Coisas mal explicadas
No domingo, vi na RTP uma parte de um episódio do programa Missão: 100% Português. Vera Kolodzig foi visitar uma fábrica de burel em Manteigas. Ao fim de uns minutos, já estava a ouvir uma palavra que não está nos nossos dicionários: metedeira. E mostraram duas metedeiras de fios a desempenharem a sua função.
Nos dicionários, nada. Ora, pelo menos no caso do dicionário da Porto Editora, vemos um bem próximo: esbicadeira. No que respeita ao burel, não é o único vocábulo fora dos dicionários ou mal explicado. Veja-se este excerto: «À descoberta do burel. Poderia ser este o título do texto no qual nos propomos partilhar com os leitores o percurso de inovação que caracteriza o tecido artesanal português totalmente feito de lã. “Depois de carmeada e cardada, a lã transforma-se em mecha. A mecha é torcida na fiação e transforma-se em fio. O mesmo se passa pela urdideira originando a teia. O tear transforma a teia em xerga. A xerga passa pelo batano e por outros tratos e transforma-se finalmente em burel”. Explicações plasmadas numa folha de sala dedicada a trabalhos em burel» («As novas vidas do burel no mundo da moda», Dulce Gabriel, Jornal do Fundão, 5.12.2018).
Quanto a xerga, a Porto Editora diz que é uma «espécie de burel; estamenha», mas creio que se pode inferir do excerto que é antes uma fase intermédia do processo de fabrico do burel. O vocábulo batano simplesmente não aparece em nenhum dicionário.
[Texto 15 297]