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Linguagista

Léxico: «namoradeira»

Isso é grave, mas passa

 

      «A associação explicita que a reconstrução do Muro das Namoradeiras envolveu a inventariação de mais de 400 pedras que se encontravam depositadas nas instalações do Metro da Pontinha e que regressaram ao Terreiro do Paço para serem remontadas de acordo com o traçado original. [...] O Muro das Namoradeiras é um muro composto por bancos de pedra quadrados colocados de frente uns para os outros (aos pares) e está localizado junto ao Cais das Colunas, com vista para o Tejo» («Lisboa. Muro das Namoradeiras já está finalizado e recupera charme do passado», Diário de Notícias, 15.04.2021, 16h01).

      Que estas namoradeiras não estejam no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, bem, não é nada de espantar. Ou não, se pensarmos nas muitas outras falhas para que tenho vindo a chamar a atenção.

 

[Texto 14 980]

Léxico: «sociocrático»

Pois claro

 

      «Através de um modelo sociocrático, um espaço de diálogo ordenado com base na tal transparência, que é apoiada por um sistema informático que permite que todas as pessoas da cooperativa saibam o que ganha cada um, o que faz a cada hora, ou quanto custa uma cenoura» («E se vivêssemos na Idade do Ouro?», Alexandra Carita, «Revista E»/Expresso, 29.02.2020, p. 45).

      Por vezes, Porto Editora, só te falta o adjectivo, como é o caso. Se tens sociocracia, é evidente que tens de ter igualmente sociocrático.

 

[Texto 14 979]

Léxico: «asturo- | asturo-galego | asturo-leonês»

Pelo menos

 

      «A língua internacional que conhecemos como “espanhol” provém do castelhano (como o português, do galego-português), língua cujo nome deriva de “Castela”, um dos mais antigos reinos da Península Ibérica, que começou como condado do Reino de Leão, com o qual se fundiu em 1230, dando origem ao Reino de Leão e Castela. Apesar da vetustez de ambas, o leonês e o castelhano tiveram sortes bem diferentes: o castelhano tornou-se língua internacional, mas o leonês, incluído no grupo do asturo-leonês (onde se inclui o mirândes [sic]), foi considerado pela UNESCO em perigo de extinção» («Abril, comemorações mil!», Margarita Correia, Diário de Notícias, 19.04.2021, p. 29).

      Já sei, Porto Editora, que apenas acolhes ásture-leonês, pelo que te falta registar três: o elemento de composição asturo-, asturo-galego e asturo-leonês. Pelo menos.

 

[Texto 14 978]

Léxico: «cardioventilatório»

Mas também existe

 

      «Tomás Braga, de 15 anos, estava no seu bairro, o Sete Castelos, em São Domingos de Rana, quando o colega de escola e vizinho do bairro ao lado, o do Zambujal, o confrontou na rua — o motivo terá sido fútil, uma zanga banal entre jovens. Após uma troca de palavras, o segundo, de 18 anos, deu uma só facada em Tomás. Atingido na artéria aorta, o menor entrou em paragem cardioventilatória. Socorrido por amigos, bombeiros e INEM, não resistiu e foi dado como morto na sua chegada à Pediatria do Hospital de Cascais» («Discussão banal acaba com morte de jovem de 15 anos à facada em Cascais», Sérgio A. Vitorino e João Carlos Rodrigues, Correio da Manhã, 17.04.2021, 9h53).

      Evidentemente, cardioventilatório existe, é usado — mas não está dicionarizado. Seja como for, não se diz sempre «paragem cardiorrespiratória»?

 

[Texto 14 977]

Léxico: «pluvissilva»

O mistério da ortografia

 

      «Entre as árvores das florestas, as de maior biomassa vegetal são as das florestas tropicais de chuva (pluvisilva, do latim pluvia=chuva e silva=floresta) que, por se encontrarem em regiões tropicais, têm o sol não só praticamente na vertical, como também tiram proveito de maior luminosidade, porque os dias são praticamente iguais durante todo ano (12 horas de luminosidade diária)» («Um eucaliptal e um olival não são florestas», Jorge Paiva, Público, 18.04.2021, p. 24).

      Não havia muito por onde errar, dir-se-ia, mas o certo é que errou. Nem uma paulada deita abaixo as regras da ortografia, pelo que se escreverá pluvissilva. Ou será que o biólogo Jorge Paiva escreve, por exemplo, «laurisilva»? Escreverá como quiser, mas é, sem discrepância, um erro.

 

[Texto 14 976]

Léxico: «rajiforme | Rajiformes»

É uma ordem

 

      «“Considerando os dados das capturas efetuadas pela frota portuguesa, das unidades populacionais de raias (Rajiformes) nas zonas oito e nove do ICES – Conselho Internacional para a Exploração do Mar [...], informa-se que a quota provisória atribuída pelo regulamento (UE) 2021/92, atingiu os 80%”, lê-se numa nota divulgada pela DGRM» («Quota da raia atinge 80% e pesca poderá ser encerrada», TSF, 18.04.2021, 11h43).

      «Queria pesquisar ramiforme, ratiforme?», pergunta a Porto Editora. Mas não, é mesmo Rajiformes, a ordem de peixes elasmobrânquios.

 

[Texto 14 975]