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Linguagista

Léxico: «Hajj | Haje»

Se é que já repararam

 

      «Todos os muçulmanos são chamados a realizarem o ‘hajj’ em Meca pelo menos uma vez na vida, se conseguirem pagar a viagem. O ‘hajj’ consiste numa série de rituais feitos durante quatro dias. Este domingo, o ritual, um dos últimos, consistiu no apedrejamento simbólico de pilares, que representam o diabo e se encontram noutro lugar sagrado de Meca, chamado Mina, onde os muçulmanos creem que a fé do profeta Abraão foi testada quando Deus lhe ordenou a sacrificar o seu único filho, Ismael» («Dezanove fiéis morrem na Arábia Saudita na grande peregrinação anual muçulmana», Expresso Diário, 16.06.2024, 23h29).

      Vem do árabe, informa o dicionário da Porto Editora. Ora, obrigadinho. Devia dizer: «Do árabe حَجّ». Há várias formas de transliterar o vocábulo, mas não nos podemos esquecer de que falamos português e, assim, a melhor grafia — que, note-se, encontramos em vocabulários e dicionários brasileiros — é, sem qualquer dúvida, haje. Isto para começar. Defendo, e pratico, que não se deve grafar em itálico nem entre aspas, mas sim com maiúscula inicial, Haje, à semelhança de outros conceitos religiosos mais preeminentes. Tal como o nome de uma festividade de cariz religioso, por exemplo. Olhem, como se fosse isto: «Jovens atiram tinta em pó no Festival das Cores em Cracóvia, na Polónia. A celebração, que assinala o início da Primavera, é inspirada no Holi, um festival hindu tradicional da Índia» (Público, 9.06.2024, p.11). Já quanto à definição, devia pelo menos indicar-se que se trata do quinto pilar do islão.

 

[Texto 19 928]

Léxico: «mistoforia»

Essa é que é essa

 

      No domingo, fui o (mais ou menos) paciente receptáculo de uma longa súmula da matéria de História da Cultura e das Artes, cujo exame nacional foi anteontem. E lá veio à baila a mistoforia, a remuneração pelo desempenho de cargos públicos, instituída por Péricles, que governou Atenas de 461 a 431 a. C. Não a vejo nos nossos dicionários, mas usa-se nos manuais.

 

[Texto 19 927]

Léxico: «lava-roupa | planta»

O que não tem nada de mal

 

      «Para a Gtex, reviver o Ace é uma estratégia para ampliar participação entre os lava-roupas, segmento em que os produtos em pó respondem por 80% do total. “Como categoria, os lava-roupas representam metade de tudo o que se vende de produto de limpeza no nosso país”, diz Talita Santos, CEO da Gtex. A companhia brasileira fabrica o popular Urca e é referência em sabão de coco, com os rótulos Ufe e Ruth Care. A Gtex tem hoje oito plantas fabris e cinco centros de distribuição, o mais recente deles inaugurado em 2023, em Guarulhos, na Grande São Paulo» («Detergente em pó Ace volta aos supermercados após oito anos», Fernanda Brigatti, «Mercado»/Folha de S. Paulo, 17.06.2024, p. 6). Quanto a planta (fabril), se se diz de facto assim, é claramente um castelhanismo semântico.

 

[Texto 19 925]

Léxico: «(não) se ensaiar»

Porque não é só isso

 

      «E a mania que tem de se meter na minha vida com perguntas sem jeito nenhum, e os disparates que não se ensaia nada para fazer no meio da rua, envergonhando qualquer homem que a acompanhe!...» (Imitação da Felicidade, Urbano Tavares Rodrigues. Lisboa: Publicações Europa-América, 3.ª edição revista, s/d, p. 25). No dicionário da Porto Editora, isto precisa de ser revisto e aumentado.

 

[Texto 19 924]