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Linguagista

Léxico: «nem-nem»

Trabalham os velhos

 

      «Portugal tem 8,5% de jovens que não estudam, não trabalham e não estão a frequentar uma ação de formação, conhecidos como “jovens Neet”, revelou esta terça-feira o secretário de Estado do Trabalho» («Geração “nem-nem”: Portugal tem 8,5% de jovens que não estudam nem trabalham», SIC Notícias, 21.11.2023, 19h59).

      Era exactamente assim num texto que falava de «jovens Neet» que revi na semana passada, e claro que substituí por «nem-nem». Ainda para mais o artigo (porque também era um texto jornalístico) não usava o termo português nem explicava o inglês, que significa «not in education, employment or training». Nos meios de comunicação espanhóis — e 60 % de tudo o que leio, vejo e oiço vem de Espanha —, estou sempre a deparar-me com os jovens «ninis, ni estudia ni trabaja».

 

[Texto 19 800]

Léxico: «desfasamento de estações»

Depois queixam-se

 

      «O climatologista Carlos da Câmara explica à Renascença que “segundo alguns estudos, nos últimos 30 anos o início do ciclo vegetativo adiantou-se uma semana. Há outros estudos que dão um adiantamento ligeiramente maior, com dois a três dias por década, o que daria cerca de seis a 18 dias em 30 anos, ou um pouco mais”. Os mesmos estudos demonstram ainda um atraso no Outono, em cerca de um a cinco dias, e um prolongamento do Verão. Aquele que é também denominado de “desfasamento de estações” apresenta vários outros indicadores. “O aparecimento de botões nas árvores é exemplo disso, assim como o começo da postura de ovos pelas aves, que tem vindo a adiantar-se na ordem das duas semanas. Também há registos feitos por satélite acerca do crescimento das plantas mais ligadas à agricultura que mostra que a estação de crescimento se expandiu à volta de 10 a 20 dias”, exemplifica Carlos da Câmara» («Primavera chega cada vez mais cedo. “Alguns pássaros já nem migram”», Marisa Gonçalves, Rádio Renascença, 23.03.2024, 1h41).

      A designação correspondente em inglês, season creep, já está nos dicionários. Cá chegamos sempre mais tarde às coisas. Quando chegamos.

 

[Texto 19 799]

Léxico: «onshore»

Por vezes, é o antónimo que procuramos

 

      O antónimo, offshore, há muito que se usa por cá e o temos nos dicionários. Não pode, pois, faltar este: «Ainda este mês, saiu do porto o navio BBC Livorno, com 15 pás eólicas, rumo à Finlândia. Agenciada e operada pela PTM Ibérica, a embarcação levou a bordo estruturas produzidas na Siemens Gamesa, em Vagos, que é, aliás, a empresa onde é construída grande parte das pás “onshore” – para serem instaladas em terra – que saem de Aveiro» («Porto de Aveiro já movimentou mais de cinco mil pás eólicas», Salomé Filipe, Jornal de Notícias, 28.04.2024, p. 28, itálico meu).

 

[Texto 19 798]

Léxico: «defesa aderente»

De novo

 

      Como o lapso foi meu, que não o publiquei a tempo, repito-o aqui, citando outro trecho do mesmo artigo: «Agora, as ondas batem no enrocamento, construído em 2015 para proteger as habitações do avanço do mar. E até essas sofreram rombos nas mais recentes intempéries de inverno. “Estamos com medo, porque vemos as pedras a ir e o mar avança mais depressa para as casas”, desabafa Prazeres. “O mar lambeu tudo, levou uma duna da altura de uma casa e o passadiço foi à vida”, corrobora Carlos Manuel, 72 anos, que lança a cana de pesca de cima da defesa aderente: “Tem havido muita erosão, aqui, em Cortegaça e em Esmoriz”» («Até “as pedras ficaram todas escangalhadas” no Furadouro», Zulay Costa, Jornal de Notícias, 17.05.2024, p. 11).

 

[Texto 19 797]

Definição: «candomblé»

Também no Brasil

 

      «O candomblé é uma religião afro-americana que, no século XIX, chegou ao Brasil pelas mãos dos escravos oriundos da África Ocidental. Ao contrário do catolicismo, o culto africano era encarado como bruxaria, tendo sido sempre reprimido pela sociedade. Ao longo dos anos, o candomblé foi ganhando expressão e são muitas as personalidades que tornaram púbicas a sua devoção» («Candomblé. Artistas brasileiros dão foco à religião afro-americana», Margarida Cerqueira, Jornal de Notícias, 19.05.2024, p. 44). Os nossos dicionários é que nada dizem sobre a sua natureza sincrética nem sobre a data em que aportou ao Brasil.

 

[Texto 19 796]

Léxico: «milicianização | milicianizar»

Acontece no Brasil

 

      «Habitantes de outros estados que não o Rio de Janeiro podemos tentar nos tranquilizar imaginando que nossa situação não é tão ruim. É verdade que o processo de milicianização das polícias avançou mais no Rio do que em outros lugares, mas a diferença é mais de grau do que de natureza. Em São Paulo, por exemplo, o governador e seu secretário da Segurança Pública parecem estar se esforçando para eliminar todos os vestígios de profissionalismo e respeito à lei» («Boas e más notícias», Hélio Schwartsman, Folha de S. Paulo, 26.03.2024, p. A2).

 

[Texto 19 795]