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Linguagista

Como se argumenta por aí

Nada bem

 

      «Entro no TikTok, a rede social que 45,7% dos jovens portugueses usam, e escrevo “eleições europeias”. O primeiro “conteúdo” que aparece é “conscientização eleitoral”. Não conheço ninguém que diga “conscientização”. Não é tão grande como pneumoultramicroscopicossilicovulcanoconiótico, que tem 46 letras e é a palavra mais longa da língua portuguesa — significa doença pulmonar causada pela inalação de cinzas vulcânicas. [...] De volta ao TikTok: quando me apareceu a frase “conscientização eleitoral”, carreguei e apareceu uma app chamada “2024 Centro de Eleições Europeias”. O que é que tem? Um texto com “perguntas frequentes”» («Os vídeos dos políticos no TikTok são do século XIX», Bárbara Reis, Público, 1.06.2024, p. 10).

      Bárbara Reis costuma escrever textos mais escorreitos e com argumentos inteligentes, mas isto... Por acaso eu até conheço quem prefira o termo conscientização a consciencialização, e não são falantes brasileiros. Seja como for, vir depois comparar com a palavra portuguesa mais longa é que não faz nenhum sentido. Que raio... Convinha também que soubesse que «conscientização eleitoral» não é uma frase — está a confundir com a língua inglesa —, mas uma locução. Uma palavra que usa treze vezes no texto é que nem sequer está nos nossos dicionários nem hábitos linguísticos — «curtida».

 

[Texto 19 851]

Léxico: «eduquês»

Até em títulos

 

      «Apesar do percurso que o levou à Suécia, Finlândia, EUA, em estudo ou no desenvolvimento de estudos e projectos educacionais, ou de ter sido consultor da UE, da UNESCO e do Banco Mundial, Santana Castilho sempre foi muito cáustico em relação às abordagens exacerbadamente técnicas da Educação, com as modas, o “eduquês” e com quem ele via como porta-vozes destas tendências. Os últimos responsáveis pela pasta da Educação foram vítimas dilectas dos seus adjectivos afiados e sarcasmo» («Santana Castilho, o professor que detestava o “eduquês”», Álvaro Vieira, Público, 30.05.2024, p. 16).

      Pois então, alguém se esqueceu dele. Como economês, futebolês, internetês, juridiquês, politiquês... Não, maluquês é outra coisa, mas que merece igualmente — mais do que verduriano — estar dicionarizado. Acaso não registam todos malaquês? Fora do baralho, mas também em falta, está maluquez, esta sim mais comum e absolutamente universal.

 

[Texto 19 850]

Léxico: «siamango»

Um grupo muito particular de primatas

 

      «A equipa produziu as sequências completas dos cromossomas sexuais de cinco espécies de grandes símios — o chimpanzé, o chimpanzé-pigmeu, o gorila, o orangotango-de-bornéu e o orangotango-de-sumatra —, bem como de uma outra espécie de primata mais distante dos humanos, o gibão siamango» («Desvendados os genomas completos dos cromossomas X e Y dos grandes símios», Filipa Almeida Mendes, Público, 30.05.2024, p. 29). Então, se o siamango é especificamente um gibão, porque o define a Porto Editora simplesmente como um macaco arborícola?

 

[Texto 19 849]