Linguagista

Não é o mesmo

      «“Tuvimos la suerte de dar con un internista en Valencia, que nos insistió en hacerle más pruebas hasta dar con el diagnóstico: mandó hacerle una manometría; el médico que se la hizo, cuando vio los resultados, se la repitió dos veces, porque no podía creerlos”» («La sonda que curó a Jordi: “Tengo una nueva vida”», Sara Medialdea, ABC, 27.02.2024, p. 52). Tinha acalásia. E é claro que a manometria da Porto Editora («medida das tensões dos gases e dos vapores, ou pressões dos líquidos, por meio do manómetro») nada tem que ver com a do artigo, que é o procedimento médico em que se mede a pressão em várias partes do tracto digestivo. Já sabem: têm de estar em jejum desde a meia-noite.

[Texto 19 443]

Faz igualmente falta

      «Fátima Abrantes, paleoceanógrafa que trabalha no Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), explica que, “se tal acontecer, os limites das áreas climáticas mudarão. Isto significa que haverá temperaturas mais frias em zonas mais a sul”. Afinal, a AMOC é responsável – através da união com outras correntes – pelo clima mais temperado em Portugal e nos países mediterrânicos, por exemplo. “Se chegar a esse ponto, a entrada de massas de ar frio acaba por ficar comprometida. Há dados do passado, através de outros estudos, que ilustram situações semelhantes e que mostram que esse pode ser o resultado dessa rutura. No fundo, poderá haver uma diminuição do gradiente térmico [que pode ser definido como a diminuição da temperatura do ar, em geral 0,6°C a cada 100 metros]”» («As correntes do Atlântico podem estar a parar. Tudo por causa do aquecimento global», Rui Miguel Godinho, Diário de Notícias, 26.02.2024, p. 16). O dicionário da Porto Editora apenas acolhe gradiente hidráulico.

[Texto 19 442]

Da Idade Média à actualidade

      «Quando cheguei a Coimbra, em 1965, tive um tremendo choque. Era um Portugal pobre, triste, cinzento, amedrontado. Nós éramos os ultramarinos, nem sempre vistos com bons olhos. Tínhamos liberdade no vestir, no convívio com o sexo oposto, na forma alegre e descontraída com que nos expressávamos. Há muito que já usávamos biquíni, bebíamos Coca-Cola, nos sentávamos em esplanadas. As raparigas depressa ganhavam fama de libertinas. Estranhava que não se pudesse abraçar o namorado na rua, a vigilância permanente dos archeiros, polícia da universidade, quando íamos para o Jardim Botânico. A proibição de pisar a relva não tinha boas razões – pretendia apenas evitar que nos deitássemos sobre ela. Depois, um dia, chegou o 25 de Abril. Que festejei e festejo como dia que me abriu as portas da prisão [conta Ilda Moura, professora reformada, nascida em Chinguar, Angola]» («Onde eu estava», Alexandra Tavares-Teles, Diário de Notícias, 26.02.2024, p. 3).

      Conhecidos também como verdeais, eram dirigidos pelo guarda-mor, posto entretanto extinto. Agora já não são um corpo policial, mas meros guardas. E só já existem na Universidade de Coimbra — o que devia estar nos dicionários.

[Texto 19 441]

Voltando ao assunto

      «“A maioria dos pacientes com doença de Cushing apresenta pequenos tumores (microadenomas) na hipófise. O diagnóstico da doença de Cushing pode ser demoroso e a doença deve ser sempre vigiada por um médico especialista em endocrinologia.” A doença é provocada “por um excesso de cortisol ao nível sanguíneo causado por um tumor na hipófise que secreta a hormona adrenocorticotrófica (ACTH), produzida pela glândula pituitária. A ACTH estimula as glândulas suprarrenais (localizadas na parte superior dos rins) a produzir cortisol (a hormona do stress)”» («Atriz Amy Schumer revela ter síndrome de Cushing. Que doença é esta?», Rádio Renascença, 26.02.2024, 17h57).

[Texto 19 440]

Não nos tirem as luas

      «Astrónomos descobriram três novas luas no Sistema Solar, duas na órbita de Neptuno e uma em redor de Urano. As pequenas luas foram observadas com telescópios no Havai, nos Estados Unidos, e no Chile. Com esta descoberta, anunciada pela União Astronómica Internacional, Neptuno passa a ter 16 luas conhecidas e Urano 28» («Astrónomos descobrem duas novas luas em Neptuno e uma em Urano», Expresso, 26.02.2024, 18h26). A Porto Editora é que parece perdida no tempo e no Espaço: afirma que Neptuno tem oito satélites e Úrano cinco. (E tanto escreve «Úrano» como «Urano». Se querem saber, digo e escrevo sempre Urano — que será exactamente a opção da maioria dos falantes, e que, desta maneira, não fica nem confirmada nem infirmada.)

[Texto 19 439]

Aqui há (alguma) diversidade

      À frente dos partidos da direita estão presidentes (PSD, IL, Chega); a dirigir o Partido Socialista e o Partido Comunista estão secretários-gerais; o Bloco de Esquerda tem uma coordenadora a comandar; o PAN tem uma porta-voz, ao passo que o Livre tem dois co-porta-vozes. Apesar de tudo, há aqui alguma diversidade. Infelizmente, isto de nada serve para nos decidirmos, não é? (Aqui ao lado, dispõem de um termo para designar o cargo ou condição de porta-voz: portavocía. ¡Rayos!)

[Texto 19 438]

Houve e há problemas

      «Terá reparado que os candidatos já andam estrada acima, estrada abaixo com as logísticas, as máquinas de comunicação, a entourage e os figurantes, as bandeirinhas e outros adereços, aos beijinhos e aos abraços aos populares que se atravessam pela frente, procurando humanizar-se a cada instante – e que cada instante, esperam eles, seja devidamente registado por uma câmara qualquer. O político encontra e houve os problemas do homem e da mulher comuns: a campanha é o tempo da iconografia» («Vão partir naquela estrada», Pedro Candeias, Expresso Diário, 26.02.2024). É por haver problemas que convinha que o Expresso contratasse revisores. Não há tempo, dizem? Eu li o texto em dois minutos.

[Texto 19 437]