Alguma coisa sabe quem as faz
Todos vão levar algum pequeno doméstico, uma máquina de café, uma airfryer, etc. «Queres levar a nossa sumeira?», disse, a brincar. «Temos?» Sim, quase nova. Uma compra por impulso. Depois lembrei-me disto: «Quando Luke acabou o novo poema — intitulado, simplesmente, “Soneto” — fotocopiou a folha impressa e mandou-a por fax para o seu agente. Noventa minutos mais tarde regressou do ginásio do rés-do-chão e preparou o seu sumo de fruta especial enquanto o atendedor de chamadas lhe dizia, entre muitas outras coisas, que respondesse a Mike. Luke foi buscar mais uma lima e marcou no selector Talent Internacional. [...] Inclinou-se para tirar a tampa do liquefactor» (Água Pesada, Martin Amis. Tradução de Telma Costa. Lisboa: Editorial Teorema, 2000, pp. 8-9).
No ano 2000, havia liquificadoras, talvez não se usasse ainda a palavra... Certo é que a tradutora encontrou esta solução sem que fosse levada pelo termo do original, que é «tank». Mas vamos a liquefactor. A Porto Editora, e não está sozinha, diz que é o «aparelho que permite a liquefacção de um gás ou de um fluido no estado de vapor». Portanto, é mais para se ter num laboratório do que numa cozinha doméstica, ainda que nos últimos tempos se confundam ou fundam um tudo-nada estes dois lugares. Basta lembrar El Bulli, de Ferran Adrià. Investigando um pouco mais, vemos que empresas portuguesas que produzem e/ou comercializam utensílios e máquinas para a hotelaria dão o nome de copo liquefactor ao recipiente superior — ao «tank top» do original. Acho que é preciso fazer-se alguma coisa.
[Texto 19 856]