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Linguagista

Como se pensa por aí

Muito mal

      «Israel e a Pfizer “provaram que a pandemia pode ser derrotada com uma campanha de vacinação em massa”, disse quarta-feira Albert Bourla, CEO da gigante farmacêutica num discurso transmitido por vídeo por ocasião das comemorações do 73.º aniversário (segundo o calendário judaico) da independência de Israel, em que milhares de pessoas, muitas delas sem máscaras, se reuniram em Jerusalém» («Após vacinação em massa, Israel levanta uso obrigatório de máscara na rua», Rádio Renascença, 18.04.2021, 10h31).

      É o resultado do trabalho da redacção com as agências. Então, e segundo o calendário gregoriano, são quantos — 146 anos?

 

[Texto 14 974]

Léxico: «marinharia»

Linguistas de bancada

 

      «Estes passos da carta mostram-nos com que atenção todos os pormenores da marinharia portuguesa eram então observados» (Crónicas de História de Portugal, Luís de Albuquerque. Queluz de Baixo: Editorial Presença, 1987, p. 72).

      Não é necessário um contexto mais alargado, nem aludir aos diversos livros de marinharia, para concluir que é acepção, e das mais comuns, que não está contemplada no verbete marinharia do dicionário da Porto Editora: «1. conjunto de marinheiros; marinhagem; 2. profissão de marinheiro». Ora, este erro, entre milhares de outros, já estava nos dicionários na década de 1990 — porque é que os donos da língua não chamaram nessa altura a atenção para ele e para outros bem piores?

 

[Texto 14 973]

Léxico: «acumulador»

Diagnosticados ou não

 

      «Um acumulador foi encontrado morto em casa, no meio de um monte de lixo até ao tecto, em Birmingham, no Reino Unido» («Homem encontrado morto em casa no meio de pilha de lixo», Correio da Manhã, 17.01.2020, 14h28).

      Nos nossos dicionários ainda não está, só que o encontramos na imprensa — e cada vez com mais frequência — e na literatura. É o hoarder inglês, «someone who suffers from a mental condition that makes them want to keep a large number of things that are not needed or have no value» (in Cambridge Dictionary). Desarranjos mentais...

 

[Texto 14 972]

Léxico: «quimérico»

É bem real

 

      «Deu-se mais um passo na investigação de embriões quiméricos. Em experiências ex vivo, uma equipa de cientistas na China e nos Estados Unidos conseguiu injectar células estaminais humanas em embriões de macacos. Três deles desenvolveram-se até ao 19.º dia. [...] A longo prazo, a equipa espera ainda usar quimeras não só para estudar o desenvolvimento humano inicial e doenças, mas para desenvolver também novas abordagens para se testarem fármacos» («Embriões quiméricos de humano-macaco gerados em laboratório», Teresa Sofia Serafim, Público, 15.04.2021, 17h23).

      Então não sei: foi a 16 de Agosto de 2019 que sugeri à Porto Editora a inclusão deste sentido de quimera no âmbito da biologia. Aparecia somente como termo da botânica e, naturalmente, com outra redacção. Agora o problema é outro: o adjectivo quimérico tem apenas uma acepção, e não suficientemente genérica que abranja cada umas das acepções de quimera — «que não é real; imaginário; fantástico». Não pode ser. Isto precisa de conserto.

 

[Texto 14 971]

Léxico: «formiga-de-asa»

Está na hora

      «Com pequenas nuances, os documentos seguem, no geral, os pedidos feitos na petição, acrescentando-lhe propostas para que haja mais fiscalização, uma campanha de sensibilização junto do público e sugerindo mesmo um plano de monitorização para acompanhar o problema. Já sobre as proibições propriamente, o que se pede (ou sugere, no caso do BE e do PSD) é que seja proibido o fabrico, venda e posse de armadilhas destinadas a “aves silvestres não cinegéticas”, em concreto as armadilhas de mola (usadas para a apanha das aves mais pequenas), a cola com que se prende as aves a galhos de árvores (designada “visgo”), armadilhas destinadas a animais maiores, como aves de rapina, e as redes verticais. Além disso, pede-se também que seja proibida a apanha da formiga d’asa, já que, como é dito no texto da petição, “apenas é utilizada como isco para a captura de aves» («Aves mais protegidas: fabrico, posse e venda de armadilhas perto da proibição», Patrícia Carvalho, Público, 15.04.2021, 19h11).

      Aqui onde me vêem, sou um denodado defensor do apóstrofo, mas não me parece que neste caso obtenham o meu favor. Nunca vi a grafia assinalada. Como nunca vi este himenóptero em nenhum dicionário, mas temos de optar.

 

[Texto 14 970]

Confusão: «reveses/revezes»

Apesar de simples

 

      «Até se chegar a esta unidade de execução, o planeamento urbanístico destes terrenos já sofreu vários revezes. O próprio arquitecto Gonçalo Byrne concluiu, em 1992, um plano de pormenor para a envolvente do Palácio da Ajuda, que previa a conclusão do palácio, a construção de novos acessos, jardins e habitações, mas que nunca entrou em vigor» («Já há planos para terrenos abandonados junto ao Palácio da Ajuda», Cristiana Faria Moreira, Público, 18.04.2021, p. 17).

      Cristiana Faria Moreira, é melhor ver bem isto, que se me afigura demasiado simples para tanta gente cair no erro: o plural de revés é reveses, não revezes. Mais cuidado e mais brio nunca fazem mal.

 

[Texto 14 969]