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Linguagista

Palavra do dia: «dorial»

Uma vez na vida

 

      «Foi até dorial ouvir frases e palavras que no PS tinham ficado nos textos da Esquerda Laboral (uma pequena minoria interna) que terminou em 1981. E muito pior, o facto de não ter havido um só momento em que a esperança, o sorriso e a poesia se conseguissem entrever» («Comemorações – O imperdoável esquecimento de Mário Soares», Ascenso Simões, Expresso, 26.04.2024, 8h28).

      Não se pode dizer que Ascenso Simões não se esforçou — dorial é termo que apenas encontramos, se tivermos sorte, nas palavras-cruzadas, e em alguns dicionários. Nunca a tinha visto e provavelmente não voltarei a vê-la. Mas valeu a pena, pá.

 

[Texto 19 687]

Léxico: «terratenência»

Não pode passar de hoje

 

      No último Efeito Borboleta, da Antena 1, Joel Neto usou o termo — com que não deparo pela primeira vez, saliento — terratenência, que devia estar dicionarizado, já que existe, porque aparece quase sempre mal grafado: «Estas movimentações foram eminentemente conservadoras, foram manifestações em que foi possível às elites de então instrumentalizar os agricultores, etc., como se estes estivessem a defender os seus próprios direitos, mas, o movimento era sobretudo um movimento de defesa da terratenência, de defesa dos interesses dos grandes proprietários rurais, que, com isso, conseguiram pressionar Lisboa a entregar a autonomia aos Açores, e sob a bandeira da resistência ao recrudescimento do comunismo.»

 

[Texto 19 686]

Etimologia: «podcast»

E algum dicionário o diz? Nenhum

 

      «Em 2004, o apresentador de rádio e TV americano Adam Curry pôs no ar um programa semelhante a uma atração radiofônica, mas veiculado por dispositivos digitais. No mesmo ano, o jornalista britânico Ben Hammersley [n. 1976] cunhou o termo podcast —uma junção de ipod, o hoje extinto tocador de música digital da Apple, com broadcast, transmissão ou radiodifusão em inglês» («Podcast completa 20 anos, mexe com big techs e vive desafios», Fabio Victor, Folha de S. Paulo, 17.03.2024, p. 5).

 

[Texto 19 685]

Léxico: «neuropreservação»

Só o cérebro

 

      «De hecho, según relata el experto, de los cinco españoles criopreservados, tres son de cuerpo entero y dos de cerebro (neuropreservación, en su terminología científica)» («El día que Max congeló a su padre: “Guardo la esperanza de un futuro reencuentro con él”», Ángel Nieto Lorasque, La Razón, 20.04.2024, p. 30).

 

[Texto 19 684]

Falsos amigos: «anecdote»

Está a tornar-se um hábito

 

      Fui ver a peça Últimos Remorsos antes do Esquecimento, de Jean-Luc Lagarce, pelo Teatro Experimental de Cascais. Desta vez, a tradução da obra foi de Alexandra Moreira da Silva, com revisão de Graça P. Corrêa. Mais uma vez, porém, um falso amigo traiu a tradutora e a revisora (que também já caíra no mesmo tipo erro na tradução de Electra, de Eugene O’Neill, também levado à cena pelo TEC), o que já parece uma maldição. Assim, quando a personagem Antoine (encarnada pelo actor Sérgio Silva), marido de Hélène, diz a Anne «j’ai plein d’anecdotes sur la question ne plus me souvenir du nom de quelqu’un que je connais très bien» (Derniers remords avant l’oubli. Besançon: Solitaires Intempestifs, 2003, p. 16), evidentemente não são as nossas anedotas, como foi traduzido, mas historietas, episódios. Se passou este erro, básico, decerto há por lá outros, mas eu não estava lá como revisor, mas como espectador, e não tive acesso ao guião. Quanto ao principal, muito bem, óptima peça, bem encenada, excelentemente interpretada. Não tenho o guião, disse. Tenho, porém, a edição de 2005 dos Artistas Unidos/Cotovia, da «Colecção Livrinhos do Teatro», com tradução da mesmíssima Alexandra Moreira da Silva, em que vejo na página 113 o erro. Não se percebe, pois, o que fez a revisão.

 

[Texto 19 682]

Léxico: «graduado»

Mais sobre o Colégio Militar

 

      «As agressões terão sido infligidas a alunos do 9.º ano de escolaridade do Colégio Militar por parte de “graduados” daquela instituição, ou seja, por alunos do 12.º ano (e alguns do 11.º) numa espécie de “praxe” quando os mais novos estavam a dormir (o episódio terá ocorrido já de madrugada)» («Alegada “praxe” violenta no Colégio Militar está a ser investigada», Público, 20.04.2024, p. 27). «O que é um graduado? Um graduado é alguém que, para além de ser aluno finalista (ou quase), tem a responsabilidade de acompanhar dezenas de outros alunos de anos inferiores, que tem a obrigação de transportar para eles uma história, uma pertença, o garbo de uma farda. Ora, ao CM, direção e associações, deve competir a conjugação desta responsabilidade com a de um sucesso educativo exemplar, a visualização de um caminho para a referência pública. Tal não acontece hoje» («Salvar o Colégio Militar», Ascenso Simões, i, 11.05.2018, 12h17).

 

[Texto 19 680]