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Linguagista

Léxico: «registal»

Registe-se

 

      «Nos termos da lei portuguesa, o apelido do marido é, para sempre, o apelido do marido. Mesmo que conste do documento de identificação de quem o adotou, mesmo que faça parte da identidade pessoal e profissional da pessoa (na maioria das vezes, mulher) que, em adulta, alterou o seu nome. É, para mim, verdadeiramente humilhante, injusto e desnecessário. Seja homem ou mulher a pessoa concretamente sujeita a esta vicissitude registral» («Para sempre o apelido do marido», Leonor Caldeira, Sábado, 6.06.2024, p. 56).

      Portuguesa, advogada, mas depois, ao optar por um termo só usado no Brasil, vê-se que não conhece bem a língua. E se é verdade que não vai encontrar, como devia, o adjectivo registal nos nossos dicionários, também é certo que não tropeça neles com registral — que apenas os dicionários e vocabulários brasileiros acolhem. É como se a analogia, a que também o Direito tanto recorre, não existisse.

 

[Texto 19 882]

Léxico: «hemiprosopometamorfopsia»

Agora é metade

 

      «A revista médica The Lancet relata o caso extraordinário de um doente, na secção “Fotos Clínicas”. Trata-se de um homem de 58 anos que sofre de uma doença muito rara em que as características faciais das pessoas, aos olhos do doente, lhe surgem tão distorcidas que parecem de demónios. A doença chama-se prosopometamorfopsia (PMO).] Em Portugal, a equipa do neurocientista Jorge Almeida, da Universidade de Coimbra, também analisou o caso de um homem com prosopometamorfopsia. Mais exactamente, com hemiprosopometamorfopsia (hemi-PMO). Como a palavra deixará entender, este homem, identificado apenas pelas iniciais A.D., via um dos lados da cara distorcido. Essa metade do rosto parecia estar a descair, como se estivesse a derreter-se» («Doença extraordinária faz com que o rosto das outras pessoas pareça “demoníaco”», Teresa Firmino, Público, 26.03.2024, pp. 26-27).

      Bem, prosopometamorfopsia já o dicionário da Porto Editora regista. Agora é metade disso (apesar de ser maior...). (O último caso de prosopometamorfopsia registado em Portugal foi colectivo, toda a gente via o rosto deformado da cantora Ágata. Ela veio depois esclarecer que usara um filtro na câmara do telemóvel. Lá se malbaratou a reserva de piedade nacional.)

 

[Texto 19 881]

Zero euros, zero graus...

Até custa a sair

 

      «É hora de apontar o dedo para a Prefeitura de Porto Alegre, sob a gestão de Sebastião Melo (MDB), que destinou zero real em 2023 para a prevenção contra enchentes e recusou a contratação de 443 funcionários para o DMAE (Departamento Municipal de Águas e Esgotos) —o qual, desde 2013, foi cortado pela metade. Não é surpreendente, portanto, que o sistema de contenção de cheias, datado da década de 1970, não tenha dado conta» («No RS, é hora de apontar o dedo», Thiago Amparo, Folha de S. Paulo, 9.05.2025, p. A2). Isto é no Brasil a cientificizarem a língua, mas depois o que se verifica é que esta forma de falar sai a contragosto da boca dos falantes. Nós dizemos, e bem, zero euros, zero graus, etc.

 

[Texto 19 880]

Léxico: «refinanciar»

Não tão simples

 

      «O Banco Central Europeu (BCE) decidiu esta quinta-feira cortar os juros em 25 pontos-base (um quarto de ponto percentual), descendo a taxa de refinanciamento para 4,25% e a taxa de remuneração dos depósitos dos bancos comerciais nos cofres do Eurosistema para 3,75%. As novas taxas entram em vigor a partir de 12 de junho» («BCE corta juros pela primeira vez com a inflação acima de 2%», Jorge Nascimento Rodrigues, Expresso Diário, 6.06.2024, 13h19). Aproveitando o mesmo excerto do artigo, devo chamar a atenção para a enganadora simpleza da definição de refinanciar dos nossos dicionários.

 

[Texto 19 879]

Léxico: «ponto-base»

Só há duas formas

 

      «O Banco Central Europeu (BCE) decidiu esta quinta-feira cortar os juros em 25 pontos-base (um quarto de ponto percentual), descendo a taxa de refinanciamento para 4,25% e a taxa de remuneração dos depósitos dos bancos comerciais nos cofres do Eurosistema para 3,75%. As novas taxas entram em vigor a partir de 12 de junho» («BCE corta juros pela primeira vez com a inflação acima de 2%», Jorge Nascimento Rodrigues, Expresso Diário, 6.06.2024, 13h19). É como está, e bem, nas Base Terminológica da União Europeia (IATE), para que a Porto Editora remete no verbete do vocábulo ponto. Seja como for, só há duas formas de escrever isto, e esta é a melhor.

 

[Texto 19 878]

Léxico: «seguir»

É só o dobro

 

      A neta mais velha da minha vizinha ***, encorajada pelo avô, «seguiu jornalismo», disse-me ontem. Por mim, está tudo bem, mas vejo que o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora não acolhe esta acepção do verbo seguir. Vejo, no entanto, que é a 24.ª acepção do Michaelis. Sim, o tamanho importa.

 

[Texto 19 877]