Linguagista

Não é a nossa

      «Não temos uma sociedade preparada para isso, nem uma classe política. É próprio das chamadas democracias consociativas e nós somos, sobretudo, uma democracia maioritária [afirma Conceição Pequito, professora auxiliar no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa (ISCSP-UL), onde lecciona várias disciplinas nas áreas da Ciência Política e Política Comparada]» («Conceição Pequito. “Embora seja uma tese pouco popular, fazia todo o sentido um bloco central”», São José Almeida, Público, 24.12.2023, p. 7). Sendo assim, consociativismo, consociativista, consociativo.

[Texto 19 473]

Isso não se faz

      Quando ontem, no Portugal em Directo, na RTP1, o Dr. Carlos Tavares Bello, da Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo, afirmou que a obesidade é uma doença crónica e recidivante, várias pessoas se precipitaram para o dicionário da Porto Editora, mas em vão: não encontraram nele o vocábulo recidivante. Quer dizer, o dicionário até o usa várias vezes, mas não o define, não o tem como entrada de verbete. Ah!

[Texto 19 472]

Circunstâncias de tempo e espaço

      «São poucos os pescadores de arte xávega – uma forma de pesca artesanal feita com rede de cerco, que decorre entre abril e outubro, na costa entre Espinho e Caparica – que têm acompanhado, em pormenor, a campanha para as eleições legislativas do próximo dia 10. Acima de tudo, porque o setor se sente esquecido e há muito se desiludiu com promessas, nesta e noutras áreas» («Xávega “fora” dos debates afasta pescadores», Zulay Costa, Jornal de Notícias, 3.03.2024, p. 10). Tempo e espaço, é o que falta em todos os dicionários na definição de arte xávega.

[Texto 19 471]

Mistérios

      «Taiwan anunciou ontem um concurso para a construção de novas bases militares no sul da ilha, com o objetivo de conter eventuais incursões chinesas a partir do oeste, informou a agência de notícias estatal CNA. As autoridades da ilha pretendem que estas bases acolham esquadrões navais de mísseis antinavios, que serão equipados com os mísseis Harpoon que Taiwan comprou aos Estados Unidos, em 2020» («Taiwan vai construir mais bases militares», Diário de Notícias, 2.03.2024, p. 22).

      Realmente... Há palavras que nunca se assomam, durante décadas, aos dicionários. Ainda ontem, por exemplo, estive num armazém e por todo o lado só se lia «têxteis-lar». E pode ler-se aqui e ali, com frequência: «Cria têxteis-lar a partir de desperdícios de fábricas» (Ana Correia Costa, Jornal de Notícias, 14.01.2024, p. 24). Nos dicionários? Nada. Ah, sim, é bem menos estranho do que «horeca».

[Texto 19 470]

É isso que queremos

      «“É uma espécie que não tem origem no nosso território. É nativa de África e tem uma distribuição bastante alargada nesse continente”, conta-nos Hany Alonso, técnico da SPEA — Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves, que nos acompanha na visita a um dos territórios do ganso-do-egipto em Lisboa, o Jardim do Campo Grande, ao lado de uma zona universitária. A sua bela aparência — uma plumagem acastanhada e acinzentada, conjugada com bico e patas rosa ou uma mancha à volta do olho — fez com que fosse sendo usada como uma espécie ornamental em jardins, parques ou até colecções privadas. [...] Esta é uma das espécies na lista nacional de espécies invasoras, que está no Decreto-Lei n.º 92/2019, tendo assim restrições na sua compra, venda e introdução na natureza» («Os gansos-do-egipto invadiram os jardins», Teresa Serafim, Público, 4.03.2024, pp. 18-19).

      Informação que servirá para melhorar a definição nos nossos dicionários, que omitem, por exemplo, que se trata de uma espécie invasora. E as características físicas também são mais pormenorizadas.

[Texto 19 469]