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Linguagista

Léxico: «aluminizar | aluminizado»

Qual fósforo

 

      Viram o edifício (na realidade, dois blocos) que ontem ficou reduzido a cinzas em Valência? Lembrei-me logo de um caso semelhante: a Torre Grenfell, em Londres, no Verão de 2017. A causa para tão diabólica rapidez na propagação do fogo são as placas duplas aluminizadas, separadas por uma resina isolante mas muito combustível, que revestiam o prédio. Não nos esqueçamos que o alumínio é o terceiro elemento químico mais abundante do planeta e o metal mais comum na crosta terrestre. O problema está no material compósito, já que o alumínio é ignífugo. É a minha formação (uma das formações, um dos avatares) em Segurança no Trabalho a assomar. 

 

[Texto 19 421]

Léxico: «tanga»

A gerontocracia contra-ataca

 

      «“Gosto daquele tipo. Britânico, talentoso, as canções estão por todo o lado”, começou por dizer, sem se conseguir lembrar de quem queria mencionar. Com o repórter a sugerir Ed Sheeran, Sir Rod Stewart replicou imediatamente: “Não, não é ele. Não conheço nenhuma das canções dele. Ruivo da tanga, caramba”, atirou, mostrando desprezo pelo artista que, a 16 de junho, encabeça o segundo dia do festival Rock in Rio Lisboa» («Rod Stewart: “Não conheço uma única canção do Ed Sheeran”», Blitz, 10.02.2024, 11h48). Segundo o Independent, terá dito: «When journalist Jonathan Dean suggested Sheeran as the mystery artist, Stewart rejected the thought, saying: “No, not Ed, I don’t know any of his songs, old ginger b****cks. Jesus…”» («Rod Stewart gives withering take on Ed Sheeran’s music», Nicole Vassell, 9.02.2024).

      Não é impressão, caro leitor: o verbete tanga nos nossos dicionários tem de ser revisto, ou crianças e aprendentes estrangeiros da língua poderão andar às aranhas.

 

[Texto 19 420]

Definição: «serafim»

Da hierarquia angélica

 

      Não vamos agora discutir o sexo dos anjos, mas outra questão bem mais ponderosa: a característica distintiva dos serafins. Dizes, Porto Editora, que serafim é o anjo da primeira hierarquia. Verdade. Não dizes é que tem três pares de asas. Três! Prescindimos da função de cada par: com duas cobria o rosto, com duas cobria os pés e com duas voava. Há afortunados que viram claramente vistos estes entes: em 1224, quando São Francisco sobe ao monte Alverne, e por ocasião da festa da Exaltação da Santa Cruz, estando ele a fazer uma Quaresma em honra de S. Miguel Arcanjo, mergulhado em profunda oração, vê pairar sobre si a figura de um serafim — com as suas seis asas. (Imaginação? Sugestão? Abuso de psicotrópicos? Não! Logo após a aparição, o Santo de Assis começou a ver aparecerem no corpo os sinais dos cravos de Jesus Crucificado — daí ser chamado também Alter Christus, um outro Cristo).

 

[Texto 19 419]

Léxico: «orelhuda»

Esta é de ontem

 

      «Nasceu no Porto e foi com o clube daquela cidade que conseguiu o maior feito da carreira. Artur Jorge levantou a orelhuda em 1987, num palco de Viena, graças a um calcanhar argelino. O treinador, que foi também “rei Artur”, morreu esta madrugada, aos 78 anos» («Morreu Artur Jorge, antigo selecionador e campeão europeu pelo FC Porto», Hugo Tavares da Silva, Rádio Renascença, 22.02.2024, 10h18).

 

[Texto 19 418]

Léxico: «mulherona»

Em que se impreca a estatística

 

      Agora vejo mais de uma vez por semana aqui na minha rua uma mulherona monumental a passear um cãozinho. Uma dessas mulheres que a merda da estatística só nos deixa ver uma vez a cada dez anos, se tivermos sorte. (Atribuível também às alterações climáticas?) A Porto Editora, que não a vê nem teria olhos para ela, acha então que mulherona só tem de estar em dicionários bilingues.

 

[Texto 19 417]

Definição: «montanha»

Porque falta rigor

 

      Ontem, em conversa com uma pessoa, comprei mais uma vez como se confunde os conceitos de montanha e de serra. É verdade que o conceito de montanha não é completamente consensual na comunidade científica, mas o mesmo não se pode dizer quanto à diferença entre uma coisa e a outra. Há várias características específicas necessárias para se poder dizer que estamos perante uma montanha, mas sem dúvida que o relevo relativo é a primeira que nos vem à mente. Ora, é precisamente em relação a esta característica que há mais consenso, pois que se considera como limiar os 700 m, ou seja, abaixo disto não se tratará de uma montanha.

 

[Texto 19 416]

O verbo «ir» trucidado

Livra!

 

      Quando se vive tempo suficiente ou se tem muito azar, chega-se a ver um texto jornalístico em que o autor escreve sobre o que «leva a que os cidadãos vaiam além da participação política e social». Vai lá, vai. Vaia. Vaya Con Dios.

 

[Texto 19 415]