Linguagista

Acolhamo-la

      «Então nada como “juntar o útil ao agradável”, ou, por outras palavras, criar sinergias entre os dois objetivos do programa. Então “fomos buscar a campaniça que é a raça tradicional de ovinos do Baixo Alentejo”, refere Joana Leirão [técnica da Associação de Defesa do Património de Mértola]. A associação pode parecer estranha, mas, só no início. Porque, depois de conseguir a plantação, recolha e extração dos corantes naturais era necessário testá-los. E é aqui que entra a lã da campaniça» («Dar voz às plantas tintureiras», Alexandra Costa, Diário de Notícias, 3.01.2022, p. 15). Não a vejo no redil da Porto Editora.

[Texto 15 845]

Livra!

      Era só uma questão de tempo até me cair no colo: alguém escreveu aqui sobre o «tom abruto» de certa personagem. Alguém — um tradutor! Nasce uma pessoa para ver isto... É como eu digo: se é assim com alguém que, bem ou mal, ganha a vida com as palavras, como será com o cidadão vulgar, mais preocupado com o Instagram e tatuagens e outras merdas que tais?

[Texto 15 844]

Metacronismo, disse ele

      «Quando se assinalou o centenário do nascimento de Vasco Gonçalves, em meados de 2021, chegou a haver uma pequena polémica sobre ter sido ou não um dos seus governos provisórios a criar o subsídio de desemprego em Portugal. Foi ele ou não?» («“Os 14 meses de governos de Vasco Gonçalves mudaram radicalmente a face do país”», Leonídio Paulo Ferreira, Diário de Notícias, 3.01.2022, p. 24). Também se fala, na entrevista a Maria Manuela Cruzeiro (Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra), por ocasião da republicação da biografia Um General na Revolução, do conceito de gonçalvismo — e, no que nos diz respeito, talvez conviesse passar-se a dar mais corpo aos princípios que enformam cada -ismo dos dicionários —, mas não é disso que quero falar agora, mas apenas de um erro: dizes, Porto Editora, na entrada gonçalvismo, isto: «HISTÓRIA, POLÍTICA conjunto de princípios e práticas políticas associadas a Vasco Gonçalves (1922-2005), militar e político português».

[Texto 15 843]

Não, não

      «Tinha acabado de descobrir que o meu filho era surdo profundo, estava grávida de um segundo filho, numa gravidez não planeada com uma suspeita de acretismo placentar que me levou à cama e ao repouso quase absoluto, e tudo à minha volta era confuso» («As estrelas dos hotéis não dão calor», Carmen Garcia, «P2»/Público, 31.10.2021, p. 3). «Queria pesquisar acratismo, acrotismo?» Não. «Queria pesquisar placenta?» Não. Nem nos dicionários de termos médicos...

[Texto 15 842]