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Linguagista

«Desfragmentar» mal usado

Entretanto, em Badajoz

 

      «A rocha de cometa entrou na atmosfera em Espanha, perto de Badajoz, a cerca de 89 mil quilómetros por hora, atingiu milhares de graus e incendiou-se, cruzando o sul de Portugal a cerca de 110 km de altura e desfragmentando-se» («Astronomia. Bola de fogo ilumina o céu do sul de Portugal», Teresa Paula Costa, Rádio Renascença, 23.01.2024, 15h35). Acontece que o verbo desfragmentar pertence unicamente, como boa parte dos 10 343 066 de residentes em Portugal sabe, ao domínio da informática. Portanto, Teresa Paula Costa, por muito complexo que seja o fenómeno, com um simples fragmentar a rocha ficará perfeitamente partida. Isto não é, desinfelizmente ou não, como infeliz e desinfeliz.

 

[Texto 19 285]

Léxico: «ficar na merda»

Dar, fazer — e ficar

 

      Já ouviram, espero, B Fachada nos Prognósticos. Relembro citando: «Uma pessoa que em princípio estava bem/ E de repente ficou na merda/ Idealmente todos teriam lugar/ No céu dos agnósticos.» Também precisamos de vulgarismos, ou não?

 

[Texto 19 284]

 

P. S.: Antes que se me varra: a adenda perfeita para saidinha, ontem dicionarizada, é acrescentar-se que em Portugal se diz saída precária. A lei de 1976, entretanto revogada, é que usava estes exactos termos, mas que ficaram. Agora, a estas saídas breves dá-se o nome de saída jurisdicional de curta duração (até cinco dias). Há todo o interesse em dizê-lo. Já esta semana acabei uma revisão que consistiu em desbrasileirar até ao osso um romance, e é muito útil ver nos dicionários estas designações que divergem das nossas.

 

 

Léxico: «interpaíses»

Mais do que interparoquial

 

      «Durante a festa cinegética decorre também o XVII Prémio Ibérico da Prova de Santo Huberto (caça com perdigueiro) e, igualmente, a XV Copa Ibérica de Cetraria (caça com falcões ou açores) – VI Troféu Interpaíses» («Feira da Caça à espera de quinze mil visitantes em Macedo de Cavaleiros», Olímpia Mairos, Rádio Renascença, 23.01.2024, 8h23).

 

[Texto 19 283]

Léxico: «dorsal anticiclónica»

Não é a cordilheira oceânica

 

       «Los modelos meteorológicos anuncian que se va a desarrollar una dorsal anticiclónica que se encargará de canalizar aire cálido subtropical hacia la Península y que podría dejar valores de récord. Algunas estimaciones señalan que la temperatura del aire a unos 4.000 metros de altura podría ser de cero grados, un valor que resulta propio del verano» («La llegada de aire subtropical a la Península traerá la próxima semana un ambiente primaveral»), X. Fonseca, La Voz de Galicia, 20.01.2024, p. 3).

 

[Texto 19 282]

Definição: «norovírus»

As que temos chegam

 

      «“El norovirus es la causa más frecuente de lo que se conoce como intoxicación alimentaria”, explica Buzón. Son los causantes de la gastroenteritis, la inflamación del estómago y los intestinos. La infección puede ser peligrosa si se da en niños pequeños y personas mayores, ya que puede llevar a deshidratación» («Este es el tiempo de incubación y contagio de las principales infecciones de nuestro entorno», Cinthya Martínez, La Voz de Galicia, 21.01.2024, p. 33).

      Está no dicionário da Porto Editora, mas com uma gralha que pode causar problemas, pelo menos a falantes mais atreitos a confusões ou a prescindirem de usar a cabeça: «BIOLOGIA, MEDICINA designação comum aos vírus do género Norovirus, que inclui o agente responsável pela maioria dos surtos de gastrentrite». Temos gastroenterite e gastrenterite, e chega. Aproveite-se e, já agora, faça-se uma remissão desta para aquela, pois só está o contrário. E a definição podia ser mais completa. Gosto desta da CUF: «A gastroenterite refere-se a uma irritação e inflamação do tubo digestivo, incluindo o estômago e o intestino. As causas mais comuns são agentes virais, bactérias, parasitas e as intoxicações alimentares.»

 

[Texto 19 281]

Léxico: «ransomware»

Não se percebe

 

       «Rhysida, un extraño grupo de ransomware, se atribuyó la autoría del ataque. Ransomware es una combinación entre malware y ransom; es decir, un programa maligno que altera el sistema, cuyos autores reclaman un rescate para restaurar la normalidad. Ya han realizado ataques similares contra instituciones educativas, sanitarias o gubernamentales. Hasta lograron hackear al ejército chileno. La prensa británica ha señalado que la cantidad reclamada a la BL fue de unos 700.000 euros» («La British Library revive tras el mayor ciberataque de su historia», Rafa de Miguel, El País, 22.01.2024, p. 28).

      Como é que este estrangeirismo não está nem sequer nos dicionários bilingues da Porto Editora, quando é usado com tanta frequência — em certas ocasiões, diária — em todos os meios de comunicação social?

 

[Texto 19 280]