Linguagista

Que boa ideia

      «No decorrer do projeto, vai ser desenvolvido um sistema integrador Cleanup-River, que promove a colaboração entre o município, universidade, cidadãos, empresas privadas e ONG, visando identificar os pontos críticos nos ecossistemas locais de água doce e empregar técnicas ecológicas como, por exemplo, ecobarreiras para a recolha eficiente do lixo nas colunas de água» («Guimarães quer acabar com resíduos plásticos nos rios», Rui Dias, Jornal de Notícias, 24.03.2024, p. 24).

[Texto 19 625]

Isso é que era

      «“Nesta espécie da ordem dos Procellariiformes, o estômago está dividido em duas partes, uma primeira cavidade chamada proventrículo e a segunda é a moela. A passagem entre o proventrículo e a moela é muito estreita. Então estas aves não regurgitam coisas que são indigestíveis, como por exemplo bicos de lula, espinhas de peixe e plásticos”, esclarece a investigadora [Yasmina Rodríguez, do Instituto Okeanos, da Universidade dos Açores]» («Mais de 90% das crias de cagarro têm plásticos no estômago quando saem do ninho», Andréia Azevedo Soares, Público, 3.04.2024, 15h28). Ora aqui está, era precisamente isto que eu queria que os dicionários dissessem em proventrículo, que é a primeira parte do estômago das aves, sendo que a segunda parte é a moela. Deixou de se justificar, na definição dicionarística, a concisão até ao osso e a desarticulação.

[Texto 19 624]

Maus caminhos

      «No Reino Unido, Rachel Reeves, a ministra-sombra das finanças, do Partido Trabalhista, diz que acredita no modelo de “governos activos”. Chama-lhe “securonomics”, que “faz avançar não o grande Estado, mas o Estado inteligente e estratégico”. Uma espécie de Estado-fundo-de-investimento» («Neoestatismo», Henrique Burnay, Expresso, 9.04.2024, 7h13).

[Texto 19 623]

Muitas -ptoses, mas não esta

      «A maioria das gripes passa em menos de duas semanas, mas há complicações como outras infecções (nos ouvidos, por exemplo) ou miocardite (uma inflamação do coração) que continuam a ser alvo da atenção dos cientistas. Uma das estratégias que estão em cima da mesa é o bloqueio da necroptose, um mecanismo para eliminar vírus e outros agentes patogénicos. Este mecanismo é activado quando uma célula humana é infectada e contribui para a resposta imunitária que mata as células infectadas — livrando-nos do vírus, por exemplo» («Novo composto químico promete reduzir mortes provocadas pela gripe», Tiago Ramalho, Público, 11.04.2024, p. 39).

[Texto 19 622]

E coragem?

      «Em vez de fármacos, médico receitou a Mário passeios de trishaw. “Já parece outra pessoa”» (Alexandra Campos, Público, 8.04.2024, p. 10). Vai-se vendo, até na imprensa regional. Sim, também leio alguma. Já li mais. Coragem — ou juízo? — era escrever-se trixó. Do Público não se pode esperar tal, já que escrevem crochet, derby, cannabis e outras que tais.

[Texto 19 621]

Temos muito que aprender

      Na aplicação de meteorologia do iPhone (não sei se em Android é também assim), aparece, lá mais para baixo, informação relativa às fases da Lua. Na semana passada, por exemplo, diz-nos que estamos na primeira giba. Ora, este não é termo e conceito muito conhecido de nós, pelo que importa ver o que está nos dicionários. Diz a Porto Editora: «ASTRONOMIA popular cada uma das fases da Lua entre os quartos e o novilúnio». O falante fica sem saber quantas fases existem. São duas. Duas gibas. Aliás, nesta particular acepção, talvez o termo devesse aparecer no plural, gibas. Duas fases ou oitantes da Lua, antes (primeira giba) e depois (segunda giba) da lua nova. Isso mesmo, vocês estão a ficar cada vez mais argutos: oitante, nesta acepção, não está no dicionário da Porto Editora. No Michaelis: «Cada fase da Lua intermediária entre duas principais. (Há quatro oitantes: primeiro, fase entre a lua nova e o quarto crescente; segundo, fase entre o quarto crescente e a lua cheia; terceiro, fase entre a lua cheia e o quarto minguante; quarto, fase entre o quarto minguante e a lua nova.)»

[Texto 19 620]