Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Linguagista

Léxico: «caranguejo-mouro» e outros mais

Tantos!

 

      Os simpáticos (ou nem por isso, não sei) agentes da Unidade de Controlo Costeiro e Fronteiras (UCCF) da GNR apreendeu no Porto de Pesca de Sines uma tonelada de caranguejo-mouro por falta de rastreabilidade e por ser subdimensionado. O caranguejo-mouro (Pachygrapsus marmoratus) tem outros nomes comuns em português, como caranguejo-das-rochas, corta-camisas, rasga-camisas, arranha-camisas ou rompe-camisas. Como estavam em bom estado, foram devolvidos ao seu habitat, assim como os nomes comuns têm de ir para o seu habitat natural, os dicionários. Pela sua proximidade, lembrei-me de outra palavra que conheço há décadas (ou serão séculos?) e que não encontramos nos dicionários, que é rompe-e-rasga, a falta de cuidado, o estouvamento na forma como se fazem as coisas. Assenta que nem uma luva à maioria das pessoinhas mais novas.

 

[Texto 19 749]

Léxico: «cidade-Estado»

Dúvidas que partilho

 

      «Segundo a Reuters, Giffey, que tem agora a pasta de Economia no governo da cidade-estado, sendo também adjunta do presidente da câmara e co-líder do Partido Social Democrata (SPD, na sigla alemã) de Berlim, sofreu ferimentos ligeiros no ataque» («Política de Berlim é a mais recente vítima de uma onda de agressões na Alemanha», André Certã, Público, 9.05.2024, p. 22). Está certo, Berlim (juntamente com Hamburgo e Bremen) são cidades-Estado (Stadtsstaat). A minha dúvida é se encaixam no conceito de cidade-Estado que sempre conhecemos e cuja definição os dicionários registam, e de que são exemplos Mónaco, Singapura e Vaticano.

 

[Texto 19 748]

Léxico: «rum agrícola»

Feito com o caldo de cana-de-açúcar

 

      «Iolanda Silva faz questão de receber semanalmente da ilha queijadas caseiras de requeijão (2 euros), são deliciosas e diferentes do que normalmente encontramos nas pastelarias. Funcionam muito bem com a poncha de maracujá ou laranja que aqui Iolanda prepara à nossa frente. Sumo natural, mel e rum agrícola produzem uma bebida de grande gabarito, do agrado de todos» («Porta aberta para o paraíso», Fernando Melo, Diário de Notícias, 6.05.2024, p. 29).

 

[Texto 19 747]

Léxico: «corote | pré-candidato | tridestilado» e outras

Como de facto

 

      «Também já simulou sair da pista dirigindo um carro, para mostrar os perigos da desatenção ao volante. Em outro vídeo, aparece ao lado de um frasco de corote, bebida popular em botequins, ao falar que ela não pode ser culpada pelo alcoolismo de moradores de rua» («Pré-candidatos tentam atrair eleitorado com encenações e esquetes», Fábio Zanini, Folha de S. Paulo, 28.04.2024, p. A5).

      A palavra pesquisada não foi encontrada: mas pré-candidatura está lá, Porto Editora. Quanto a corote, não encaixa no que dizem todos os dicionários, e certamente o jornalista sabe mais disto do que nós, que estamos cá longe. Solução? Na verdade, neste caso, trata-se de uma marca comercial, logo, Corote, que consiste num cocktail que leva vodca tridestilada vendida numa garrafa de 500 ml em várias cores e diferentes aromas, com o teor alcoólico de cerca de 13%. Tridestilada... Bem, bidestilado já consta nos nossos dicionários. Nada de novo, há vários uísques tridestilados. Por outro lado, se temos bidestilado e tridestilado, forçosamente também temos de ter bidestilação e tridestilação. Mas ainda corote: admito que, pela sua frequência de uso, porventura pioneirismo também, se tenha tornado nome comum, e daí que se deva equacionar a dicionarização nesta acepção.

 

[Texto 19 746]

Léxico: «hemato-retiniano»

Para não errarem na grafia

 

      «“Esse período foi muito importante para mim e tive a sorte de conseguir identificar uma estrutura extremamente importante, que é a barreira hemato-retiniana”, afirma, referindo-se a uma barreira que evita que substâncias químicas nocivas da corrente sanguínea entrem no olho» («Oftalmologista português José Cunha-Vaz distinguido com prémio nos EUA», Público, 8.05.2024, p. 30). (Ainda bem que perguntam. Não, não se trata de um apelido composto. É meramente por conveniência para uso nas referências bibliográficas. É habitual em autores portugueses que têm artigos em publicações científicas.)

 

[Texto 19 745]