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Linguagista

Como se escreve nos jornais

Implodir a língua

 

      «Mas depois lembra-se que há pouco mais de um mês o PM se disse preocupado com a “visão autoflageladora da nossa história”, “as guerras culturais em torno do racismo e da memória histórica” e o risco delas para a “identidade nacional” – para não falar do facto de ainda em 2017 o presidente ter visitado o ex-entreposto esclavagista de Gorée e afirmado que Portugal foi o primeiro país a abolir a escravatura (o comprovativo clássico de que “nós até fomos os bons”)» («Implodir o padrão dos descobrimentos», Fernanda Câncio, Diário de Notícias, 20.04.2021, p. 14).

      Cada um implode o que pode. Há quem o faça com as convenções mais inócuas, mas sem discussão, da língua. Tudo minúsculas, «história», «padrão dos descobrimentos», etc. Vá lá, ainda escrevem o próprio nome — o que me parece uma tremenda vaidade — com maiúscula, mas de resto a rasoira está sempre em acção. Ah, sim, a apropriação colonialista de topónimos estrangeiros também se tornou, da noite para o dia, execranda. Goreia? Qual quê! Agora temos de respeitar os povos (os outros, não o nosso), é Gorée. Espera... mas Gorée é francês...

 

[Texto 15 029]

Léxico: «microestaca»

Amplamente usado

 

      «A obra resulta de um projeto do ITeCons – Instituto de Investigação e Desenvolvimento Tecnológico para a Construção, Energia, Ambiente e Sustentabilidade da Universidade de Coimbra, tendo a empreitada sido confiada à empresa Conduril. Com essa construtora trabalharam ainda as firmas Outside Works, Oliveira e Sá, Edirio, Geoborte Microestacas e Toscca» («A maior ponte pedonal suspensa do mundo fica em Arouca e está prestes a abrir», TSF, 28.04.2021, 11h19).

      Não sejam toscos, é claro que aqui é o nome da empresa, mas também temos o nome comum microestaca, amplamente usado.

 

[Texto 15 028]