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Linguagista

Definição: «hipérbole»

Claro que sim

 

      «Predominó la hipérbole, la figura retórica consistente en aumentar —a veces disminuir— exageradamente lo que se relata. Así, de Joselu, autor de los dos goles del Madrid, se dijo que “volvió a demostrar el espíritu inmortal de una escuadra que tiene más vidas que todos los gatos del mundo juntos”» («Hipérboles con pelota», Francisco Ríos, La Voz de Galicia, 18.05.2024, p. 13). Ainda bem que Francisco Ríos fala disto. Ora bem, agora só falta os nossos dicionários corrigirem a definição de hipérbole, já que, de facto, é usada tanto para engrandecer como para diminuir algo. Então não é? Tanto se exagera para mais como para menos. Ou seja, andam a enganar as criancinhas portuguesas há décadas.

 

[Texto 19 858]

Léxico: «microvinificar | microvinificação»

No laboratório

 

      «Um dos protocolos mais antigos da Plansel é com a Universidade de Évora, para microvinificação e ensaios enológicos (e análise dos bagos)» («Sector do vinho discute castas resistentes e o “paradoxo” português», Ana Isabel Pereira, Público, 1.06.2024, p. 35). Experimentalmente, em pouca quantidade, no laboratório, é assim.

 

[Texto 19 857]

Léxico: «liquefactor | liquidificadora»

Alguma coisa sabe quem as faz

 

      Todos vão levar algum pequeno doméstico, uma máquina de café, uma airfryer, etc. «Queres levar a nossa sumeira?», disse, a brincar. «Temos?» Sim, quase nova. Uma compra por impulso. Depois lembrei-me disto: «Quando Luke acabou o novo poema — intitulado, simplesmente, “Soneto” — fotocopiou a folha impressa e mandou-a por fax para o seu agente. Noventa minutos mais tarde regressou do ginásio do rés-do-chão e preparou o seu sumo de fruta especial enquanto o atendedor de chamadas lhe dizia, entre muitas outras coisas, que respondesse a Mike. Luke foi buscar mais uma lima e marcou no selector Talent Internacional. [...] Inclinou-se para tirar a tampa do liquefactor» (Água Pesada, Martin Amis. Tradução de Telma Costa. Lisboa: Editorial Teorema, 2000, pp. 8-9).

      No ano 2000, havia liquificadoras, talvez não se usasse ainda a palavra... Certo é que a tradutora encontrou esta solução sem que fosse levada pelo termo do original, que é «tank». Mas vamos a liquefactor. A Porto Editora, e não está sozinha, diz que é o «aparelho que permite a liquefacção de um gás ou de um fluido no estado de vapor». Portanto, é mais para se ter num laboratório do que numa cozinha doméstica, ainda que nos últimos tempos se confundam ou fundam um tudo-nada estes dois lugares. Basta lembrar El Bulli, de Ferran Adrià. Investigando um pouco mais, vemos que empresas portuguesas que produzem e/ou comercializam utensílios e máquinas para a hotelaria dão o nome de copo liquefactor ao recipiente superior — ao «tank top» do original. Acho que é preciso fazer-se alguma coisa.

 

[Texto 19 856]

Erros de sempre e para sempre

Se tivesse revisão, não acontecia

 

      «Manuel Maria Carrilho ataca de novo, com um livro de ressonância “Zoliana”, intitulado Acuso. E qual é o destinatário da acusação? A Justiça» («Carrilho Zola», Visão, 23.05.2024, p. 19). Há vários adjectivos relativos a Zola — zolesco, zolaesco, zolaísta, zolaico, zolista —, o jornalista tinha logo de inventar um. Não deixa de ser um erro, sejamos claros, mas o pior nem está aí: nós não temos, já o ando a dizer vai para vinte anos, adjectivos próprios, isso é no inglês.

 

[Texto 19 855]

Léxico: «marchar»

Pois, quem diria

 

      Já no ano passado estive para lembrar aqui isto, mas não o fiz, sinal de que não falta matéria-prima. Todos os anos, em vésperas dos Santos Populares, a cerveja Sagres manda para a rua a sua publicidade: «Marcha sempre bem». E pronto, é isto, Porto Editora, não registas esta acepção do verbo marchar. Também já marchou.

 

[Texto 19 854]

Léxico: «muitíssimo»

Invariável mas pouco

 

      «Que fuerísima llamase la atención a algunos no fue porque esté mal o no existan adverbios superlativos, como muchísimo, lejísimos o prontísimo, aunque no son muchos los que se usan. En el caso del de marras, parecería que nada puede estar muy fuera, sino solo fuera o dentro, o totalmente fuera o solo parcialmente. Como al tener un pie dentro y otro fuera, como reza la locución que se aplica al indeciso» («Un fructífero “fuerísima”», Francisco Ríos, La Voz de Galicia, 1.06.2024, p. 13).

      Por isso mesmo é que me parece que pelo menos muitíssimo, que, como outros, é um advérbio graduável, aceitando flexão de grau, devia estar em todos os dicionários. No caso da Porto Editora, muitíssimo só assoma em alguns bilingues.

 

[Texto 19 853]

Léxico: «tocar fogo no circo»

Lá do Norte do Paraná

 

      «De um modo geral, sempre foram os independentes que decidiram eleições. Até pouco tempo atrás, candidatos competitivos moldavam seus posicionamentos justamente para conquistar esse grupo. O resultado era uma certa moderação. Para não desagradar a ninguém, os postulantes fugiam de radicalismos e questões polêmicas. A polarização mudou um pouco essa dinâmica. Um candidato como Trump prefere tocar fogo no circo, radicalizando os eleitores que já têm e os motivando a sair para votar no dia da eleição ou para invadir o Capitólio, dependendo do caso» («Trump condenado», Hélio Schwartsman, Folha de S. Paulo, 1.06.2024, p. A2).

 

[Texto 19 852]