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Linguagista

Há uns livros, chamados dicionários, que

Dão muito jeito

 

      Desprémio de Ortografia para artigo de ontem: «Aí percebi que havia, em alguma percentagem da humanidade, uma causa-efeito e que havia sempre a hipótese da nossa liberdade humorística, mesmo que nos parecesse importante, fosse quartada [disse Herman José]» («Herman José recebe medalha de mérito cultural de “Governo hiperdemissionário”», Diogo Camilo, Rádio Renascença, 19.03.2024, 15h46). Disse Herman José, mas escreveu Diogo Camilo, imagino. E escreveu a palavra desta maneira porque evidentemente nunca a viu mais gorda. É coarctar, isto é, restringir; limitar. Boas leituras.

 

[Texto 19 545]

Léxico: «puxável | lensómetro | lensometria»

Não é para medir lençóis

 

      E aqui, na descrição de uns binóculos Vixen, com estabilizador de imagem, leio que as viseiras para oculares, ou seja, as extensões, de borracha ou de plástico duro, para evitar a luz difusa do exterior, são puxáveis. Não podemos deixar que seja apenas João Guimarães Rosa a usar o termo. É o terceiro vocábulo, em pouco tempo, que por aqui passa relacionado com binóculos. Ah, sim, tenho uma paixão por instrumentos ópticos. (Já os óticos não me arrefecem nem aquecem.) Olha, toma mais um que desconheces, Porto Editora: lensómetro.

 

[Texto 19 543]

Léxico: «(não) levantar cabelo»

Outros tempos

 

      «As aulas do professor Soares Martínez eram intragáveis. A ironia que dedicava aos alunos roçava a humilhação. Ninguém levantava cabelo, não se podia falar [conta Rui Gonçalves, antigo jurista do Montepio Geral]» («Onde eu estava», Alexandra Tavares-Teles, Diário de Notícias, 17.03.2024, p. 3). Terá havido alguma vez um só aluno que ficasse com boa impressão deste professor? Parece-me impossível.

 

[Texto 19 542]

 

P. S.: Temos aqui uma ponta solta, Porto Editora, uma fêndula por onde o Universo se pode esvair: dicionarizaste tachão, esqueceste-te de tacha. «A tacha, que também é conhecida como “tachinha de sinalização” é um dispositivo instalado no asfalto e tem como principal função sinalizar locais perigosos, indicar proibição de troca de faixa ou delimitar os limites da pista», leio aqui.

 

Etimologia: «painho-de-monteiro». Léxico: «painho-das-tempestades-de-monteiro»

Dois nomes, afinal

 

      O painho-de-monteiro (Oceanodroma monteiroi), lembraram na sexta-feira na RTP1, recebeu este nome como homenagem ao biólogo e investigador do Departamento de Oceanografia e Pescas (DOP) da Universidade dos Açores Luís Manuel Rocha Monteiro (1962-1999), mas os dicionários omitem a informação. Aliás, diga-se que esta ave tem também o nome de painho-das-tempestades-de-monteiro.

 

[Texto 19 541]

Léxico: «suspensão da descrença»

É o que faria

 

      «Se necessitarmos de um apoio histórico para justificar tal aparato, então citemos o poeta e filósofo inglês Samuel Taylor Coleridge (1772-1834), recordando que ele cunhou a expressão em que se enraíza a mui nobre arte da ficção: suspension of disbelief (à letra: “suspensão da descrença”), ou seja, a aceitação tácita das premissas da ficção de modo a desfrutar a sua lógica interna, acedendo também aos seus enigmáticos prazeres» («Para redescobrir a arte da ficção», João Lopes, Diário de Notícias, 19.03.2024, p. 26).

      Decerto, está no dicionário da Porto Editora, mas sem atribuição de autoria. No caso, eu até mencionaria a expressão em inglês.

 

[Texto 19 540]

Léxico: «tardo-romântico»

Não confundir

 

       «Numa nota publicada no site da Presidência, o gabinete de Marcelo Rebelo de Sousa refere que “mesmo no contexto da geração de 70, a que pertencia, não se parecia com nenhum outro, com os seus versos por vezes longos, discursivos, meditativos, o tom tardo-romântico, as interrogações sobre a noção de poema, mais tarde o pendor evocativo, melancólico ou irónico”» («Morreu o poeta Nuno Júdice», Ricardo Vieira, Rádio Renascença, 17.03.2024, 20h48). Pois, não confundir com tardo-românico, termo da arquitectura.

 

[Texto 19 539]

Léxico: «podridão cúbica»

Não é de Picasso

 

      «Uma árvore da mata da Quinta da Cruz, em Viseu, que tem 151 anos e estava a ser avaliada desde 2016 vai ser abatida hoje, por motivos de segurança. A árvore “mostrou uma degradação progressiva da sua saúde, comprometida por uma podridão cúbica castanha instalada no seu tronco”» («Árvore com 151 anos vai ser hoje abatida», Jornal de Notícias, 19.03.2024, p. 20).

 

[Texto 19 538]

Léxico: «motopico»

Porque tudo tem nome

 

      «“Os trabalhadores andavam a operar um motopico e com o barulho não se deram conta do acidente. Quando viram o rapaz estendido no chão, já era tarde, presume-se que tenha morrido sem qualquer assistência”, explicou ao JN um vizinho do rapaz» («Jovem emigrante morre na moto TT que acabara de comprar», Jornal de Notícias, 19.03.2024, p. 20).

 

[Texto 19 537]