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Linguagista

Léxico: «passeável»

Não era a última

 

      «Casado e pai de dois filhos na casa dos 30 anos, não carrega neles a sombra de terem de assumir aquela que é a sua paixão. Não que esteja perto de a largar – “ainda hei de conseguir fazer umas coisas”. Como o quê? Pergunto-lhe já quase a terminar o encontro. “Gostava que a Quinta dos Abibes fosse passeável”, dispara imediatamente. Depois explica a palavra “que não existe”: “que fosse um local onde as pessoas quisessem ir dar um passeio, passar um bom dia, passear, desfrutar em contacto com a natureza, ter uma refeição simples e acompanhar a atividade. Gostava que a Quinta dos Abibes fosse um destino aprazível”» («Francisco Batel-Marques, um produtor de espumante que quer a Quinta dos Abibes passeável», Joana Petiz, «DN+»/Diário de Notícias, 19.02.2022, p. 27).

      Não existe? Não existe... Para começar, não me parece a pessoa mais qualificada para falar sobre a língua. («Para fazer o vinho, pus-me nos pés do consumidor e imaginei o que gostaria de saborear.») Como afirma Manuel de Paiva Boléo, com alguns verbos usáveis como inergativos é possível a derivação em -vel: assobiável, passeável, rimável. Destes três, curiosamente, o VOLP da Academia Brasileira de Letras acolhe o último. Para terminar, passeável existe, é usado até na literatura. Mas compreendo, é a força legitimadora da presença dos vocábulos nos dicionários.

 

 

[Texto 19 876]

Ainda o «espanglish»

Os três tipos

 

      «“El primer tipo de spanglish surge del alternar entre los dos idiomas. Es decir, puedo comenzar en una lengua and quickly move to the other because that’s the way mi mente funciona”. La segunda manera es combinar palabras o tomar una palabra en inglés y convertirla en español y viceversa. Medina [investigador linguístico e consultor educativo] da un ejemplo: “Mi palabra favorita es planching, la mezcla entre planchando and ironing”. “Y la tercera forma de movilizar el spanglish es enfocándose en lo sintáctico, como cuando un estudiante dice en inglés, ‘the car blue is going fast’. Esto no quiere decir que no entienda. Quiere decir que entiende demasiado porque está movilizando el orden de las palabras en español: el carro azul. En español, el sustantivo siempre va primero y luego el adjetivo, pero en inglés es diferente”» («Lo ‘cool’ es hablar ‘spanglish’: el ‘idioma’ que amenaza el anglocentrismo en EE UU», Paola Nagovitch, El País, 26.05.2024, p. 46).

 

[Texto 19 874]

Léxico: «abetouro-galego»

Porque são garças

 

      Embora em declínio, encontra-se o abetouro-galego (Ixobrychus minutus) de norte a sul de Portugal. É a nossa garça mais pequena, e por isso é também conhecida por garçote. Não a encontro no dicionário da Porto Editora, onde apenas vejo outro nome comum, touro-galego. Mais (há sempre mais): apesar de nas definições aparecer sempre o nome da família (Ardeídeos), eu não deixaria de dizer que se trata de uma garça.

 

[Texto 19 873]

Léxico: «caixa-ninho»

Elas merecem, pois claro

 

      Já esta semana, num episódio do Minuto Verde, da Quercus, falaram (e mostraram) caixas-ninho para aves. Ainda não lhes perguntaram se elas gostam... Mas sim, imagino que devem gostar. Quando atravesso o Parque Urbano da Ribeira dos Mochos, também olho sempre para um hotel de insectos que lá está. Habitado.

 

[Texto 19 872]

Léxico: «edipal»

Sem complexos

 

      «Como Ana, apesar de tudo, não resistisse a cultivar uma certa ironia maliciosa, teria notado o latente subdiscurso edipal do sentimentalismo de José» (Pedro e Paula, Helder Macedo. Queluz de Baixo: Editorial Presença, 3.ª ed., 2024, p. 28).

 

[Texto 19 871]