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Linguagista

Definição: «leucócito»

Uma maneira de dizer, não é?

 

      Em leucócito, dizes que é o «glóbulo branco do sangue». Bem, só é branco na medida em que não é vermelho, como é o caso dos eritrócitos, que, de alguma maneira, definem o que é sangue. Mais criterioso é, entre muitos outros, o Collins, que o define como «any of the various large unpigmented cells in the blood of vertebrates». Em 1843, o médico inglês William Addison (1803-1881 — não confundir com o mestre internacional de xadrez norte-americano homónimo) até lhes chamou «corpúsculos incolores».

 

[Texto 19 327]

 

 

P. S.: Ontem, afinal, o nosso correspondente sempre foi, e não ex officio, ver e fotografar o Chafariz do Laranjal, no Largo da Trindade. Escusado seria dizer que não encontrou o VSIV de Germano Silva.

 

Léxico: «locorregional»

Sobre anestesia

 

      «Además, según destaca el catedrático [José Ignacio Redondo], “hemos identificado algunos factores que podrían hacer la anestesia más segura, entre ellos, algunos fármacos, como sedantes, analgésicos sistémicos e hipnóticos, que se relacionan con una disminución de la mortalidad. También el uso de las técnicas de anestesia locorregional reduce la probabilidad de muerte, lo que justifica y recomienda su uso, de acuerdo con los resultados obtenidos”» («La mortalidad por el efecto de la anestesia en perros es del 0,69%», R. S., La Razón, 27.01.2024, p. 34).

 

[Texto 19 326]

 

P. S.: Já que se interessam pelo caso, aqui vai: o meu gato está de novo com problemas alérgicos. Ontem, para o tratarem, foi sedado. Já uma vez quase estraçalhava um veterinário. («Sedação cão/gato < 10 kg: 35,00».) É, quase de certeza, até com base em análises do ano passado, alérgico a alimentos. Agora aguardamos pelos resultados do painel nacional de alimentos. («Einno – painel nacional alimentos: 211,00.») Entretanto, Effivet, Dermipred, comida hipoalergénica...

 

Léxico: «molhar a mão»

Em Portugal, ninguém faz isto

 

      «A corrupção varia em escopo e penetrância. Há países em que nenhum cidadão consegue acessar um serviço público, como hospital ou creche, sem molhar a mão de alguém, e há outros, como o Brasil, em que as negociatas se concentram nas altas esferas. No primeiro caso, a percepção é bem direta; no segundo, passa por intermediários, como órgãos de investigação, mídia e o próprio clima político» («O segredo sujo da corrupção», Hélio Schwartsman, Folha de S. Paulo, 31.01.2024, p. A2). (Pelos vistos, Hélio Schwartsman não sabe — ou não quer saber — que penetrância é um termo exclusivamente da genética.)

 

[Texto 19 325]

Léxico: «ecossexualidade | ecossexual | sapiossexualidade»

Mais rótulos

 

      «As diversas formas de amar e as discussões sobre relacionamentos não monogâmicos estão em alta, assim como as orientações sexuais menos conhecidas como ecossexualidade, demissexualidade e sapiossexualidade, que crescem em pesquisas na internet sempre que alguma celebridade se posiciona a respeito» («Celebridades impulsionam interesse sobre orientações sexuais pouco conhecidas», Vitoria Pereira, Folha de S. Paulo, 26.01.2024, p. B8).

 

[Texto 19 324]

Léxico: «enxerto de porrada | autobaixa | puxar pelos/dos galões»

Chama-se azar, creio

 

      «Eu estava exatamente no local para onde a PIDE disparou umas rajadas [cinco mortos e mais de 40 feridos]. Levei um tiro no braço. Tive de ir para o hospital e tiraram-me a bala que tinha ficado alojado no pulso. Felizmente, não me deixou com danos. Mas depois a PIDE foi buscar-me ao hospital e levaram-me para o governo civil. E aí levei um enxerto de porrada. Só saí na madrugada de dia 26 de Abril quando a tropa tomou conta daquela parte e libertou a malta que lá estava.” Fernando Pereira, neste episódio de Ontem Já Era Tarde, conta onde estava no 25 de Abril, dia em levou um tiro que hoje diz ser o seu verdadeiro “atestado de anti-fascista” [sic]. Ouça esta e outras histórias do cantor neste Ontem Já Era Tarde» («Fernando Pereira: “No 25 de Abril, estava no local para onde a PIDE disparou; levei um tiro no braço e tive de ir para o hospital”», Luís Aguilar, Expresso, 1.02.2024, 9h15).

      É curioso — ou apenas anómalo? — que o dicionário da Porto Editora só registe enxerto de porrada em dicionários bilingues. (Quanto ao «atestado de antifascista», não anda longe das autobaixas. Vamos lá ver, qual é o adolescente, agora, em Abril de 1974 ou na Idade Média, que não acorre aonde há confusão? São as pernas que o levam, não a cabeça. Quem pode ver nisto um acto político deliberado, um posicionamento perante a situação que se vive? Teve foi azar, isso sim.)

 

[Texto 19 323]

 

 

P. S.: Lembrei-me agora mesmo dela, e por isso fica já aqui: onde pára, nos dicionários, a expressão puxar pelos/dos galões?

 

Léxico: «bifa»

Que não é apenas forma verbal

 

      Ouçam o que canta Gisela João no Hostel da Mariquinhas: «Tuk-tuk estacionado na entrada/ E o barulho de uma mala de rodinhas/ Arrastada pela calçada, pela bifa acalorada/ Que não sabe que Lisboa tem colinas.» Nos dicionários, só bife — e se calhar não muito bem. Pejorativo é, pois claro, mas será também antiquado? Não me parece. Agora na literatura: «Os vivos ainda intactos viviam bem, havia mais dinheiro do que nunca, os prazeres eram variados e profusos, bifas louras ou belas mulatas no Penguin Bar, incessantes gastronomias, chás que eram refeições de doze pratos sem contar os bolos, até as artes floresciam» (Pedro e Paula, Helder Macedo. Queluz de Baixo: Editorial Presença, 3.ª ed., 2024, p. 97). Não é qualquer falante que sabe que o termo existe. Se, ainda por cima, não estiver nos dicionários, pior.

 

[Texto 19 322]