Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Linguagista

Léxico: «espanglish»

Um esforço para continuar

 

      «La Real Academia Española (RAE) incorporó el término spanglish (o espanglish) a su diccionario en 2014, definiéndolo como una “modalidad del habla de algunos grupos hispanos de los Estados Unidos en la que se mezclan elementos léxicos y gramaticales del español y del inglés”» («Lo ‘cool’ es hablar ‘spanglish’: el ‘idioma’ que amenaza el anglocentrismo en EE UU», Paola Nagovitch, El País, 26.05.2024, p. 47).

      É precisamente espanglish que encontramos no Dicionário de Espanhol-Português da Porto Editora, mas que não aparece no dicionário geral. Não percebo: nenhum termo que esteja em português num bilingue pode estar ausente do dicionário geral.

 

[Texto 19 837]

 

Definição: «empresa-fantasma»

Não estou convencido

 

      «Um quilo de meixão aguenta até 17 horas vivo, sendo entregues em malas de viagem climatizadas. A investigação encontrou empresas-fantasma, constituídas para o transporte do meixão para o Extremo Oriente. Além das 21 detenções (chineses, malaios, portugueses, espanhóis e um senegalês), foram apreendidos mais de 800 quilos de meixão vivo (7,2 milhões de euros a 9 mil €/kg)» («Vendem meixão a 9 mil euros o quilo para a Ásia», Miguel Curado, Correio da Manhã, 27.05.2024, p. 17).

      Bem sei que são ordenamentos jurídicos diferentes, mas veja-se como diferem estas definições de empresa-fantasma. Para a Porto Editora, é a «empresa que, embora esteja registada, não existe de facto, sendo geralmente usada para realizar operações financeiras ilegais»; para o brasileiro Michaelis, é a «empresa sem registro nos órgãos competentes, inventada por pessoas inescrupulosas que se utilizam de notas fiscais e outros documentos frios para aplicar golpes em consumidores ou burlar o fisco». Não haverá aqui confusão, no caso brasileiro, com empresa de fachada, que é outra coisa? Não encontrei nenhuma definição legal, mas o que sei é que nada disto me convence inteiramente. Ou, como digo para lá de Badajoz, no me termina de convencer. (A Porto Editora não indica o plural de empresa-fantasma, e nunca foi tão necessário fazê-lo. Atente-se, por outro lado, que no Brasil se admitem dois plurais.)

 

[Texto 19 836]

 

Plural: «bicho-careta»

Sim, nota-se que não

 

      «Os alunos do Liceu D. Manuel II, do Porto, bafejados pela sorte de contarem com Óscar Lopes entre os seus professores, falavam do mestre com admiração, e até com esse respeito, raro nos adolescentes, que no caso se manifestava independente da inscrição ideológica da família de que provinham. Nascido em Leça da Palmeira, o que explicava a sua inquebrantável ternura por António Nobre, poeta que apesar disso ele incluiria na classe dos pequeno-burgueses reaccionários, Óscar Luso Lopes tornar-se-ia para mim, e misteriosamente, de convívio em simultâneo afectuoso e inacessível. Daí que jamais conseguisse eu tratá-lo pelo nome de baptismo, coisa a que me espantava se afoitassem, e com o maior dos despachos, vários bichos-careta que pouco o frequentavam, mas que para tal se julgavam legitimados pela permissividade pós-25 de Abril» (A Alma Vagueante, Mário Cláudio. Lisboa: Minotauro, 2.ª edição, 2018, p. 103).

      O autor (e o editor) pode sempre desculpar-se com a incúria do revisor — se é que, neste caso, o texto foi revisto —, mas um erro é quase sempre (pelo menos isso) primeiro do autor. Neste caso, mais do que as costas quentes, o revisor terá as costas invisíveis, porque a ficha técnica não dá créditos de revisão. Não, o plural de bicho-careta é bichos-caretas. Para contribuir para que este erro aconteça menos, bem pode a Porto Editora indicar o plural de bicho-careta (e de bicho-careto).

 

 

[Texto 19 835]

Léxico: «ácido trifluoroacético»

Ah, o TFA

 

      «A Rede Europeia de Ação contra Pesticidas (PAN Europa) denunciou hoje que as águas europeias estão massivamente contaminadas com um produto químico persistente, o ácido trifluoroacético (TFA), e pede “ação decisiva”» («Águas europeias contaminadas por produto químico persistente», Rádio Renascença, 27.05.2024, 17h20).

 

[Texto 19 834]

Léxico: «coesite | suevito | impactito»

Entre outras

 

      «O astroblema de Ries é uma cratera de impacto localizada no distrito de Donau-Ries, na Baviera (Alemanha), aberta por um asteróide que ali caiu há cerca de 15 milhões de anos, no Miocénico. Com um diâmetro estimado entre 1 e 1,5 km, este grande impactor vindo do espaço, terá atingido a Terra a uma velocidade na ordem dos 70 000 km/h (cerca de 20 km/s). Deste impacto restou uma depressão circular, ocupada pela cidade medieval de Nördlingen. [...] A coesite foi encontrada no suevito da pedreira de Otting, o impactito criado a partir das rochas sedimentares mesozóicas locais, usada na construção da Igreja de São Jorge de Nördlingen» («Nördlingen, uma cidade no interior de um astroblema», A. Galopim de Carvalho, in De Rerum Natura, 27.05.2024).

 

[Texto 19 833]

Léxico: «papuano»

Assim é que estamos bem

 

      «Mais de duas mil pessoas ficaram soterradas em deslizamentos na província de Enga, no Norte da Papuásia-Nova Guiné, informou o Governo da nação insular do Pacífico Sul, que pediu ajuda internacional para lidar com uma tragédia em que o número de vítimas poderá ser ainda maior» («Deslizamento de terras na Papuásia-Nova Guiné deixa mais de dois mil soterrados», André Certã, Público, 28.05.2024, p. 23).

      Lembram-se de ter aqui trazido o alegado erro no nome daquele país do Pacífico Sul? Não faltam erros e teimosias no Ciberdúvidas, como demonstrei mais de uma vez. Só não há mais polémicas porque deixei de os ler, tal como fiz com outros «especialistas». (Entretanto, a Porto Editora ainda não registou papuano no dicionário geral, isto quando o acolhe em vários bilingues.)

 

[Texto 19 832]