?» A professora confessou que ainda hoje, com vários anos de ensino, não sabe se é «tem-las», se «tens-las». Ou seja, balança entre o bárbaro e o arcaizante, acertar plenamente é que não.

 

[Texto 14 381]

Léxico: «psicoestimulante»

Mais um científico?

 

      «“Tomo medicação desde os 24 anos e é parecido com usar óculos. Os óculos servem para corrigir e é o que a medicação faz, corrige este défice que não possibilita terminar tarefas e que nos leva a dispersar. O psicoestimulante permite conduzir prestando atenção a coisas tão simples como não deixar o carro ir abaixo, estacionar sem dificuldades, a não acelerar e nem a perder a paciência com outros condutores” [diz André Carvalho, que sofre de perturbação de hiperactividade e défice de atenção]» («Como vivem os adultos hiperativos e com défice de atenção», Vanda Marques, Sábado, 10.11.2019, 20h00).

 

[Texto 14 380]

Como se escreve por aí

Versão piorada

 

      Já tínhamos visto, vezes sem conta, «o Censos», agora, graças ao esforço de um jornalista, há uma versão piorada: «“Sou visceralmente contra dados étnico-raciais, a não ser que viesse alguém dizer que as pessoas por terem a pele mais clara ou mais escura eram − por isso mesmo e não outra razão qualquer − mais vulneráveis a uma determinada doença, o que não é o caso. Não percebo qual a utilidade da recolha destes dados”, diz à Renascença o académico, que integrou a comissão que discutiu a introdução deste tipo de dados no Census» («Recolher dados étnico-raciais ajuda a combater a Covid-19? Uns defendem que sim, outros são “visceralmente contra”», João Carlos Malta, Rádio Renascença, 20.11.2020, 13h30). É inacreditável que um jornalista escreva isto, mas é o que temos.

 

[Texto 14 379]

Como se escreve por aí

Aos pares é sempre pior

 

      «Morreu esta sexta-feira, aos 90 anos, o chefe da Igreja Ortodoxa Sérvia, o patriarca Irinej, devido à Covid-19. [...] Para além de Ireneu, outros líderes de igrejas ortodoxas estão também infetados. O arcebispo Jerónimo, da Igreja da Grécia, de 82 anos, e o arcebispo Anastásio da Igreja Ortodoxa da Albânia, de 91 anos, estão os dois internados na Grécia depois de terem testado positivo. Também esta sexta feira morreram outros dois bispos ortodoxos, o bispo Lázaro, da Igreja Ortodoxa da Geórgia e o metropolita Teofânio da Igreja Ortodoxa da Rússia» («Morreu o chefe da Igreja Ortodoxa Sérvia», Olímpia Mairos e Filipe d’Avillez, Rádio Renascença, 20.11.2020, 9h08). Escrevem seis vezes Irinej e uma vez Ireneu. Isto é normal?

 

[Texto 14 378]

Léxico: «canário-da-terra | macaco-prego-das-guianas | muntíaco-comum»

Só aproximadas

 

      «Foram fiscalizados 156 animais, levantados 10 autos de contraordenação e apreendidas 84 aves, destacando-se 12 canários-da-terra [Serinus canaria], dois papagaios cinzentos, duas gralhas pretas e um corvo. Segundo a GNR, foram também apreendidos um macaco-prego-das-Guianas, um veado vermelho, três cervos muntíaco-comum, quatro chitas (“Axis axis”) e três antílopes-negros» («Quase 100 animais exóticos apreendidos em operação de combate ao comércio ilegal», TSF, 20.11.2020, 12h01).

 

[Texto 14 377]

Léxico: «oficial-general»

Palavra que gostava

 

      «O brigadeiro-general Duarte da Costa é o novo presidente da Autoridade Nacional da Proteção Civil (ANPC)» («Brigadeiro-general Duarte da Costa é o novo presidente da Proteção Civil», Celso Paiva Sol, Rádio Renascença, 18.11.2020, 17h50). «Regina Maria de Jesus Mateus assumiu a direção do HFAR a 23 de julho passado mantendo o posto que tinha, coronel, mas já com a perspetiva de promoção, sendo a primeira mulher a assumir um cargo de oficial-general nas Forças Armadas» («Regina Mateus é a primeira mulher promovida a general nas Forças Armadas», Rádio Renascença, 21.10.2018, 18h18).

      Eu bem gostaria de saber o motivo de, no dicionário da Porto Editora, brigadeiro-general ter hífen e oficial-general não o ter.

 

[Texto 14 376]

Léxico: «otolaringologia | otolaringologista»

Também são científicas?

 

      «Um professor de otolaringologia, Andrew Lane, compara o teste a “nadar e ter cloro nessa zona do nariz”. Mas por vezes as dores podem ser maiores e há quem descreva o teste como se a zaragtoa [sic] “fosse afiada”, como um esfaqueamento» («Porque existem testes de zaragatoa que doem mais que outros?», Diogo Camilo, Sábado, 18.11.2020, 18h09).

      O quê, otolaringologia e otolaringologista não estão no dicionário da Porto Editora?! Ah, contem-me outra.

 

[Texto 14 375]