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Linguagista

Léxico: «mundo»

Será a 16.ª acepção

 

      «Em meados do século X, o Egito, a Síria e a Arábia também foram perdidos, reduzindo o Estado abássida ao governo de apenas algumas partes do Iraque. Nunca mais existiria um regime árabe, dinástico ou moderno, capaz de unir o mundo árabe ou muçulmano» (As Origens da Ordem Política. Dos tempos pré-humanos até à Revolução Francesa, Vol. 1, Francis Fukuyama. Tradução de Ricardo Noronha. Alfragide: Publicações Dom Quixote, 2012, p. 308). Não vejo esta particular acepção de mundo no dicionário da Porto Editora. No caso, mundo árabe (العالم العربي), que se vê com grande frequência.

 

[Texto 19 351]

Conhecem o vesre?

Não invejo

 

      «Nació en los ambientes tangueros a comienzos del siglo XX y ha llegado hasta nuestros días. El “vesre”, por revés, o sea, cambiar el orden de las sílabas en las palabras, se ha consolidado en Argentina como una habilidosa técnica que permite crear un lenguaje propio, una comunicación casi secreta, como construyendo una perspectiva alternativa de la realidad que se coló a través de los ritmos porteños, ha terminado trufando las conversaciones cotidianas y es exhibido, incluso, como recurso estilístico por la Academia Argentina de Letras. Así, “cheno” es la noche, “jermu” es mujer o “raca” es la cara. La oficialización de lo inverso» («“Mochisma”, el nuevo machismo», Alejandra Clements, La Razón, 18.01.2024, p. 5).

      É estranha esta consagração oficial do termo e do recurso. Até no Dicionário da Real Academia Espanhola: «1. m. Ling. Procedimiento de creación de palabras mediante la alteración intencionada del orden de las sílabas o de los sonidos silábicos, como en chepo por pecho, grone o greno por negro, zabeca por cabeza o cirunta por cintura

 

[Texto 19 350]

Definição: «búfalo»

Seria útil

 

      «Se os tótemes são um símbolo dos povos indígenas das costas do Noroeste, os búfalos (um termo incorrecto, mas popular em comparação com o termo correcto “bisonte”) são o símbolo dos índios das pradarias, os que se estabeleceram no sopé das Montanhas Rochosas» («Uma história de tótemes e búfalos», Paolo Moiola, Além-Mar, Fevereiro de 2024, pp. 33-34).

      O meu colega Paolo Moiola tem carradas de razão, pois claro. Mas quem não se refere ao bisonte-americano desta forma errónea? Pois, quem? Até ele o faz no título! A meu ver, o verbete de búfalo nos dicionários devia ter uma nota a chamar a atenção para este facto. Basta ver que até já vi (!) o termo, forjado neste mesmo equívoco, «búfalo-americano».

 

[Texto 19 349]

Um frente-a-frente

Como devia ser

 

      «Está dado o pontapé de saída na maratona de debates televisivos para as legislativas de 10 de março: os dois primeiros entre as três dezenas que vão ter lugar durante as próximas duas semanas. O primeiro frente-a-frente opôs Pedro Nuno Santos (PS) e Rui Rocha (Iniciativa Liberal), na noite desta segunda-feira na SIC, a que um painel de oito comentadores do Expresso reagiu quase prontamente com notas dadas e fundamentadas» («De debate em debate até à vitória eleitoral (e já só faltam 28)», Cristina Pombo, Expresso, 6.02.2024, 8h25). A receita é a mesma: entre saber e não saber, os jornalistas — cada vez mais próximos do vulgo também nisto — lá vão mostrando como acham que deve ser a grafia segundo o Acordo Ortográfico de 1990. Por vezes, como agora, acertam.

 

[Texto 19 348]

Léxico: «rotacista»

Se calhar é

 

      «Patrício tinha 37 anos quando Marcello Caetano o designou para tutelar a pasta dos Negócios Estrangeiros; o último chefe de Governo da ditadura portuguesa queria colaboradores mais jovens para transmitir uma imagem de renovação. Rui Patrício – conhecido por carregar os rrr quando falava – tinha sido um brilhante aluno da Faculdade de Direito de Lisboa e era neto e filho de embaixadores» («Neto de poeta, filho de diplomata, pai de uma apoiante de Lula, morreu Rui Patrício, o último MNE do Estado Novo», Manuela Goucha Soares, Expresso, 5.02.2024, 21h20). Claro que é um defeito de pronúncia, da fala, mas agora é tabu falar-se destas coisas. Não, não é rotacismo, isso é outra coisa, mas aproveito para dizer que os nossos dicionários se esqueceram de rotacista. (Repara, Porto Editora, que tens, por exemplo, o par iotacismo/iotacista.)

 

[Texto 19 347]

Léxico: «neofeminismo | neofeminista»

Não confundir com neofascismo

 

      «O texto deixa-se propositadamente irrigar por ambivalências e contradições. Mais do que especificar o lugar que ocupa no vasto campo do neofeminismo atual, [Anne] Akrich aponta baterias às forças revanchistas que o querem silenciar e lembra que “ainda é preciso uma mutação do inconsciente cultural que enquadra a nossa desvalorização”. Urge reduzir o “desfasamento entre a profundidade das metamorfoses que ele [o feminismo] reclama e a fragilidade dos seus meios”» («A luta feminista: berro ou grito?», José Mário Silva, «Revista E»/Expresso, 10.11.2023, p. 55).

 

[Texto 19 346]

 

P. S.: Se há um efeito ou substância crioprotector, há crioprotecção.