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Linguagista

Léxico: «moção de rejeição»

O tabu

 

      «Pedro Nuno Santos anunciou esta segunda-feira durante o debate eleitoral contra Luís Montenegro que o PS “não viabilizará nem apresentará uma moção de rejeição se existir uma vitória da AD” nas eleições de 10 de março» («Pedro Nuno viabiliza Governo minoritário da AD, Montenegro não esclarece. “Manteve o tabu”, graceja o líder do PS. “Não há tabu”, contrapõe o rival», H. C. L., CNN Portugal, 20h43). Porto Editora, só te falta a moção de rejeição, das três que existem. Esta está prevista no artigo 217.º do Regimento da Assembleia da República.

 

[Texto 19 406]

Léxico: «colarinho-branco»

Evidentemente

 

      «Queixar-se de sofrimentos e privações, de injustiças e descontentamentos é, para as camadas mais baixas da sociedade, a expressão do sentimento íntimo da sua experiência real; mas o rancor daqueles que pertencem às camadas privilegiadas da sociedade (a classe dos poderosos, todo o tipo de elites ou os colarinhos-brancos das cidades) não passa de uma forma de autoentretenimento à mesa de jogo ou no convívio de festas» (Não Tenho Inimigos, não Conheço o Ódio, Liu Xiaobo. Tradução de Maria José Nahan. Alfragide: Casa das Letras, 2011, p. 34). Evidentemente. Não o escrever assim, grafia que se vê nos dicionários brasileiros, é quase obrigar os nossos conterrâneos, vá-se lá saber porquê, a usarem as aspas.

 

[Texto 19 405]

 

 

P. S.: Para terminar, e para quem se interesse, ontem comprei um cartão telado. Quem for dado às artes sabe do que se trata. A propósito, recordo que os estudantes contactam com o conceito de quase-cristal nas nossas escolas superiores.

 

Léxico: «fole-das-migas»

De certeza que não

 

      «— É que uma navalha, como dizem que tem, de palmo e meio, virada ao fole das migas de um cristão, não é brincadeira nenhuma... Tinha que voltar atrás e retirar a bolsa do tojeiro!» (Filha de Labão, Tomás da Fonseca. Lisboa: Publicações Europa-América, 1951, p. 128). Grafo-o como já Gonçalves Viana o fazia — fole-das-migas. Tem é de estar em todos os dicionários ou o pobre falante fica desamparado. E aposto que não o encontrará no TikTok.

 

[Texto 19 404]

Léxico: «judaizar | judaização»

Isso mesmo

 

      «O Hamas disse que esta chacina no Sul de Israel, onde se infiltraram mais de 3000 combatentes, “foi uma resposta à contínua ocupação da Cisjordânia, ao bloqueio da Faixa de Gaza [em vigor desde 2007], à expansão dos colonatos judaicos ilegais, ao objectivo de judaização da Mesquita de Al-Aqsa [em Jerusalém] e ao sofrimento dos refugiados e prisioneiros palestinos” («Guerras velhas, novas guerras», Margarida Santos Lopes, Além-Mar, Março de 2024, p. 19). Falta o nome, como também faltam acepções no verbo.

 

[Texto 19 403]

Léxico: «cuzada | ancada»

E não houve contágio

 

      Li ou ouvi em qualquer lado que, durante a pandemia, Conan Osíris (talvez o António Variações do século XXI, mas primeiro tem de morrer para lhe reconhecerem o mérito), com receio de contágios, cumprimentava a mãe com uma cuzada. Não podes, Porto Editora, dizer que cuzada é apenas o «acto de cair de nádegas» — também é a pancada dada com o rabo, as nádegas. O mesmo que nadegada, pois então. Talvez nem fosse cuzada, mas ancada, que é palavra que não acolhes.

 

[Texto 19 402]

Léxico: «verticalizante»

Quem nunca

 

      «De concepção brutalista e verticalizante devido à exiguidade do terreno, deve-se chamar a atenção para o auditório, de curiosa composição, onde o concreto e o tijolo aparentes dão as formas plásticas da composição» (O Rio de Janeiro e sua Arquitetura, Milton de Mendonça Teixeira. Rio de Janeiro: Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, RIOTUR, 1989, p. 136). Quem nunca leu um texto sobre arquitectura em que se referem os elementos verticalizantes de tal e tal construção? Pois no meu caso, a última vez foi em Dezembro, quando revi uma tese de doutoramento em História, mas sobre arquitectura.

 

[Texto 19 401]

Os donos das frases

Nem pensar

 

      «O músico Pedro Abrunhosa insurgiu-se, ontem, contra o Bloco de Esquerda (BE), acusando o partido de se ter apropriado indevidamente de uma frase da sua autoria no slogan de campanha às eleições de 10 de março. O cantor e compositor terá pedido a intervenção da Sociedade Portuguesa de Autores para a “imediata retirada” da frase de qualquer suporte político ou publicitário» («Abrunhosa atira-se ao BE por causa de slogan», I. M., Jornal de Notícias, 17.02.2024, p. 10). «Fazer o que nunca foi feito», diz o BE. «Fazer o que ainda não foi feito», trauteia Pedro Abrunhosa. Se a frase nem sequer é a mesma, como quer ter razão? Vai perder. Estávamos bem tramados se os tribunais decidissem noutro sentido.

 

[Texto 19 400]

 

P. S.: Ainda persiste uma «delecção» espúria no verbete síndrome do Dicionário de Termos Médicos.